Economia

Vendedora ambulante sai das ruas de Arapiraca e prospera como mulher de negócios

Jéssica vendia castanha de caju e hoje é dona de uma rede de lojas de suplementos alimentares na cidade

Por Davi Salsa - Sucursal Arapiraca / Tribuna Independente 25/05/2024 13h33 - Atualizado em 25/05/2024 18h58
Vendedora ambulante sai das ruas de Arapiraca e prospera como mulher de negócios
'Eu tinha doze anos nessa época. Passamos muitas dificuldades juntas. Tínhamos que transportar o produto até o centro da cidade, sem nenhuma estrutura ou apoio', afirma Jéssica Araújo - Foto: Davi Salsa

O fruto do cajueiro, uma árvore originária do Nordeste brasileiro, mudou completamente a vida da vendedora ambulante Jéssica Araújo Ferro, de 32 anos.

A comercialização da castanha de caju nas ruas de Arapiraca abriu as portas para a mulher prosperar no mundo dos negócios.

Ao lado da mãe, a dona Maria José, vendedora ambulante no centro da cidade, mais especificamente na Avenida Rio Branco, e, a partir de então, mãe e filha dão início a uma linda história de resiliência e superação.

Jéssica Araújo lembra que era muito desafiador enfrentar uma rotina diária, que foi iniciada desde criança ajudando sua mãe levar o sustento da família.

“Eu tinha doze anos nessa época. Passamos muitas dificuldades juntas. Tínhamos que transportar o produto até o centro da cidade, sem nenhuma estrutura ou apoio. Ficávamos na calçada de um supermercado, mas a vontade de empreender e ser dona do próprio negócio sempre falava mais alto”, frisa.

A jovem diz que a atividade era informal e havia necessidade de se adequar às regras e fiscalização da prefeitura. “Mesmo assim, nunca baixamos a cabeça e sempre fomos duas mulheres persistentes e determinadas”, salienta.

A vendedora conta que nunca deixou de estudar e sempre aliou o tempo de trabalho nas ruas de Arapiraca, como vendedora ambulante, e as atividades na escola.

Jéssica Araújo conseguiu concluir o ensino médio e formou-se em Gestão de Recursos Humanos. Porém, o sonho de crescer e evoluir falou mais alto, quando decidiu tirar as ideias do papel juntamente com o marido Leandro Ferro.

Ela conta que, nesse período criaram a marca Castanha Nordestina e modernizaram a forma como vendiam seus produtos, mesmo continuando nas calçadas de Arapiraca. A jovem relata que inovaram com um expositor adequado, potes em acrílico e balanças digitais.

“A gente passou a ter muitas ideias. Tudo era feito com muito carinho, higiene e limpeza. Os negócios estavam prosperando e tivemos a primeira oportunidade, em dezembro de 2019, de colocarmos um quiosque de castanhas, que, por sinal, fica localizado no mesmo supermercado, na Avenida Rio Branco”, lembra.

Mas a chegada da pandemia da Covid-19 foi um divisor de águas na vida empresarial dela, da mãe e marido.

O comércio de Arapiraca praticamente fechou, assim como em todas as cidades do Brasil e do mundo. “Passamos a fazer entregas nas casas dos clientes e aumentamos a lista de produtos. Incluímos chás naturais, damasco e frutas cristalizadas. Mesmo no período da pandemia, as vendas aumentaram com as entregas em domicílio”, revela.

Em julho de 2021, ela e o esposo abriram mais um negócio em um ramo totalmente diferente, quando inauguraram a loja Facilita Calçados.

Oportunidade e desafio ao assumir comércio pioneiro de alimentos

Em meio a tantos obstáculos, o destino reservou outro desafio quando um cliente, dono de uma loja pioneira na cidade, no ramo de produtos naturais e suplementos alimentares, estava de mudança da cidade para o estado de Goiás com a família. O homem fez uma proposta para o casal comprar sua loja.

