Ciência e Tecnologia

Servidora do TRT/AL desenvolve protótipo de software que rastreia sintomas depressivos em trabalhadores acima dos 60 anos

Por Assessoria 23/04/2025 16h55
Servidora do TRT/AL desenvolve protótipo de software que rastreia sintomas depressivos em trabalhadores acima dos 60 anos
Enfermeira do Trabalho e servidora do TRT-AL Socorro Alécio - Foto: Assessoria

A enfermeira do trabalho e servidora do TRT-AL Socorro Alécio defendeu sua tese de doutorado, na Universidade de Pernambuco – UPE, sobre validação de conteúdo de um protótipo de software para rastrear sintomas depressivos em trabalhadores com mais de 60 anos.

A servidora chegou ao tema da tese a partir de diversos estudos preliminares, que indicaram que uma das escalas mais usadas no mundo e no Brasil -- a escala de depressão geriátrica -- realiza avaliação sobre três escores: leve, médio e grave.

Ela ressalta que a escala não fornece o diagnóstico clínico, mas sim um indicativo de que o trabalhador está apresentando e o que poderá ser feito. “A escala é muito simples. O avaliador vai encaminhar o paciente ou esse futuro paciente para uma abordagem mais aprofundada”, explica.

Socorro Alécio explica que, quanto maior o escore classificado como grave, maior a necessidade do trabalhador procurar um serviço de saúde para acompanhamento adequado de sua sintomatologia.

“A gente consegue mapear exatamente quem são essas pessoas e quais os sintomas depressivos apresentados. E quando analisar em um grupo de trabalhadores, em alguma empresa, isso facilitará uma intervenção mais de perto”, informa.

A pesquisadora ressalta que a grande dificuldade no Brasil é que a maioria das empresas não possui programas específicos, voltados à saúde mental do trabalhador, especialmente com mais de 60 anos.

Socorro Alécio informa que a escala, disponível pelo Ministério da Saúde (https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/tabagismo/escala-depressao-geriatrica/), pode ser utilizada por qualquer profissional de saúde, seja médico, enfermeiro, psicólogo ou profissionais do Centro de Atenção Psicossocial – CAPS.

O protótipo do software foi testado em um grupo piloto dentro do Hospital Oswaldo Cruz da UPE, em 2022, durante a pandemia. “Consegui mapear muitos trabalhadores que já tinham sintomas depressivos e que necessitavam de uma abordagem mais direta, tratando a saúde mental com o rigor necessário”, relata.

A Enfermeira informa que o protótipo do software foi avaliado por uma banca de juízes, composta por expertises na área de tecnologia e saúde. “Para essa avaliação, o recomendado é no mínimo seis juízes, mas participaram 22 juízes, formados por médicos do trabalho, psiquiatra, geriatra, enfermeira do trabalho, enfermeira de saúde mental, enfermeira gerontologista e dois psicólogos. Eles avaliaram vários conceitos, a coerência da linguagem, se é traduzido para o Brasil, se pode ser utilizado por leigo e se possui uma linguagem simples”.

O software recebeu o nome de “Trabalho & Mente. Socorro Alécio pretende lançá-lo; para isso, ela estuda parcerias com instituições que possam viabilizar a ferramenta.

Saúde mental e trabalhador


Para Socorro Alécio, a saúde mental do trabalhador deveria ser prioridade em todos os serviços de saúde, público ou privado. “A saúde mental ainda não é levada tão a sério no mundo do trabalho”, comenta, citando o psicanalista Christophe Dejours que já abordava essa temática em seus primeiros livros. “A gente adoece exatamente devido à organização ou à desorganização interna dos ambientes de trabalho”.

A pesquisadora revela um agravante no contexto brasileiro. “O trabalhador com 60 anos, prestes a se aposentar ou já em idade de aposentadoria, muitas vezes continua trabalhando por ser o mantenedor da família. Isso impacta diretamente a sua saúde mental, contribuindo para o adoecimento”, observa.

A profissional chama atenção para a escassez de estudos que abordem o adoecimento do trabalhador brasileiro acima dos 60 anos. “Vivemos cercados de etarismo por todos os lados, inclusive no meio acadêmico”, denuncia, alertando que isso não é somente uma prerrogativa do Brasil, mas do mundo todo.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que o Brasil é o país com maior prevalência de depressão na América Latina. No continente americano, fica atrás apenas dos Estados Unidos.