Economia

Economista diz que comércio e serviços são 72% do Produto Interno Bruto de AL

Agroindústria canavieira responde, hoje, por menos de 10% da economia estadual

Por Tribuna Independente 11/07/2017 15h40
Economista diz que comércio e serviços são 72% do Produto Interno Bruto de AL
Reprodução - Foto: Assessoria

Ao traçar um perfil da economia nos últimos 10 anos, período do surgimento da Tribuna Independente, o professor da Universidade Federal de Alagoas, Cícero Péricles, doutor em Economia, autor dos livros “Economia Popular – uma via de modernização para Alagoas” (7ª.  ed. Edufal, 2016), e “Formação Histórica de Alagoas” (4ª. ed. 2017), ressalta que o ritmo da economia brasileira determina o da economia alagoana no período. Em sua análise, cita dois cenários econômicos antagônicos no País. Um deles marcado por altas taxas de crescimento, entre 2007 e 2013, quando o Brasil voltou a crescer num ritmo que se sustentou até meados de 2014. O outro é um tempo de pura recessão que hoje avança e reflete na economia do Estado.

Para o futuro, nada muito animador: “A probabilidade maior é de termos três anos com taxas negativas de crescimento”, diz.  O comércio e serviços foram responsáveis pelo crescimento da economia alagoana entre 2007 e 2014, que hoje representam 72% do PIB estadual. Segundo o economista, esse é um reflexo dos segmentos urbanos modernos, de uma sociedade que tem 80% de sua população vivendo em áreas urbanizadas.

Tribuna Independente - Como era o cenário há 10 anos (2007) e como se encontra na atualidade, de modo geral?

Cícero Péricles - Nestes 10 anos de existência do jornal Tribuna Independente, lançado a partir da Jorgraf – Cooperativa de Jornalistas e Gráficos aconteceram, praticamente, dois cenários econômicos nacionais distintos, que muito influenciaram a economia alagoana. O primeiro, marcado por altas taxas de crescimento, entre 2007 e 2013, quando o país voltou a crescer de forma razoável. Esse ritmo positivo se sustentou até meados de 2014, no período eleitoral. E um segundo cenário, de recessão, que começa no final de 2014 e se estende até os dias de hoje. Nos dois casos, o ritmo da economia brasileira determinou o da economia estadual alagoana. Entre os anos de 2007 a 2004, tivemos taxas positivas de crescimento na economia estadual; mas, agora, neste período de recessão nacional, a probabilidade maior é a de termos três anos com taxas negativas de crescimento.

Tribuna Independente - Qual era o IDH de 10 anos atrás e o mais recente, para fazer um comparativo? O que mudou?

Cícero Péricles - O Índice de Desenvolvimento Humano é uma combinação entre renda, expectativa de vida e escolaridade de uma população, calculado a cada dez anos, numa divisão com cinco graus: muito baixo desenvolvimento, baixo, médio, alto e muito alto desenvolvimento. Em 2000, o IDH de Alagoas refletia as dificuldades dos anos anteriores. Dos 102 municípios, apenas quatro – Maceió, Rio Largo, São Miguel e Satuba, não eram considerados de “muito baixo desenvolvimento”, o mais negativo de todos. Um duro quadro social, muito semelhante ao de 1991 quando apenas Maceió ficou com o status de “baixo desenvolvimento”. O novo mapa, de 2010, mudou completamente essa condição. Todas as localidades – exceto Inhapi e Olivença – saíram da condição de “muito baixo desenvolvimento” e, catorze deles, alcançaram o status de “médio desenvolvimento” e, excepcionalmente, Maceió assumiu a condição de “alto desenvolvimento”.

Para explicar esse avanço no IDH, é importante entender o papel das políticas de saúde pública e educação básica. O analfabetismo vem caindo, lentamente, junto à população mais jovem. Atualmente, o índice de analfabetismo da população entre 10 e 29 anos é de 4%, um bom indicador para um estado campeão em taxas negativas. A expectativa de vida, que era de apenas 59 anos em 1991, subiu para 71 anos em 2015. Esses avanços incrementais, ano a ano, precisam de mais velocidade para que Alagoas convirja para as médias dos indicadores nacionais e mesmo nordestinos. As políticas públicas, principalmente as de saúde e educação, mais o crescimento da renda da população, fizeram uma pequena revolução neste período, mudando a paisagem social alagoana. Se esse mapa fosse atualizado para 2017, teríamos uma imagem modificada, com dados mais positivos.

Tribuna Independente - A saúde, educação e renda seguem os mesmos índices? Para melhor ou para pior? Enquanto isso, os outros estados do Nordeste avançaram mais? E do país?

Cícero Péricles - Os indicadores de renda foram muito influenciados pela intervenção econômica de vários fatores, que, em graus diferentes, impactaram e ainda impactam na nossa sociedade: o primeiro foi a previdência social, cuja cobertura saltou de 340 mil alagoanos beneficiários – aposentados e pensionistas, em 2007, que recebiam R$ 145 milhões -, para os 520 mil previdenciários atuais, com pagamento mensal de 570 milhões de reais; segundo, foi o valor do salário mínimo, que subiu, regularmente, de R$ 350,00, em 2007, para os atuais R$ 937,00. Um salto importante, levando-se em conta que o grosso da mão de obra no Estado tem no salário mínimo sua referência de renda; terceiro foi o Programa Bolsa Família que, em 2007, com seus limitados recursos, cobria 440 mil famílias no Estado, de um total de 980 mil, metade dos alagoanos, causando um forte impacto social. Esses recursos se juntaram a renda tradicional, aumentando a renda per capita de R$ 5.160, em 2006, para R$ 12.300 em 2015, e alavancaram a economia pela via do consumo, que explodiu nesta última década.

