Economia

Proposta do Banco Central pode desvalorizar o Real

Ideia é aumentar possibilidades de aberturas de contas em moeda estrangeira no país

Por Jairo Silva com Tribuna Independente 09/10/2019 08h59
Proposta do Banco Central pode desvalorizar o Real
Reprodução - Foto: Assessoria
O Banco Central enviou ao Congresso Nacional uma proposta de flexibilização da política de câmbio que permite às pessoas comuns manterem contas bancárias em moeda estrangeira. Segundo especialista em economia ouvido pela Tribuna, esta proposta pode causar desvalorização do Real frente ao Dólar e não piorar a crise econômica nacional. Para Júlio Gomes, economista e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), “esse tipo de abertura poucas vezes foi experimentado em países diversos e, menos ainda, chegou a ser cogitado para o Brasil. Nas vezes em que se experimentou (como no começo dos anos 90, na Argentina) os países estavam envolvidos em graves desequilíbrios monetários, com credibilidades abaladas em suas moedas locais. Para a solução do problema inflacionário de época, o receituário neoliberal, promovido de certa forma pelo FMI, recomendava a vinculação da moeda local com a moeda norte americana”. De acordo com o professor, o cenário atual difere do da década de 1990, com hiperinflação e desvalorização da moeda nacional à época. “O risco de uma maior desvalorização do Real em relação à moeda estrangeira pode levar o Brasil a uma situação parecida ao que se vivencia em nosso país vizinho, a Argentina. O risco que esse tipo de aventura pode resultar é enorme, a julgar pelos resultados verificados na própria Argentina”, avalia Júlio Gomes. Ainda de acordo com ele, “outro risco deste tipo de flexibilização cambial é a questão da desvalorização da moeda brasileira frente à moeda estrangeira, ou seja, uma espécie de ‘dolarização’ da economia”. Para ele, “estaríamos, na prática, dolarizando a economia nacional, uma vez que os agentes (pessoas, empresas e até entes federativos), seguramente, iriam optar por, no mínimo, mesclar suas reservas e seus recursos de circulação”. Segundo Júlio Gomes, esta proposta pode “alterar a autonomia do Banco Central e afetar a própria soberania econômica do país. A autoridade monetária (Bacen) estaria obrigada a vincular o volume do meio circulante nacional aos estoques de reservas  em dólar. Isso significaria renunciar à prerrogativa estatal de fazer política monetária, uma vez que o controle da estabilidade da moeda nacional estaria sujeita ao resultado do Balanço de Pagamentos do país. “Hoje, nossa situação em estoques de reservas é confortável com volumes na ordem de US$ 386 bilhões, que talvez incentive o governo a flexibilizar o cambio”, diz o economista.