Economia

Fitch mantém Brasil abaixo do grau de investimento e reafirma perspectiva negativa

Agência cita crescimento fraco e "repetidos episódios de instabilidade política"

Por G1 19/05/2017 16h57
Fitch mantém Brasil abaixo do grau de investimento e reafirma perspectiva negativa
Reprodução - Foto: Assessoria
A agência de classificação de risco Fitch anunciou nesta sexta-feira (19) que decidiu manter a nota de crédito soberano do Brasil em "BB" - dois degraus abaixo do grau de investimento (selo de bom pagador). Ao mesmo tempo, reafirmou a perspectiva negativa para o rating do país.

Ao manter inalterada o rating do Brasil, a agência destacou o crescimento fraco da economia e "repetidos episódios de instabilidade política" como riscos.

"O rating do Brasil é contido pela fraqueza estrutural em suas finanças públicas, peso crescente da dívida do governo, perspectivas fracas de crescimento, indicadores mais fracos de governança em relação a outros, e repetidos episódios de instabilidade política que afetam a política e têm implicações negativas para a economia", apontou a Fitch em nota.

Por outro lado, a agência destaca que as fraquezas são compensadas pela diversidade econômica do país e instituições consolidadas, citando ainda como motivo para não alterar a nota do Brasil a queda da inflação e reformas como a do teto dos gastos.

Governo diz ter compromisso com consolidação fiscal

Em nota, o Ministério da Fazenda disse estar compromissado com a busca da consolidação fiscal do país e a sustentabilidade da dívida pública. "A avaliação da agência reforça a importância das iniciativas que visam à recuperação da economia brasileira e à construção das bases para o crescimento sustentado", disse a Fazenda, destacando que a decisão da agência faz menção ""à importância e ao desafio da aprovação das reformas em curso, as quais ajudarão na reversão do cenário fiscal, contribuindo para uma trajetória benigna de endividamento público".

Incertezas

"A perspectiva negativa reflete incertezas continuadas em torno das perspectivas de recuperação econômica do Brasil, de estabilização da dívida pública e aos avanços na agenda legislativa, em especial a reforma da Previdência", acrescentou.

A Fitch prevê crescimento de 0,5% PIB do Brasil em 2017 e de 2,5% em 2018.

"Entretanto, recentes eventos políticos relacionados ao presidente Temer elevaram a incerteza em relação ao processo de reformas e podem afetar a confiança e as perspectivas de recuperação econômica", completou a agência.

O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou abertura de investigação contra Temer depois que Joesley Batista, dono da JBS, gravou um diálogo com o presidente. Segundo o jornal "O Globo", Joesley informou aos investigadores que, nessa conversa, ele e Temer discutiram a compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso na Lava Jato, com o objetivo de evitar que ele fizesse delação.

Fitch segue S&P

A nota do Brasil e a perspectiva seguem a mesma na classificação da agência desde maio de 2016.

A Fitch repete movimento também feito pela agência Standard and Poor's (S&P), que em fevereiro também decidiu manter inalterada a nota do Brasil e a perspectiva negativa, citando incertezas políticas e fraqueza da economia.

Perda do grau de investimento

Atualmente, a nota do Brasil está na mesma posição nas escalas das 3 principais agências de classificação de risco: dois degraus abaixo do grau de investimento, considerado uma espécie de selo de país bom pagador.

Na Moody´s, perspectiva foi elevada de negativa para estável em março. Em comunicado nesta sexta, entretanto, a agência afirmou que "as alegações envolvendo o presidente Michel Temer prejudicam a perspectiva de crédito do Brasil ameaçando paralisar ou reverter o positivo momento político e econômico observado recentemente".

O Brasil conquistou o grau de investimento pelas agências internacionais Fitch Ratings e Standard & Poor’s pela primeira vez em 2008. Em 2009, conseguiu a classificação pela Moody’s.

A S&P foi primeira a tirar o selo de bom pagador do Brasil, em setembro de 2015, ação que foi seguida pelas outras duas grandes agências internacionais: Fitch e Moody´s.

Segundo analistas de mercado, historicamente, países costumam levar cerca de 5 a 10 anos para recuperar o selo de país bom pagador.