Economia

Pedro Parente teme que acordo da Opep eleve produção de petróleo de xisto

Presidente da Petrobras disse que é preciso olhar "com muito cuidado" para decisão de cortar produção; executivo não comentou impactos na gasolina

Por G1 02/12/2016 19h38
Pedro Parente teme que acordo da Opep eleve produção de petróleo de xisto
Reprodução - Foto: Assessoria

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, disse nesta sexta-feira (2) que é preciso olhar “com muito cuidado” o acordo da Opep para corte da produção de petróleo, que elevou os preços internacionais esta semana. A declaração foi feita durante o Encontro Anual da Indústria Química (Enaiq), em São Paulo.

“A sustentação desses novos níveis [de preço do petróleo] depende muito da produção de shale oil and gas [petróleo e gás de xisto]. Isso pode, na realidade, atrair mais produção de shale e trazer de volta os preços para o nível entre US$ 40 e US$ 50”, afirmou. O petróleo de xisto é extraído de forma não convencional por produtores norte-americanos e está fora do acordo da Opep.

Esta semana, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) fechou seu primeiro acordo para corte de produção desde 2008, na tentativa de conter a queda elevada dos preços da commodity no mercado internacional.

O nível de produção será reduzido dos atuais 33,6 milhões de barris diários para 32,5 milhões - queda de 3,27%. A decisão fez o preço do barril do petróleo disparar, assim como a cotação das petroleiras no mundo todo.

Política de preços

Na segunda-feira, Parente afirmou que a decisão da Petrobras sobre o valor de seu combustível nas refinarias, que agora é tomada formalmente por um comitê pelo menos uma vez por mês, leva em conta variáveis como preço do petróleo e câmbio, que não podem ser controladas pela estatal.Nas decisões do comitê, a Petrobras pode manter, reduzir ou aumentar os preços dos combustíveis nas refinarias, segundo a nova política da empresa anunciada em outubro. O repasse dos preços ao consumidor fica a critério dos postos de combustível.Desde que a Petrobras mudou o seu sistema de precificação, a estatal reduziu duas vezes o preço da gasolina e do diesel na refinaria - em 14 de outubro e em 8 de novembro.

Questionado sobre um possível aumento de preços dos combustíveis que acompanharia a tendência internacional, o presidente da estatal disse que é preciso aguardar a discussão do comitê. "Não posso dar nenhuma indicação porque não resolvo isso sozinho, é um comitê que tem três pessoas", disse a jornalistas. Segundo ele, a próxima reunião do comitê deve acontecer ainda na primeira quinzena de dezembro.

Novas regras do pré-sal

Parente fez críticas a quem se opõe às novas regras de exploração do pré-sal, que desobrigam a Petrobras de ser sua única operadora. “Como alguém pode ser contra trocar uma obrigação por um direito de escolha?”, disse. “[A nova regra] é boa para a Petrobras e para o país, por que não fazer? O ‘não fazer’ é ideológico e contra os interesses do país.”

O presidente Michel Temer sancionou na terça (29) a lei que desobriga a Petrobras de participar de todos os consórcios do pré-sal e permite que ela defina os campos dos quais quer participar. A lei anterior determinava que a Petrobras seria a única operadora do pré-sal, com participação mínima de 30% em cada consórcio de exploração.

Endividamento alto

Parente disse ainda que a antiga prática de preços dos combustíveis abaixo da paridade internacional teve um participação importante para o alto endividamento da estatal. Ele também mencionou os investimentos que a empresa fez no pré-sal, que, segundo o presidente, estão tendo “resultados extraordinários”.

Mudanças no marco regulatório

O presidente da Petrobras mencionou também que medidas do governo e mudanças frequentes nas regras do jogo são para ele “um péssimo ambiente para a realização de investimentos”, sem no entanto citar quais. “A gente precisa realmente lembrar que uma decisão, uma canetada pode ter uma consequência brutal e violenta em indústrias como a nossa.”

Lava Jato

Sobre as investigações da operação Lava Jato, Parente destacou que a Petrobras foi “a principal vítima desse processo”. “Vários de seus colaboradores foram discriminados por serem da Petrobras, quando menos de 10 executivos da empresa estão sendo processados no âmbito da Lava Jato”, disse. “Não há qualquer benefício que a Petrobras possa ter tido desse processo, fomos uma vítima (....) A Petrobras antes de tudo foi a principal vítima desse processo que nós assistimos.”

Parente disse não saber quanto a Petrobras poderia receber pelo acordo de leniência da Odebrecht, que se comprometeu a pagar uma multa de R$ 6,8 bilhões no acordo de leniência assinado na véspera. "Obviamente temos uma expectativa com relação a esses valores mas não temos nenhuma indicação ainda, disse. "Já recebemos R$ 160 milhões vindos de indenizações e delações e isso comprova mais uma vez a tese de que a Petrobras é vítima, senão não estaria recebendo".