Jéssica Araújo e o marido aceitaram o desafio e em dezembro de 2021 iniciaram o novo empreendimento. “A gente não sabia nada do ramo de suplementos alimentares. Tivemos de pesquisar, procurar consultorias e tocamos em frente o negócio. Nessa época, estávamos com o quiosque Castanha Nordestina, a loja de calçados e a recente aquisição do Empório Nutrição Esportiva. O desafio aumentou, mas com muito trabalho e dedicação conseguimos vencer os obstáculos”, relembra.

Os negócios prosperavam e com eles a clientela ficava mais exigente. A empresária relata que os clientes reclamavam da distância de uma das lojas em relação ao centro da cidade. Então, surgiu a ideia de abrir o quarto empreendimento: a loja Empório Nutrição Esportiva.

Com a criação da marca Castanha Nordestina, modernizaram a forma como vendiam seus produtos e, mesmo continuando nas calçadas de Arapiraca, inovaram (Foto: Davi Salsa)

Atualmente, a rede de lojas emprega nove funcionários e oferece um leque de produtos com mais de 700 itens para os consumidores da cidade e região.

“Me sinto uma mulher realizada e abençoada. Nunca imaginei isso em minha vida. Foi tudo muito rápido. Em apenas cinco anos, deixei de ser vendedora ambulante para me tornar empresária. Eu e minha mãe lutávamos e trabalhávamos para levar o pão de cada dia para casa. Hoje, estamos garantindo o sustento da nossa família e de mais nove famílias em Arapiraca”, destaca Jéssica Araújo.

Para a consultora da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, as mulheres enfrentam mais desafios quando decidem abrir o próprio negócio, por conta das demais ocupações que possuem.

“São vários papéis que a mulher tem que desenvolver em três turnos. Ela começa como esposa, mãe e depois vai para o profissional. Esse profissional, hoje, exige muito da mulher. A gente tem que estar extremamente preparada, de olho no mercado, porque o mercado é muito competitivo. Então não dá mais para ser uma empreendedora sem estar preparada”, frisa.

Município possui mais de sete mil mulheres empreendedoras

Dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico revelam que Arapiraca tem 7.050 negócios com mulheres à frente dos empreendimentos ou entre o quadro de sócios e administradores.

Estudo realizado pela Junta Comercial do Estado de Alagoas (Juceal) mostra que o município

tem 5.009 mulheres empresárias, sendo 2.377 sócias, 1.751 administradoras de negócios, 46 representantes comerciais e 11 mulheres no cargo de diretora de empresas.

O levantamento da Juceal também evidencia que a Capital do Agreste conta com 3.764 empreendedoras individuais (MEIs), 2.380 microempreendedoras (MEs) e 548 mulheres em empresas de pequeno porte (EPP).

O gerente da Unidade Regional do Sebrae/AL, Ricardo Alexandre destaca o perfil empreendedor da mulher arapiraquense, e os pequenos negócios se fortalecendo a cada dia.

Atualmente, a rede de lojas emprega nove funcionários e oferece um leque de produtos com mais de 700 itens (Foto: Davi Salsa)

Ele cita que foi criado o programa Sebrae Delas. “É uma conquista das próprias mulheres que desejam iniciar ou ampliar o próprio negócio. O programa é uma oportunidade de apoiar o empreendedorismo feminino que, a cada ano, torna-se mais forte e mais consolidado no Brasil, em Arapiraca e no estado de Alagoas. O propósito é fomentar e incentivar a cultura do empreendedorismo”, salienta.

Ricardo Alexandre revela ainda que o foco das ações é voltado para mulheres em situação de vulnerabilidade social e baixa estima. “O trabalho é direcionado também para as empresárias com histórias de sucesso. Nos grupos, elas contam suas histórias de vida, suas experiências, inspirando outras mulheres enxergar novos horizontes, superar as dificuldades e a visão de futuro em suas vidas”, completou.