Economia

Velho nada! Negócio é se reinventar

Exemplo em Alagoas vem da artista plástica Arlinda Fernandes que, aos 78 anos, mostra que estar na 3° idade é ter vitalidade

Por Tribuna Independente com Wellington Santos 06/01/2018 09h38
Velho nada! Negócio é se reinventar
Reprodução - Foto: Assessoria
As mãos de Arlinda dos Santos Fernandes — prestes a completar 78 anos neste 2018 que mal começou —   marcam o tempo e não se cansam. Longe disso. Expostas na mesa da sala e em quase todos os cômodos da sua aconchegante e imensa casa, estão as lembranças de uma invejável força de vontade de nunca parar. Panfletos, fotos, prêmios, recortes de jornais  imortalizam a façanha desta jovem senhora que não para de produzir, de fazer arte —  e revelam o que esta boa velhinha é capaz. Assim é a rotina desta doce senhora que chega quase aos 80 anos este ano e mostra aos mais jovens que a terceira idade muda conceitos e aposta em novas alternativas. Estas palavras, aliás, serviram de mote para uma reportagem com dona Arlinda, há exatos 10 anos nesta Tribuna Independente, ao revelar suas façanhas e arte, sempre vencendo o tempo, que para muitos, ainda, é um adversário. Para ela isso é impensável. No mosaico desta artista plástica que não se cansa de reinventar  podem ser vistos no seu quartel general da arte um currículo que expõe diversos títulos de sua formação acadêmica, que vão de cinco cursos superiores a atividades e qualificações complementares  que ultrapassam  ao número de 50, cursos que fez ao longo de seus respeitáveis 78 anos. Detalhe. A maior parte de seu vasto currículo foi construída já depois dos 60 anos de idade, e dois de seus cursos superiores já depois de completar 70 anos de idade. Isso sem contar os inúmeros prêmios que já conquistou na sua agitada vida. Exposição é nova “travessura” da boa velhinha Sua mais nova travessura já neste ano que se inicia foi promover uma exposição com cerca de 300 peças de sua lavra, que encantaram os pouco mais de 20 convidados para mostrar arte em porcelana, vidros reciclados, velas e cerâmica vitrificada, além de revelar uma exposição individual de relevo e pintura na cerâmica. No meio de tantos objetos cheios de história na aconchegante casa , o que parece mais uma recordação traz o futuro. E de onde vem tanta  inspiração desta mulher que nesta idade já poderia ter ficado quieta no seu cantinho “esperando a morte chegar com a boca cheia de dentes”, como diria o roqueiro e compositor Raul Seixas? Está na rotina, no marido, nas duas filhas, nos amigos, enfim, na vida, segundo ela mesma define. “É a vontade de sempre fazer algo, meu filho, me reinventar ”, diz a jovem senhora.  “Depois de velha, aí foi que me deu vontade de criar e recriar as coisinhas que eu já fazia quando mocinha, parece até que voltei a ser  criança, eu não paro”, ensina dona Arlinda. Dona Arlinda, em verdade, faz parte da nova geração de idosos do século 21 que revela que estar na chamada terceira idade não significa ser velho. A vitalidade, os planos, a descoberta de hobbies depois dos 60 anos fazem com que a sensação de velhice esteja cada vez mais distante. Os idosos são 15% da população. Daqui a 20 anos, a previsão é a de que esse número dobre. E, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), por volta de 2025, pela primeira vez na história, haverá mais idosos do que crianças no planeta. O corpo menos ágil não é mais desculpa para ficar parado. Se a saúde parecia frágil e deixava o idoso mais caseiro, agora ele busca qualidade de vida com exercícios, alimentação e mais acesso à medicina. Esse perfil da terceira idade não para de crescer. Para Arlinda, a terceira idade tem um significado especial. “Eu percebi que passei não passei pela vida, eu a faço a cada dia, vivo intensamente”, filosofa. Foi depois dos 60 