Educação

Mês do educador: falta de autocuidado tem afastado profissionais das salas de aula por esgotamento mental

Situação intensificada no período pós-pandemia apresenta números cada vez mais alarmantes

Por Assessoria 29/10/2024 15h48
Mês do educador: falta de autocuidado tem afastado profissionais das salas de aula por esgotamento mental
Cícero Filgueira - coordenador pedagógico da Hug Education - Foto: Divulgação

O mês de outubro é marcado pelo Dia do Professor e nesse período é necessário olhar com mais cuidado sobre o papel do educador no ambiente escolar e sua saúde mental, especialmente. Os profissionais da educação naturalmente já sofrem com mais pressão, que podem afetar o emocional, justamente por lidar com vidas em formação e com a responsabilidade de educar crianças e adolescentes.

Infelizmente, esses obstáculos têm um impacto negativo em sua saúde mental e autocuidado, visto que nem sempre recebem o apoio necessário diante dessas dificuldades. Os níveis elevados de estresse, devido à carga de trabalho intensa, demandas administrativas, responsabilidades com os alunos e prazos apertados, devem ser uma preocupação também da escola em relação a seus funcionários.

O coordenador pedagógico da Hug Education, Cícero Filgueira, ressalta a importância do cuidar de si próprio para poder realizar a função de educador. “Quando a gente cuida de nós mesmos, a gente consegue proporcionar o cuidado com o outro com mais eficácia. O autocuidado não é um egoísmo, é na verdade o se preocupar com o seu trabalho”, pontua.

Além disso, a pandemia se tornou um período de mudanças muito grandes no modelo de ensino, o que deixou marcas até os dias atuais. “Muitos professores tiveram que fazer adaptações profundas na sua didática, no seu manejo de trabalho durante esse período. Os profissionais tiveram aprender a editar vídeo e usar ferramentas tecnológicas para dar aulas online, o que acabou os pressionando mais, ocasionando em um aumento do adoecimento dos professores”, salientou o coordenador pedagógico.

Uma pesquisa feita pela Nova Escola mostrou que cerca de 60% dos professores apontaram uma ansiedade elevada no período pós-pandemia. Ademais, os resultados não vêm reduzindo como o esperado. Em São Paulo, por exemplo, o número de afastamento de professores por conta da saúde mental também foi muito elevado, influenciado por vários fatores presentes no cotidiano da profissão.

Um conjunto de ações específicas pode contribuir para o fortalecimento do autocuidado dos educadores, como momentos de pausa, respeito pelos limites de lazer e trabalho; apoio de gestores e alunos, com a criação de um ambiente de trabalho que promova o bem-estar e suporte emocional; e reconhecer os seus limites e compartilhar experiências, expondo assim os sentimentos e angústias da profissão.

De acordo com Cícero Filgueira, outro problema está na transferência de responsabilidades das famílias para as escolas, o que gera uma sobrecarga ainda maior para os professores. “Muita gente até fala que muitas famílias encaram as escolas como depósitos de crianças. E isso também adoece o professor, que acaba absorvendo mais funções do que deveria. Na prática, o professor é confundido compsicólogo e ensinando a socialização básica, como pedir com licença, por favor e obrigado. Também tem toda uma questão de não conseguir lidar com a rotina, já que constantemente o professor leva serviço para casa, seja a preparação da aula do outro dia ou a correção de uma prova”, destaca.

O especialista ainda ressalta que em alguns casos o adoecimento mental afasta os professores definitivamente das salas de aula. Em geral, as maiores afetadas são as mulheres, justamente pela sobrecarga de trabalho com uma rotina profissional e de atividades domésticas.

“A gente vê um número muito alto de professores sendo diagnosticados com Síndrome de Burnout, que é o esgotamento do trabalho onde simplesmente não se consegue mais executar uma função ao qual está muito acostumado a fazer. Às vezes eles conseguem voltar para a sala de aula, mas varia muito de acordo com a gravidade da situação. É preciso do autocuidado, seja ele com o sono, alimentação, corpo, mente e espiritualidade. Os relacionamentos interpessoais positivos também impactam bastante nesse processo”, conta.

Priorizar o autocuidado é uma necessidade para garantir que os professores possam continuar a fazer a diferença na vida de seus alunos. Professores saudáveis emocionalmente são mais capazes de oferecer um ambiente de aprendizado positivo e inspirador.

Por fim, o coordenador pedagógico enfatiza que muitas das questões que geram esse esgotamento vêm de questões sociais de valorização da profissão. “É uma profissão que desde o infantil ao ensino superior apresenta casos de sobrecarga e adoecimento por conta de uma pressão exacerbada. Por isso o descanso também deve ser muito importante, aproveitar esses momentos sem pensar no trabalho para não gerar uma sobrecarga mental. Até porque sabemos que são profissionais que pra ter uma renda boa vão trabalhar todos os horários do dia e em diferentes locais, o que não proporciona um descanso. E assim surge o adoecimento dessa classe”, finaliza.