O professor Rodolfo Lima, do curso de Administração da Faculdade de Administração, Economia e Contábeis (Feac) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), está à frente de uma importante pesquisa que examina os destinos dos trabalhadores canavieiros que foram deslocados do mercado de trabalho devido à redução do cultivo de cana em Alagoas. A pesquisa, intitulada Por onde andas e o que fazes? A vida depois do canavial, foi aprovada para financiamento na Chamada CNPq/MCTI Nº 10/2023.

Para o pesquisador, esta aprovação de financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) estimula a dedicação à produção científica e revela uma retomada dos investimentos em pesquisa. “Principalmente depois de um passado recente de desfinanciamento da Ciência brasileira, essa volta dos editais é extremamente importante. Não se consegue fazer pesquisa de qualidade sem os recursos. Neste caso particular da minha pesquisa, queremos conhecer a nossa realidade para intervir nela”, pondera Rodolfo.

A equipe do projeto é formada por pesquisadores com formação em diversas áreas, como Economia, Psicologia e Sociologia. “Todos os integrantes possuem pesquisas sobre o universo canavieiro nos seus currículos. Além disso, são pesquisadores com atuação nacional e internacional. São eles: Allan Souza, Cassiano Rumin, Charles dos Santos, Rodrigo Pereyra e Tainá Reis. Conta-se, também, com a participação do bolsista Danilo Santos do curso de Ciência da Computação, do Campus Arapiraca”, informa Rodolfo.

A pesquisa utiliza microdados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) entre 2008 e 2020. “A reestruturação produtiva do setor sucroalcooleiro, marcada pela mecanização, resultou na diminuição significativa de postos de trabalho para atividades manuais. Diante desse cenário, a pesquisa busca entender quais são as estratégias de sobrevivência social adotadas por esses trabalhadores após a exclusão do mercado canavieiro”, explica o pesquisador.

Metodologia e Abordagem

O estudo combina métodos quantitativos e qualitativos para analisar as dinâmicas do trabalho no pós-canavial. A parte quantitativa envolve a mineração de dados utilizando programação em Python, com o intuito de mapear o perfil dos ex-canavieiros e suas novas inserções no mercado de trabalho. O recorte territorial se concentra na microrregião de São Miguel dos Campos, um dos maiores polos de produção de cana-de-açúcar do estado.

Na abordagem qualitativa, serão realizadas entrevistas semiestruturadas e observação direta, buscando captar as experiências e emoções dos ex-trabalhadores. Além disso, a pesquisa considera a interseccionalidade de classe, raça e gênero, reconhecendo as complexas relações que permeiam a vida desses indivíduos. “ancorados nos princípios da História Oral, tratamos sobre os sujeitos tanto em suas interações quanto em seus discursos, o que possibilita o registro das emoções advindas das narrativas, reveladoras do atravessamento subjetivo de processos sociais relacionados ao trabalho”, destaca Rodolfo na apresentação da pesquisa.

Expectativas e Resultados

Os resultados esperados incluem a apresentação de dados sobre para onde os ex-trabalhadores foram, quais atividades econômicas estão exercendo e como suas trajetórias laborais foram afetadas pela exclusão do setor canavieiro. O professor Rodolfo Lima acredita que a pesquisa poderá ampliar o conhecimento sobre esses trabalhadores, revelando as marcas deixadas pela experiência canavieira em suas vidas.

O estudo apresenta várias linhas de investigação. “Uma das hipóteses é que esses trabalhadores continuam na população economicamente ativa, formal ou informal. Alguns estão aderindo às lutas coletivas pela Reforma Agrária, ou podem ter ido para programas do Governo, como Previdência, já que muitos apresentam sequelas da atividade do corte de cana. Como dizemos, o trabalhador deixa o canavial, mas o canavial não sai do corpo dele. Nosso objetivo é saber para onde esses trabalhadores estão indo”, ressalta o pesquisador.

Com a realização deste projeto, o professor busca compreender a realidade social de uma população historicamente marginalizada. A pesquisa está em andamento e novos dados serão divulgados ao longo do processo. Rodolfo Lima propõe inclusive produzir um podcast com episódios de discussão para compartilhar os resultados, além da produção de textos e exposição fotográfica.