Economia

Analistas: "Saque do FGTS alivia o bolso, mas impacto na economia é limitado"

Governo espera uma injeção de R$ 34 bilhões na economia; mais de 30 milhões de brasileiros podem sacar os recursos

Por G1 14/02/2017 19h53
Analistas: 'Saque do FGTS alivia o bolso, mas impacto na economia é limitado'
Reprodução - Foto: Assessoria
O dinheiro do FGTS que mais de 30 milhões de trabalhadores poderão sacar a partir de março poderá ajudar a reduzir a inadimplência, mas terá um impacto limitado para reaquecer o comércio e a economia. Parte desses recursos será usada para quitar dívidas, enquanto o restante deve ir para o consumo e aplicações financeiras, acreditam economistas ouvidos pelo G1.

O governo espera que os saques vão injetar R$ 34 bilhões na economia. O saldo das cerca de 49 milhões de contas do FGTS com direito ao resgate soma hoje R$ 43 bilhões.

“Esse dinheiro não vai entrar necessariamente na economia para consumo. A grande parte dos recursos, até mesmo por se tratar de conta de baixo valor, serão usados para o pagamento de dívidas mesmo”, avalia o diretor executivo de Estudos e Pesquisa da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, o dinheiro deverá ser usado para abater dívidas.

A maior parte dos trabalhadores que podem sacar tem saldo menor que R$ 500, diz o governo. Outros 24% têm saldo entre R$ 500 e R$ 1.500. Os dois grupos representam 80% do total de pessoas com direito a sacar o dinheiro. Os demais têm mais de R$ 1.500 a receber.

Consumo e inadimplência

“Como a economia está numa recessão 'brava' há 3 anos, as pessoas estão muito endividadas, o desemprego muito alto e a inflação corroeu renda, a maioria desses recursos deve realmente ser canalizada para o pagamento e dívidas”, avalia Oliveira, da Anefac.

Já o economista Jason Vieira acredita que cerca de 50% dos recursos sacados pelos trabalhadores devem ir para o consumo e terão um efeito positivo para as vendas do comércio, que fecharam 2016 com a maior queda em 15 anos. “Esses saques podem ter um efeito de curto prazo na economia, como tiveram outras medidas. Mas ele é temporário”, avalia.

O restante dos recursos sacados, acredita o economista, vai para quitar dívidas e investir. Segundo Vieira, isso pode ajudar a reduzir o alto nível de inadimplência, mas não ainda é suficiente para reverter o atual cenário de crédito. “É um atenuador, na verdade”, acrescenta.

Menos de 1/5 do valor do 13º salário

Ainda que uma parcela possa ser motivada a usar o dinheiro para consumo, a avaliação é que o impacto para a economia será limitado. Para que se tenha uma ideia do montante em jogo, a estimativa de R$ 34 bilhões em saques representa menos de um quinto (17%) do valor que foi injetado na economia no ano passado com o pagamento de 13º salário (R$ 196,7 bilhões).

Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, apesar de toda a publicidade feito sobre a liberação dos saques, ainda há dúvidas sobre o valor que efetivamente será sacado das contas, o que dificulta qualquer projeção sobre o impacto desse dinheiro na economia.

“É difícil avaliar quanto, mas do que for sacado a maior parte deverá ser usada para o pagamento de dívidas. Pelo menos é o que seria inteligente”, diz. “Acho que para esse ano não tem nenhum efeito na economia. Em algum momento, a pessoa pode querer se endividar de novo ou aumentar a sua dívida. Mas o efeito será defasado”.

Para Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), a concentração de boa parte do montante disponível para saques é outro fator que tende o efeito dinamizador das liberações sobre o consumo. "Metade do valor pertence a um número muito reduzido de contas (100 mil cotistas), pouco mais de 1% dos cotistas. Quanto maior a concentração, menor é a expansão do consumo", afirma.

Ele destaca ainda que a disponibilidade do consumidor para novas compras no trimestre, conforme o apurado pelo Ibevar, está em apenas 7,9%, abaixo do índice registrado no mesmo período em 2015 (10,6%). "Por tudo isso, acredito que o impacto será bem reduzido", afirma Angelo.

A avaliação geral, entretanto, é de que a medida é oportuna e benéfica para os trabalhadores. “Esses recursos são bem-vindo, mesmo porque estão lá parados, rendendo muito pouco e perdendo para a inflação”, destaca Oliveira.