Economia
Dono da JBS evitou perda potencial de R$ 138 milhões com venda de ações antes da delação
MPF e CVM investigam operações de ações e câmbio pela JBS e controladores
A FB Participações é a empresa que reúne os negócios da família Batista. Segundo as investigações, a FB vendeu cerca de 42 milhões de ações da JBS, reduzindo a participação na empresa de 44,35% para 42,80% em meio às negociações do acordo de delação. Como os papéis da JBS despencaram após a delação vir a público, na noite de 17 de maio, a FB deixou de perder dinheiro como os demais acionistas.
Desde que a delação foi divulgada, as ações da JBS chegaram a perder quase 40% do seu valor. Até a última quinta-feira (8), a empresa acumula perdas de cerca de 20% de seu valor de mercado.
De acordo com o MPF, a estimativa da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é que o momento em que a venda foi feita permitiu à controladora da JBS evitar a perda potencial de R$ 138 milhões.
O que mais chama atenção do MPF, entretanto, é que a própria JBS – que tem, entre os seus acionistas, o braço de investimentos do BNDES – comprou ações que estavam sendo vendidas pela controladora.
O acordo de delação dos executivos da JBS foi firmado em 3 de maio. Entre 24 e 27 de abril – dias antes, portanto – a JBS comprou cerca de 19,8 milhões de ações da própria empresa, segundo as investigações. Desse total, 7,2 milhões foram vendidas pela FB Participações. A operação é considerada atípica.
A JBS informou que "todas as operações de compra e venda de moedas, ações e títulos realizadas pela J&F, suas subsidiárias e seus controladores seguem as leis que regulamentam tais transações".
Compra de dólarAlém da compra e venda de ações, a operação deflagrada hoje investiga possíveis irregularidades em operações de câmbio realizadas pela JBS. O pedido de investigação partiu da CVM, que também apura o caso em processos administrativos. A CVM encaminhou a denúncia para o MPF fazer uma investigação criminal.
De acordo com as investigações, entre os dias 28 de abril, pouco antes da assinatura do acordo de delação, e 17 de maio, dia em que a delação foi divulgada pelo jornal O Globo, a JBS realizou diversas operações de câmbio aumentando sua posição em dólares. No dia seguinte, a moeda norte-americana disparou 8%.
No histórico de operações da empresa entre janeiro e abril, a companhia nunca comprou mais do que 2 mil contratos diários de dólar futuro. No dia 17 de maio, o volume de compras líquidas (diferença entre compra e venda de contratos) fechou em 7.630 contratos, segundo informações do MPF com base em dados da CVM. A suspeita é que as pessoas que deram ordens para as compras tinham conhecimento da delação premiada e, portanto, operaram com uso de informação privilegiada.
Se os contratos de câmbio vencessem no dia 18 de maio, a empresa teria lucrado R$ 417 milhões, estima o MPF, mas o órgão ressalta que, segundo a CVM, as posições da JBS com câmbio não foram liquidadas nos dias seguintes.
Quando a delação veio à tona e surgiram as suspeitas de compra de dólares pela JBS, a companhia confirmou ter feito as operações, mas disse que agiu para fazer uma "proteção financeira". A companhia tem dívida em dólar e receitas no exterior e disse que avalia diariamente sua posição no mercado de câmbio.
Segundo o MPF, os pedidos de busca e apreensão desta sexta-feira (9) na sede da empresa não visam a obter informações sobre as operações de câmbio. A CVM solicitou essas informações às corretoras que fizeram as operações para avaliar se há irregularidades e o prazo para o envio de documentos até está sexta-feira (9).
A JBS disse, sobre as operações de câmbio, "que gerencia de forma minuciosa e diária a sua exposição cambial e de commodities. A empresa tem como política a utilização de instrumentos de proteção financeira visando, exclusivamente, minimizar os seus riscos cambiais".
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