Educação
Enem "100% humanas" tem textos longos e dificuldade média, dizem professores
Pela primeira vez, Enem teve redação, linguagens e ciências humanas de uma vez
Veja quem foram os professores ouvidos para a reportagem:
Antonio Mario Talles, coordenador-geral do ensino médio e do cursinho do Curso e Colégio Objetivo, de São Paulo Vinícius Carvalhaes, professor de geografia do Sistema COC de Ensino Fernando Ávila, professor de história do Sistema COC de Ensino no Rio de Janeiro Celio Tasinafo, coordenador pedagógico do Curso e Colégio Oficina do Estudante, de Campinas (SP) Cláudio Falcão, diretor pedagógico do Sistema de Ensino pH, do Rio de Janeiro Vinicius de Carvalho Haidar, coordenador do Curso Piliedro Paulo Moraes, diretor de ensino do AngloNo geral, os professores apontam a manutenção dos estilos das provas, além do mesmo nível de dificuldade encontrado em anos anteriores. "Em geral, uma prova de caráter mediano, que segue a mesma tendência do Enem dos últimos anos", disse Falcão, do pH.
Para Paulo Moraes, do Anglo, "o nível da prova subiu" e "não exige o conhecimento pelo conhecimento nem a decoreba, mas sim um conhecimento contextualizado, aplicado a situações do cotidiano do candidato". Ele afirma que essa mudança resultou em uma "prova muito bem feita, com fluidez, pensada como um todo", e disse que isso tem a ver com a mudança de propósito do Enem, que deixou de servir para a obtenção do certificado de conclusão do ensino médio.
"Como mudou a banca, a grande interrogação era como as questões iam aparecer", explica Fernando Ávila, do COC. "Mas se manteve a abordagem interpretativa, em que o estudante consegue responder a questão por eliminação, relacionado a resposta com o texto."
Juntar humanidades tornou Enem mais cansativoTasinafo, da Oficina do Estudante, afirmou que não há grandes diferenças entre o Enem 2016 e o Enem 2017, mas "a organização das questões de linguagens junto com as de humanas pode ter sido considerada mais cansativa pelos candidatos de exatas e natureza".
Para Vinicius Haidar, o Enem 2017 pareceu muito com a prova do ano passado.
"É uma prova calcada em textos, principalmente em português, e textos longos", disse Antonio Mario Talles, do Objetivo. "Fica uma prova longa e, na minha opinião, cansativa."
Talles explicou que, quando a mudança da ordem das provas foi anunciada pelo MEC, o colégio começou a aplicar simulados com a nova versão do Enem.
Ciências humanasDe acordo com Talles, os professores de ciências humanas do Objetivo consideraram a prova adequada ao estilo já tradicional do Enem. Na parte de história, questões contemplaram de forma equilibrada os temas de história geral e história do Brasil, "tendo como eixo principal a discussão social, criando demandas para política".
"As questões de ciências humanas nitidamente giraram em torno da cidadania e dos direitos humanos", explicou Célio Tasinafo. "Destaco, por exemplo, as questões específicas sobre o tema: uma sobre a Declaração dos Direitos Humanos da ONU e outra sobre as declarações dos Direitos do Homem e do Cidadão da revolução francesa. Além disso, cumpre lembrar as questões sobre os direitos indígenas e os relativos à participação política das mulheres."
Um dos destaques feitos pelo professor Fernando Ávila foi a grande variedade de temas que apareceram na prova, inclusive o alto número de filósofos. Entre os nomes da Antiguidade abordados no primeiro dia do Enem estavam gregos que já são "figurinha repetida" no exame, como Aristóteles e Sócrates. "Só faltou Platão para completar", brincou Ávila. Mas outros nomes de pensadores gregos menos comuns na prova também foram citados, como Sólon e Demócrito.
A questão envolvendo o filósofo Sólon (número 62 na prova amarela, 79 na prova azul, 89 na prova branca e 85 na prova rosa) foi motivo de destaque tanto entre os professores do Objetivo quanto do Sistema COC. Apesar de não haver base para anulação, os professores ressaltaram que duas alternativas se pareciam bastante, provocando uma certa dubiedade que poderia induzir os candidatos ao erro. São as alternativas B e E. Os professores dos dois cursos, porém, afirmam que a resposta correta é a alternativa E: "criação de normas coletivas diminuiu as desigualdades de tratamento".
Ávila afirma ter sentido falta de mais textos jornalísticos, em detrimento das citações retiradas de publicações com viés mais acadêmico, além das citações de pensadores, como Emmanuel Kant e Habermas.
Para Tasinafo, "as questões de geografia foram as mais tradicionais da prova de hoje, com abordagem de temas clássicos como: climas, uso do solo e migrações internas".
Segundo o professor Vinícius Carvalhaes, a prova de geografia não teve surpresas e estava "dentro do esperado". Ele destaca, porém, a questão 76 da prova amarela, que fala sobre nutrientes do solo. "Três alternativas, C, D e E, não estavam incorretas e o candidato poderia achar que elas serviriam, mas elas não condizem com o que pede o texto", explicou ele, afirmando que a alternativa correta é A: "elevação da acidez".
LinguagensEm linguagens, Cláudio Falcão, do pH, explica que houve um equilibro entre questões com textos complexos, como poemas e as telas de artes plásticas, e textos que não exigiam tanto da capacidade de leitura do aluno.
De acordo com ele, os alunos que estudaram fazendo as coletâneas dos anos anteriores certamente conseguiram lidar bem com a linguagem da prova.
As questões de língua estrangeira privilegiaram, como em anos anteriores, a interpretação de texto.
Em inglês, as cinco questões usaram cinco textos diferentes, cada um privilegiando um gênero textual distinto, destacou Talles, do Objetivo. "Um de crítica de cinema, um texto publicitário, um jornalístico, um informativo e uma carta." Embora os textos da prova de inglês, assim como a de espanhol, estivessem todos na língua estrangeira, as alternativas estavam em português. Mesmo assim, ele afirma que as provas tiveram nível de médio a avançado.
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