Economia

Três em cada dez alagoanos têm força de trabalho subutilizada

IBGE também aponta que estado possui a segunda pior renda per capita do país

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 01/03/2018 08h20
Três em cada dez alagoanos têm força de trabalho subutilizada
Reprodução - Foto: Assessoria
Desemprego, trabalhar menos do que gostaria, não conseguir emprego por conta da idade ou falta de experiência. Três em cada 10 alagoanos estão enquadrados em alguma dessas situações, classificadas como força de trabalho subutilizada. A informação foi apontada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na PNAD Contínua Tri. O estado tem uma taxa de 36,5% de força de trabalho subutilizada. No país este índice ficou em 23,6%. Considerando o índice de desempregados, a taxa chegou a 15,5%, acima da média nacional que foi de 12,2%, atingindo 2,7 milhões de brasileiros. De acordo com o economista Cícero Péricles, a subutilização da força trabalho é uma das causas do baixo rendimento médio do alagoano, que foi classificado na PNAD Contínua divulgada nesta quarta-feira (28), como o segundo pior do país (R$ 685,00), à frente apenas do Maranhão (R$ 597,00). A renda per capita é o cálculo feito pelo IBGE considerando os rendimentos domiciliares e o total de moradores da localidade. “A informação mais importante é a taxa de subutilização da força de trabalho, porque soma desocupados, com os que trabalham insuficiente e os desalentos. Isso é um impacto grande, porque essas pessoas não têm renda necessária. Isto quer dizer que não consomem ou consomem de forma insuficiente para dinamizar a economia. Evidentemente que a renda média cai”, pontua Péricles. A renda média dos alagoanos é menor que o salário mínimo de R$ 954,00 e menor também que a média de renda do brasileiro, que segundo a PNAD é de R$ 1.268,00. Enquanto isso, o Distrito Federal obteve o melhor desempenho com renda per capita de R$ 2.548,00, o dobro da média nacional. O fator desemprego, de acordo com Péricles, é uma “tragédia”, pois ocasiona outros problemas de ordem social e econômica. “A existência do desemprego força aquele que está trabalhando porque vai ter mais gente na fila. Então, tudo que o desemprego gera é negativo, baixa o consumo, diminui a renda média. A existência do desemprego força a queda do valor de quem está trabalhando. Baixa a força de trabalho, degrada as relações sociais porque o cara aceita formas de trabalho clandestinas, ilegais e irregulares. É terrível. Para nós é uma tragédia”. Mulheres são maioria entre desocupados e na informalidade Optar pelo trabalho informal tem sido a saída para garantir renda de muitas famílias. Segundo o IBGE, a região Nordeste registra 28,7% de trabalhadores em condições informais, o percentual de trabalhadores por conta própria foi superior ao verificado nas demais regiões, aponta o instituto. Principalmente entre as mulheres que continuam como maioria na parcela de desocupados, de acordo com o instituto. [caption id="attachment_66975" align="alignright" width="265"] Trabalhando por conta própria, Jéssica ganhou mais tempo com a família (Foto: Acervo pessoal)[/caption] “Já na população desocupada, no 4º trimestre de 2017, as mulheres eram maioria (50,7%). Em quase todas as regiões, o percentual de mulheres na população desocupada era superior ao de homens, a exceção foi a Região Nordeste, na qual este percentual representava 47,4%. Na Região Centro-Oeste, o percentual das mulheres foi o maior, elas representavam 53,9% das pessoas desocupadas”, aponta. É o caso de Jéssica Braz, de 26 anos. Ela afirma que já trabalhou de carteira assinada, mas depois de engravidar, optou pela criação mais próxima da filha Maria Luiza, de 1 ano, o que a afastou do mercado de trabalho. Agora ela concilia a maternidade com atividades informais de revenda de cosméticos e produção de papelaria personalizada. “Eu optei por trabalhar em casa depois que tive a Malu, para poder me dedicar o máximo de tempo possível, já que ela sempre teve dificuldade para comer. Então tive que procurar algo para fazer. Comecei vendendo cosméticos. E agora estou com personalizados de festa também, que é uma coisa que eu gosto de fazer e dá para trabalhar e cuidar da Malu”, explica. Jéssica defende a atuação informal, que segundo ela dá mais flexibilidade e alternativa ao trabalho integral, com carteira assinada. “Acho que o informal acaba compensando mais porque tenho mais tempo com minha família, faço meu horário. O formal é muito escravo, passamos mais de 9h fora de casa. Se morar longe do trabalho e depender de ônibus, nem se fala. Gastamos muito com lanches, roupas, etc”, diz Mesmo assim, para ela o retorno financeiro ainda não alcançou o esperado, embora não se imagine mais em um regime de trabalho formal. “Com os personalizados ainda não tive retorno, porque tudo que a gente investe tem um tempo para ter retorno. Ainda estou me organizando. Preciso de mais clientes nessa área. Mas com os cosméticos sim. Então, foi daí que eu vi que fiz a escolha certa e não pretendo trabalhar para mais ninguém”. “Quero ter uma renda certa, estou lutando para isso”, diz autônoma Informações do IBGE dão conta que as mulheres, apesar de serem maioria com idade para trabalhar, são minoria entre os ocupados. “No 4º trimestre de 2017, as mulheres continuavam a representar a maioria da população em idade de trabalhar, tanto no Brasil (52,4%) quanto em todas as Grandes Regiões. Porém, entre as pessoas ocupadas, verificou-se a predominância de homens (56,3%), mantendo a tendência da série histórica. O nível da ocupação dos homens, no Brasil, foi estimado em 64,5% e o das mulheres em 45,4%, no 4º trimestre de 2017. O comportamento diferenciado deste indicador entre homens e mulheres foi verificado nas cinco Grandes Regiões”, pontua o IBGE. [caption id="attachment_66976" align="alignleft" width="191"] Kellini Nascimento é a garota propaganda das roupas e calçados que vende por meio das redes sociais (Foto: Acervo pessoal)[/caption] Com a dona de casa Kellini Nascimento, de 25 anos, optar pelo trabalho informal foi a saída para complementar a renda familiar. Depois do terceiro filho, houve a necessidade de ajudar o marido com as despesas. Ela utiliza as redes sociais para anunciar roupas e calçados, além de vender sopa aos fins de semana. “Tudo começou porque tinha dificuldade em arrumar trabalho, por ter três filhos. Seria uma luta muito grande para trabalhar fora. Daí comecei vendendo roupas, fui montando looks e começou a dar certo. Agora trabalho em casa, divulgo meu trabalho nas redes sociais. Essa foi a maneira de não me ausentar em casa e ajudar meu esposo”, comenta. Ela diz que trabalha com entregas em horários fixos, o que ajuda na organização da rotina. “Atendo pela manhã, até 12h e volto 14h30 até 18h. Também trabalho com entregas nos dias de quarta a sexta”. Em todo o país, são mais de 23 milhões de pessoas trabalhando por conta própria e, como Kellini, têm o desafio diário de estabelecer uma renda fixa. “Quero ter uma renda certa. Estou lutando para isso”, destaca Kellini.