Educação
Desigualdade no Brasil e inserção dos jovens no mundo do trabalho são temas de livro
O Brasil tem 47 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos, ou seja, 23% da população total, de acordo com dados do IBGE. Mas como os jovens ingressam no mercado de trabalho e quais são as expectativas que se fundamentaram na segunda década do século 21? A partir desses questionamentos, o economista Euzébio Jorge Silveira de Sousa desenvolveu um estudo e lança o livro “Juventude, trabalho e o subdesenvolvimento” pela editora Appris.
A obra disseca o mercado de trabalho brasileiro e resgata a relevância da juventude nessa área. Doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o autor também aponta para o desemprego e a necessidade de políticas públicas que permitam a inserção qualificada dos jovens.
A pesquisa é resultado da tese de doutorado e também de dimensões da vida do autor. “Primeiramente, o fato de eu ter sido um jovem da periferia de São Paulo, especificamente de Itaquera. Tive que começar a trabalhar no início da adolescência (como ocorrera com todos meus irmãos), já que minha mãe teve que criar seus cinco filhos sozinha, ganhando baixo salário. O segundo motivo está relacionado à minha atuação em organizações sociais de jovens, que me levaram a estudar e debater juventude, educação e trabalho. Esta atuação me levou a atuar no Centro de Estudos e Memória da Juventude, organização que conta com a interseção entre a academia, os movimentos sociais e o poder público”, explica Euzébio.
A publicação faz uma análise histórico-estrutural, abordagem das classes e fornece um importante indicador de tendências do mercado de trabalho como um todo.
Doutor em desenvolvimento Econômico pela Unicamp e Mestre em Economia Política pela PUC-SP, Euzébio identificou a existência de estruturas diferentes na inserção dos jovens no mercado de trabalho em países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Ele observou que em países como os da América Latina, a profunda desigualdade, pobreza, ausência de políticas públicas e desestruturação laboral impele aos jovens a uma inserção precoce e precária no mundo do trabalho.
A pesquisa concluiu que parte das mudanças na inserção dos jovens no mundo do trabalho pode ser caracterizada como estruturais. “A alteração observada mais consistente foi a redução da taxa de participação dos jovens de 15 a 17 anos que se processava desde a década de 1990. Essa mudança se consolidou por diferentes motivos nos distintos momentos históricos, mas foi imprescindível o aumento da participação das mulheres. Já a taxa de participação de pessoas com idade a partir de 18 anos cresceu conforme caiu a renda das famílias e elevou o desemprego, o que confirma que o contingente de jovens pressionando pelo ingresso na vida laboral é funcional e não foi alterado estruturalmente”, explica o presidente do Centro de Estudos e Memória da Juventude.
A formulação da tese e do livro ocorreu em diálogo não apenas com acadêmicos, mas também com jovens ativistas, sindicalistas, gestores públicos e organizações sociais. “Assim, o livro possui importância para além dos muros da universidade. Já existem escolas e cursos de extensão em São Paulo que incluíram o livro como bibliografia de seus cursos, a fim de fornecer subsídios sobre o trabalho contemporâneo e o processo de plataformização da estrutura laboral”, relata o autor, que é professor Strong Business School (Certificada FGV) e na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e, entre os anos de 2021 e 2022, foi professor da FEA-USP.
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