Tribuna Independente - Seria um comparativo para saber se o nível de emprego aumentou ou caiu nesta última década: melhorou, piorou ou continua no mesmo patamar?

Cícero Péricles - Esse modelo de crescimento com distribuição de renda obteve dois bons resultados em Alagoas: um no campo estritamente social, a diminuição da pobreza e da miséria; e, outro, no campo econômico, a ampliação do mercado formal de trabalho no Estado. Nos anos 2003-2014, o número de pessoas pobres em Alagoas caiu pela metade, e o número de pessoas extremamente pobres, consideradas por algumas instituições como “miseráveis”, foi reduzido em quase 60%. Muito para uma década.

O mercado de trabalho também foi beneficiado. Entre os anos de 2003 e 2014, Alagoas aumentou em 200 mil novos postos formais de trabalho. No período de vida da Tribuna Independente, esse mercado criou, na fase ascendente, 120 mil empregos com carteira assinada, entre 2007 e 2014; mas, desde 2015, vem perdendo esse impulso positivo e já retrocedemos para o mesmo patamar de 2010.   

Tribuna Independente - Quais os fatores influenciaram para que hoje o Estado de Alagoas não consiga ter um desenvolvimento econômico sustentável em termos de geração de emprego?

Cícero Péricles - Uma combinação de vários elementos. Primeiro, um mercado consumidor estreito, pequeno, com renda baixa; segundo, a falta de infraestrutura capaz de permitir ao Estado competir com mais força em relação às demais unidades do Nordeste; terceiro, a ausência de polos produtivos dinâmicos, diversificados, capazes de atender às demandas locais e disputar o espaço regional nordestino; e, quarto, a falta de capacidade do setor público, Estado e municípios, de ofertar contrapartidas financeiras ou físicas para a instalação ou ampliação de mais empreendimentos. Mas, mesmo assim, a economia cresceu, ainda que num ritmo menor que a média nordestina.

Tribuna Independente - Sobre nossa conjuntura econômica na última década, quais os setores que mais cresceram e quais os que mais sofreram queda: serviço, indústria, comércio, agronegócio?

Cícero Péricles - O crescimento da economia alagoana entre 2007 e 2014 se deve, basicamente, às atividades dos setores do comércio e serviços, que hoje representam 72% do PIB estadual. A agroindústria canavieira teve um crescimento excepcional, entre 2007 e 2011, pela demanda do açúcar no mercado internacional, mas esse tempo passou e, desde 2012, o setor vem definhando, representando menos de 10% da economia estadual. Esse ano, a expectativa é produzir metade da safra de 2011, em 15 das 27 unidades industriais existentes naquele ano. A pecuária do leite, concentrada no agreste e sertão, conseguiu, graças ao novo ambiente econômico e social, sobreviver à seca dos anos 2011/2016 e ficar ainda mais competitiva. A agricultura familiar, produtora de alimentos voltados para o mercado local e regional, vem crescendo, mas ainda é limitada sua produção. O fumo estabilizou-se como uma cultura complementar e quase residual em relação ao peso que teve até o final dos anos 1990.

Na área industrial, o complexo químico-plástico é quem vem dando bons resultados com o novo posicionamento da Braskem, que fez um grande investimento em Marechal Deodoro e vem apoiando a vinda de novos empreendimentos para Alagoas. Nos anos 2007-2014, a construção civil disparou em termos de crescimento setorial, apoiada principalmente pelas construções populares do programa Minha Casa Minha Vida, que resultaram em mais de 100 mil novas habitações; e pelas obras do PAC, o Programa de Aceleração de Crescimento, que chegou a ter 1.300 obras sendo construídas simultaneamente no Estado. Com os cortes orçamentários federais, esse setor vem retrocedendo desde 2015.

Tribuna Independente - Então o crescimento do comércio e serviços foi a peça mais importante?

Cícero Péricles - Sim, dinâmico mesmo na economia alagoana é o setor de comércio e serviços, os segmentos urbanos modernos de uma sociedade que tem 80% de sua população vivendo em áreas urbanizadas. O comércio no varejo, apoiado no crescimento da renda do chamado público “C, D e E” se expandiu de forma ampla e capilarizada. O moderno setor de shoppings centers aproveitou bem o momento de crescimento para trazer mais três grandes centros comerciais, dois em Maceió e um em Arapiraca; aproveitaram bem o momento da economia, o comércio tradicional do centro das cidades, as feiras livres e os mercados populares até o comércio atacadista, que se constituiu como o segmento mais importante desta área, com suas empresas que abastecem e integram todo o setor comercial de Alagoas.

Na área de serviços, o destaque foi para o turismo, que, baseado nos visitantes populares, o público dos chamados segmentos de renda média, conseguiu um feito notável que foi o de duplicar seu movimento, em uma década, diversificando sua cadeia hoteleira e gastronômica, comprovando o potencial deste setor em Alagoas. E vimos o crescimento de várias áreas de serviços modernos: o de tecnologia da informação com suas empresas ainda em expansão; o da Medicina de média e alta complexidade e a educação de nível superior.

Nestes anos, o maior avanço empresarial foi dado, sem dúvida, pela criação de um novo tecido produtivo, formado pelas micro e pequenas empresas. Entre 2007 e 2017, os empreendimentos desse porte quadruplicaram de tamanho. Temos hoje, em Alagoas, um total de 165 mil empresas, das quais 156 mil são MPE’s, ou seja, 95% desse total. Importante ressaltar, dentro desse conjunto temos 12 mil indústrias e quase sete mil empresas de construção civil. Esses pequenos negócios estão em todos os municípios e bairros, geram emprego e ocupação e, cada vez mais, contribuem para os cofres do Estado e das Prefeituras.