Economia

Redução de salário mínimo para 2018 gera reclamações

Arrocho é sentido por mais pobres, mesmo com R$ 10 a menos na previsão

Por Tribuna Independente 17/08/2017 11h53
Redução de salário mínimo para 2018 gera reclamações
Reprodução - Foto: Assessoria

O governo reduziu a previsão para o salário mínimo em 2018 em dez reais, de R$ 979 para R$ 969. Essa queda, se confirmada, deve gerar uma economia de R$ 3 bilhões ao governo no ano que vem. No entanto, trabalhadores alagoanos não estão satisfeitos com a decisão do governo e rebatem dizendo que o presidente quer deixar os assalariados ainda mais deficientes.

“Estou totalmente com raiva. O pobre é o mais que sofre. Mesmo sendo apenas R$ 10 já gera um déficit na nossa renda, por que vêm também os descontos da empresa, tarifas, INSS enfim. E tem outra coisa, nosso salário diminui, mas as coisas aumentam”, comentaram as camareiras Tatiane Costa e Lucineide Santos.

O funcionário público Setóris Mendes disse que o governo de Michel Temer (PMDB) quer apenas se beneficiar do dinheiro da nação. “Ele não deveria mexer em nada. Já não temos um salário digno e ele ainda quer diminuir. Isso é muito errado. O governo deveria era gerar empregos para os milhões de pais de famílias e jovens desempregados  e não tirar o direito do trabalhador”, comentou.

As amigas Kátia Macedo e Roberta Carla também estão insatisfeita com a atitude do presidente e com todas as mudanças que o governo vem realizando. “É erro em cima de erro, são várias conquistas jogadas fora. E essa agora, o salário mínimo, realmente é mínimo e ainda vai ser reduzido. Isso prejudica em tudo, nas contas de casa, na alimentação enfim”, questionaram.

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A mudança foi divulgada pelo Ministério do Planejamento. Atualmente, o salário mínimo está em R$ 937. O governo propôs elevar o teto para o rombo das contas públicas em 2017 e 2018 para até R$ 159 bilhões e anunciou uma série de medidas para aumentar a arrecadação e reduzir custos, entre elas o adiamento de reajustes a servidores e a criação de um teto salarial para o serviço público.

De acordo com o governo, as medidas são necessárias porque a arrecadação com impostos e tributos foi mais baixa que a prevista, reflexo da recuperação da economia que é mais lenta que a esperada. Atualmente, cerca de 45 milhões de pessoas no Brasil recebem salário mínimo, entre elas aposentados e pensionistas, cujos benefícios são, ao menos em parte, pagos pelo governo federal, uma vez que a Previdência é deficitária (e segundo o órgão arrecada menos do que gasta).

Com o salário mínimo menor, o governo economiza nas despesas com o pagamento desses benefícios.

O professor de economia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Cid Olival Feitosa, disse que a redução do salário mínimo é um retrocesso.

“Embora o argumento seja de economia para os cofres públicos, ele esquece que o aumento do salário gera mais consumo e, consequentemente, mais impostos e mais arrecadação. Então, a fórmula deveria ser oposta, isto é, aumentar o salário para aumentar o consumo, dinamizar a economia e aumentar a arrecadação do governo. Não me recordo nos últimos 20 ou 30 anos de termos redução nominal do salário mínimo. Isto é um absurdo”, explica Olival.

Prejuízos vão para trabalhador e economia

Para o economista Cid Olival Feitosa, os trabalhadores terão prejuízos imensos, pois terão menor poder de compra e, consequentemente, menor capacidade de atender às suas necessidades básicas. “Isso se agrava quando observamos os dados da PNAD, que em 2015 mostravam que 27% da população brasileira recebia até um salário mínimo. Em até dois  anos este número saltava para 53,4%”, esclareceu Cid.

Para a economia alagoana, Cid Olival diz que a situação é ainda mais grave, por que em 2015 (último ano da Pnad), 44,4% dos trabalhadores recebiam até um Salário mínimo.

“Quando observamos aqueles que recebem até dois salários este número sobe para 63,7%. É assustador imaginar que ao invés de mais renda, o trabalhador receberá um valor mensal menor. Isso sem levar em conta a inflação, que apesar de não indicar ser tão elevada para 2017, corrói parte do rendimento do trabalho. E olha que estamos falando apenas das pessoas que estão em atividade. Devemos acrescentar ainda o volume de pessoas que recebe aposentadorias e pensões, que tem como base o salário mínimo. Em Alagoas estes números são bastante elevados, sobretudo no interior do estado. Imagine um município de cinco ou 10 mil habitantes cuja principal fonte de renda é o comércio ou aposentadorias que têm como base o salário mínimo. A redução do seu valor levará este município a uma situação de menor dinamismo econômico. O que o deixará mais dependente ainda de transferências do governo Federal”, ressalta o economista.  

O presidente do Sindicato dos Economistas de Alagoas, Marcos Calheiros, também acredita que a diminuição do salário diminuirá o consumo, por que toda renda tem essa finalidade.

“A grande massa da população depende da previdência e programas sociais. A influência é negativa. Mais de 80% se enquadra no salário-mínimo. Uma economia sem indústrias e concentração fundiária. No setor serviços onde gera mais empregos sentirá a queda do poder aquisitivo”, ressalta Marcos.