anos que ela conheceu a grande maioria dos diversos cursos que fez e descobriu a paixão pela arte. “Antigamente, as velhinhas só faziam crochê e iam pra missa. Eu até gosto de fazer os dois, mas no seu tempo e não só isso”, complementa. Uma vida de desafios e quebra de barreiras A artista plástica alagoana se redescobriu e não entende o espanto das pessoas com a proatividade que a nova terceira idade tem. Gosta de contar sobre a ida a eventos com os amigos. Arlinda tem o fôlego necessário para seguir em frente e perceber que ainda há muito o que viver. “Tudo o que eu fiz de muito bom foi depois de mais velha”, admite. Ela descobriu o gosto por  liderar e organizar eventos, como festas e promoção de exposições para revelar aos  amigos sua arte com cerâmica  — e uma capacidade incrível para criar novas peças, como é o caso da reinvenção de velas em decoração doméstica. Durante as exposições que frequentemente promove, Arlinda não sossega: enquanto organiza o salão para receber as palestras e os amigos, fica de olho se o lanche está bem servido e dá atenção para cada pessoa que chega.  A preocupação com o bem-estar social vai além da família que cuida. “Eu adoro participar das reuniões do Rotary Club, gosto dessa coisa de cuidar das pessoas, de melhorar a vida delas, principalmente  das menos favorecidas de nossa sociedade”, completa Arlinda. A vida de quebrar barreiras com a idade é, aliás, uma das especialidades da jovem senhora Arlinda dos Santos Fernandes. Somente em graduação superior, tem cinco no currículo: graduação em Artes Plásticas pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió (Cesmac); graduação em Gastronomia pela Uninassau, em 2013; pós-graduação em docência para o Ensino Superior na Universidade SEB. Fora isso, foi a primeira mulher alagoana a romper com o machismo nos rotarys clubs do Estado e deixar boquiabertos  e de narizes empinados os machões da década de 1980.  Foi nessa época que  passou a integrar o Rotary Club do Distrito 4390, convidada pelo então presidente e médico José Medeiros, já falecido. Na universidade de Viçosa, de Minas Gerais, há dois anos, dona Arlinda impressionou no alto dos seus 75 anos a todos que a conhecem nesta e em outras plagas, como a aluna mais velha da turma on-line e se especializou em cozinha profissional com os seguintes cursos: cozinha mineira, cozinha brasileira, montagem e decoração de pratos, cozinha chinesa para delivery e restaurante, cozinha árabe e cozinha japonesa. “Não é à toa que quem é convidado para qualquer festividade na casa de dona Arlinda logo se apaixona, tanto por ela, como por suas iguarias deliciosas. Ela ganha a gente literalmente pela boca”, diz Cristiane Moreira Torres, uma amiga recente de Arlinda, a quem conheceu em dos momentos tristes do ano passado, em função do falecimento de uma prima muito querida de Arlinda. “Apesar do momento muito triste, Deus permitiu que nos conhecêssemos justamente durante os últimos dias de vida de sua prima querida. Mas ela foi tão espirituosa e afável comigo e com minha família que hoje nos tratamos como família mesmo, com muito carinho, como se fosse uma pessoa que eu já conhecia de muitos anos”, completa Cristiane. “Ela é um exemplo extraordinário para todos nós do Rotary Club e, naturalmente, para quem vai ler esta reportagem, principalmente de uma geração mais nova que Arlinda”, reforça a presidente do Rotary Pajuçara, Marly Ribeiro, amiga que está sempre por perto da incansável Arlinda. “Minha avó não é só um exemplo, ela é o máximo mesmo. Sou muito feliz em participar bem perto de tudo o que ela faz e nunca perder essa jovialidade em todos sentidos. Sei que nunca vou conhecer outra pessoa igual a ela. Tenho muito sorte de tê-la como avó”, finaliza Andressa Fernandes, futura engenheira civil e neta de Arlinda.