Educação
Docente da Ufal conquista, simultaneamente, dois títulos de doutor em Matemática
O professor do Campus Arapiraca da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Iury Domingos, obteve dois títulos de doutor em Matemática, com ênfase em Geometria Diferencial, sendo um pelo Instituto de Matemática (IM) da Ufal e o outro pelo Institut Élie Cartan de Lorraine, vinculado à Université de Lorraine (UL) na França. Em razão de suas pesquisas, Bélgica, Itália e China são os países já visitados pelo docente, ampliando as parcerias para realização de novos estudos.
“Experiências em instituições renomadas são extremamente positivas e impactante na minha trajetória profissional. O contato com diferentes universidades e pesquisadores de excelência tem enriquecido minha visão e prática como profissional, proporcionando uma compreensão mais abrangente da pesquisa científica e do ensino em nível internacional”, comenta Domingos.
O Instituto de Matemática da Ufal é referência na formação de profissionais da área e a oportunidade de frequentar seletas instituições no exterior surgiu durante os cursos na Universidade. Na graduação, Iury participou do programa Ciência sem Fronteiras, criado pelo Governo Federal em 2011, e recebeu uma bolsa para custear as despesas com estudos na França.
Ao retornar ao Brasil, iniciou o curso de mestrado também no IM e, já perto de obter o título de mestre, contou com o apoio do orientador, professor Marcos Petrúcio Cavalcante, e do seu futuro coorientador de doutorado, professor Feliciano Vitório, para participar de mais um programa de cooperação internacional: o Comitê Francês de Avaliação da Cooperação Universitária com o Brasil (Cofecub) que estimula o intercâmbio entre universidades brasileiras e instituições parceiras francesas, a exemplo da Université de Lorraine (UL). E foram essas experiências de estudos e contato com pesquisadores estrangeiros, em momentos distintos, que possibilitaram as condições para que Iury conquistasse a dupla diplomação de doutor.
Um currículo com experiências acadêmicas exitosas não impediu que o jovem doutor se deparasse com as consequências da falta de incentivo à ciência no Brasil e, por conta própria, ele resolveu buscar oportunidades em instituições estrangeiras. “Após a conclusão do doutorado em 2020 e de um período de pós-doutorado na UFPB [Universidade Federal da Paraíba], devido à escassez de recursos voltados à educação, em 2021, comecei a buscar posições de trabalho no exterior”, explica.
O pesquisador conta que entrou em contato com algumas universidades, entre elas, a KU Leuven, na Bélgica. “Alguns meses após o primeiro contato, fui convidado para uma entrevista com o chefe do grupo de Geometria e, algumas semanas depois, já estávamos decidindo as datas de início desse novo período. O Departamento de Matemática dessa instituição tem muita projeção internacional, pesquisadores de excelência, recursos e incentivos à pesquisa de forma que nunca vi no Brasil, infelizmente”, relata Iury.
A aceitação pela instituição belga abriu um ciclo de boas notícias ao pesquisador e, logo após ser aceito para realizar o segundo pós-doutoramento, já em 2022, ele foi nomeado como docente efetivo no Campus Arapiraca da Ufal e os planos para estudar fora tiveram que ser reagendados para iniciar em janeiro deste ano.
O docente ressalta que a KU Leuven, atualmente, figura entre as 50 melhores universidades do mundo, de acordo com o indicador da Times Higher Education em colaboração com a Elsevier. Ele ainda conta como esse contato com uma rede pesquisadores estrangeiros ampliou as oportunidades de pesquisa. “Durante minha estadia na Bélgica, fui convidado como pesquisador visitante pela prestigiada Tsinghua University, na China, que, atualmente, ocupa uma posição entre as 15 melhores universidades do mundo, segundo o mesmo indicador da Times Higher Education, onde realizei atividades de pesquisa ao longo do mês de outubro deste ano”, diz.
E acrescenta: “Além das colaborações em andamento com essas duas instituições acadêmicas, já colhi frutos significativos durante minha estadia no exterior, incluindo colaborações em pesquisas com colegas italianos, cujos trabalhos estão atualmente em fase de revisão por pares”.
Iury ainda está na Bélgica para concluir o pós-doutorado em dezembro. Ano que vem, retomas as atividades no Campus Arapiraca. Ao relembrar a trajetória de 12 anos dedicados à pesquisa e ao ensino superior, o professor conta que “agora, tudo parece ‘natural e simples’; entretanto, um longo período foi trilhado”. O desejo do docente é aprender, aproveitar a estrutura e o conhecimento disponíveis. Ele espera, com sua jornada, contribuir para o enriquecimento do cenário acadêmico da Ufal.
“Tenho tentado ao máximo aproveitar esse período aqui na Bélgica, seja trabalhando com outros pesquisadores, seja apresentando os resultados obtidos em eventos internacionais. Como frutos da divulgação científica, oportunidades para novas colaborações científicas surgem e convites para períodos curtos em outras instituições também, por exemplo, fui convidado para Università degli Studi di Cagliari, na Itália, e na Tsinghua University, na China”, salienta.
Trajetória na Ufal
O interesse de Iury pelas ciências exatas teve início no ensino médio, durante participação nas feiras de ciências e por meio incentivo dos professores. Na época, a área da educação não estava nos planos dele, mas o desejo de trabalhar com a matemática, de alguma forma, já era almejado.
“Ingressei no curso de Matemática com certa dúvida se estava no lugar certo e, por pouco, não mudei para o curso de Física. A partir do segundo ano, tornei-me bolsista de iniciação científica do Pibic [Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica]. Foi aí que o interesse pela pesquisa surgiu e comecei a me imaginar como um futuro professor pesquisador na academia”, recorda.
A história de Iury ratifica a importância dos programas de apoio à iniciação científica, a exemplo da concessão de bolsas, que permitam não só o ingresso e o contato com a pesquisa, mas a continuidade na área.
As conquistas recentes, marcadas pelo reconhecimento internacional, não apagam da memória do docente a trajetória de esforços da família para que ele conseguisse chegar onde está. “Eu sou alagoano, nascido e criado na periferia de Maceió, no bairro da Santa Lúcia. Minha família sempre prezou muito pela educação e, mesmo com condições nada favoráveis, minha mãe se esforçou para que eu tivesse uma boa educação em escolas privadas do bairro”, recorda.
Consciente de onde veio e do quanto se dedicou para conquistar o espaço de poder realizar pesquisas em parceria com renomados pesquisadores e instituições no exterior, Iury sabe que também pode impactar de forma positiva a vida dos estudantes com os quais têm contato diariamente.
“Certamente, contribuir com a comunidade acadêmica e encorajar estudantes a buscarem oportunidades além das fronteiras nacionais, expandindo seus horizontes acadêmicos e profissionais, é o meu novo desafio”, afirma.
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