Economia
Após um ano, Fed volta a subir os juros nos Estados Unidos
BC norte-americano elevou as taxas entre 0,5% e 0,75% e sinalizou um ritmo mais acelerado de alta em 2017 após eleição de Trump
A decisão foi tomada por todos os membros do Comitê de Política Monetária do Fed (FOMC). Em seu comunicado, o Fed sinalizou um ritmo mais acelerado de alta para 2017, citando promessas do governo de Donald Trump para impulsionar o crescimento por cortes de impostos, gastos e desregulação. A política de Trump pode trazer pressões inflacionárias, o que favorece o movimento de alta de juros.
"É um voto de confiança na economia", disse a presidente do Fed, Janet Yellen, considerando "prematuro" conjeturar sobre a política econômica de Trump.
O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, acredita que a indicação do Fed de que os juros podem subir mais rápido tende a elevar a cotação do dólar frente a moedas emergentes como o real. O dólar fechou em alta nesta quarta, após uma sequência de sete quedas seguidas, na expectativa pelo desfecho da decisão do Fed.
"A alta [dos juros] já estava precificada. O Fed vai tentar antecipar possíveis movimentos de Trump. Temos uma leitura de que ele terá uma política fiscal mais expansionista, com aumento de gastos, e os juros podem seguir esse caminho", disse ao G1.
O chefe de mercado de capitais da Elevan Financial, Adeodato Volpi Netto, também lembra que há semanas a probabilidade de alta dos juros já estava em 100% nas projeções da maioria dos investidores e que, portanto, já estava precificada no câmbio atual.
Ele avalia, entretanto, que a decisão pode exercer alguma pressão no câmbio e na bolsa brasileira, por conta da combinação com o momento político mais conturbado.
"A decisão do Fed acontece no mesmo momento de uma incerteza política muito forte aqui. A soma desses dois fatores pode trazer alguma volatilidade e pressão para câmbio e Bolsa, mas ainda que aconteça, imagino que passe muito rapidamente porque essa subida de juros não muda a realidade da distorção abissal que tem entre a realidade de juros brasileira e norte-americana", diz Netto, destacando a forte atratividade dos títulos brasileiros a investidores estrangeiros.
Segundo o Fed, os indicadores de novembro mostraram que o mercado de trabalho continua se fortalecendo e a atividade econômica cresceu em um ritmo moderado desde o meio do ano.
Efeitos para o BrasilA alta dos juros pelo Fed pode motivar uma transferência de parte dos recursos aplicados em países emergentes para os EUA. Os títulos do Tesouro americano, atrelados à taxa de juros americana, são considerados o investimento mais seguro do mundo. Se confirmado, esse fluxo de capital pode levar a uma tendência de alta do dólar em relação a moedas emergentes como o real.
A decisão de investimentos depende do apetite de risco dos investidores. Os mais conservadores tendem a procurar economias mais seguras para alocar seu capital, mesmo que paguem juros mais baixos. Em 2008, por exemplo, durante a crise do subprime nos Estados Unidos, a demanda por títulos do Tesouro americano cresceu.
Já os investidores que têm mais apetite ao risco aceitam aplicar recursos em economias mais arriscadas, como os países emergentes, que pagam juros maiores. Quando as taxas de juros estavam próximas de zero nos Estados Unidos, muitos investidores buscaram aplicar seus recursos em ativos de maior rentabilidade em mercados considerados mais arriscados, entre eles o Brasil.
Mesmo com a alta do juro americano, o diferencial de taxas em relação ao Brasil ainda é grande. O Brasil tem uma taxa básica de juros de 13,75% ao ano, patamar que o coloca na liderança do ranking mundial de juros reais (descontada a inflação), com uma taxa de 8,53% ao ano – espécie de termômetro do retorno oferecido a detentores de títulos do Tesouro.
Histórico de decisõesA última elevação de juros nos EUA aconteceu em dezembro do ano passado, quando o Fed elevou os juros pela primeira vez em quase uma década. Desde então, as taxas foram mantidas entre 0,25% a 0,50% nas últimas reuniões do Comitê de Política Monetária do Fed (FOMC).
A taxa básica de juros dos EUA (equivalente à Selic brasileira) foi reduzida a patamares próximos a zero em 2008, para dar fôlego à economia norte-americana durante a crise financeira internacional.
Desde o meio do ano, o Fed já vinha cogitando uma nova elevação dos juros diante de números mais positivos sobre a recuperação da principal economia do mundo, mas foi adiando sua decisão devido à incerteza gerada pelo Brexit, à lentidão da recuperação da economia internacional, aos baixos preços do petróleo e às expectativas com os efeitos para a economia mundial da eleição presidencial norte-americana.
Os integrantes do Fomc vinham expressando dúvidas sobre a consolidação do mercado de trabalho e sobre a evolução da inflação nos EUA diante do fortalecimento do dólar frente a outras moedas.
Os dados do mercado de trabalho para novembro nos EUA foram melhores do que o previsto, fazendo a taxa de desemprego cair para 4,6%, seu menor nível em nove anos, enquanto a inflação, em 1,4%, se aproxima lentamente do objetivo de 2%.
Embora a alta já fosse amplamente esperada, investidores buscavam sinalizações sobre os próximos passos do banco central norte-americano após a eleição de Donald Trump à presidência do país.
O Fed revisou para cima nesta quarta-feira suas previsões de crescimento econômico nos Estados Unidos e se mostrou otimista também em matéria de emprego. Segundo as novas projeções, o PIB dos Estados Unidos deve chegar a 2,1%, no último trimestre de 2017, em relação ao mesmo período de 2016 - ou seja, 0,1 ponto percentual acima do que o previsto há três meses.
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