Ciência e Tecnologia

Bioeconomia gera renda e sustentabilidade

Debate girou em torno de como esse tema pode ofertar grandes oportunidades de emprego e renda para as empresas e para as populações locais e tradicionais

Por Mário Lima / Wellington Santos 16/05/2024 00h27 - Atualizado em 16/05/2024 18h05
Bioeconomia gera renda e sustentabilidade
Debatedores no Profnit e no Congresso Internacional do Fortec, que estão sendo realizados na sede do Sebrae, discutem sobre importância do Bioeconomia para geração de renda e sustentabilidade - Foto: Edilson Omena

Bioeconomia foi um dos pontos altos do megaevento voltado à propriedade intelectual e transferência de tecnologia no ProspeCT&I, que é o VIII Congresso Internacional do Profnit, que está sendo realizado no Sebrae, em Maceió. O encontro trouxe à capital alagoana cerca de 300 pessoas, entre pesquisadores nos Ambientes Promotores de Inovação em diversos setores como o acadêmico, empresarial, governamental e organizações sociais. O evento se encerra nesta sexta-feira (17).

A Rede Profnit é um Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação dedicado ao aprimoramento da formação profissional para atuar nas competências dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs).

O Profnit é patrocinado pela Caixa, Governo Federal, por meio do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTI), com apoio da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), entre outros parceiros.

O evento é apoiado também pela Cooperativa dos Jornalistas e Gráficos do Estado de Alagoas (Jorgraf) com os canais de TV, portal tribunahoje.com, redes sociais e jornal impresso Tribuna Independente.

Confira abaixo mais um vídeo produzido pela Tribuna no evento:


A Bioeconomia foi um dos temas principais de ontem como uma das alternativas mais promissoras para o desenvolvimento sustentável no Brasil, ao aliar tecnologia e inovação. O debate girou em torno de como esse tema pode ofertar grandes oportunidades de emprego e renda para as empresas e para as populações locais e tradicionais. Embora já presente na produção de vacinas, produtos de higiene, biocombustíveis e até cosméticos, esse modo de produção ainda tem muito espaço para crescer. Isso porque o Brasil é detentor de 20% da biodiversidade do planeta; são 42.730 espécies vegetais distribuídas na Amazônia, no Cerrado, na Mata Atlântica, na Caatinga, no Pantanal e no Pampa, com características climáticas e geográficas adequadas para agricultura, patrimônio genético e guarda um vasto conhecimento dos povos indígenas e tradicionais.

Professora Ana Torkomian, vice-presidente do Fórum de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia (Fortec) - Foto: Edilson Omena

Os debatedores analisaram os motivos que tornam a Bioeconomia um bom negócio para o Brasil e foram destacados pelos integrantes da Mesa Redonda “Desafios da Bioeconomia e Mudanças Climáticas: O papel das Políticas Públicas de CT&I na Construção de Um Futuro Sustentável”.

Um dos palestrantes foi Beto Mesquita, diretor de Florestas e Políticas Públicas da BVRio juntamente com Fernanda Carvalho Stefani, CEO da 100% Amazônia, e Bruno César, coordenador de Programas e Projetos em Bioeconomia do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O debate teve a mediação de Marcela Campista Borges, do Ponto Focal da Universidade Federal do Rio de janeiro (UFRJ).

Eles apontaram, em suas argumentações, como cada um dos tópicos pode colocar o país na liderança desse modelo de negócio e fazer frente à mudança do clima e a outros desafios relacionados ao meio ambiente, à economia, à transição energética, à segurança alimentar e à saúde.

“A Bioeconomia passa por todas as formas de produção que envolve recursos naturais, o que a natureza pode nos prover. Existem várias Bioeconomias, como o da floresta em pé, de biocosméticos, biomassa, energia. É entender que para cada uma delas, existem políticas públicas adequadas e que é um vetor de desenvolvimento de geração de trabalho, de renda, nos meios rural e urbano primando pela conservação ambiental, levando dignidade a área degradadas ou depreciadas economicamente”, resumiu à Tribuna o professor Beto Mesquita.

CONGRESSO DEBATE LEI DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

A lei da inovação tecnológica, criada no âmbito do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, instituída pela Lei nº 13.243/2016 e regulamentado pelo Decreto nº 9.283/2018, foi debatida nessa quarta-feira (15), no 14º ProspeCT&I e 8º Congresso Internacional PROFNIT, no painel Empreendedorismo inovador como forma de transferência de tecnologias. A lei foi criada desenvolver o ambiente de inovação no Brasil, com o objetivo de permitir que pequenos negócios tirem melhor proveito das grandes oportunidades trazidas pelo mercado.

A professora Ana Torkomian, vice-presidente do Fórum de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia (Fortec), coordenadora dos debates, afirmou que as nossas universidades brasileiras estão bastante atentas à lei da inovação e a necessidade da implementação de políticas de proteção da propriedade intelectual e transferência de tecnologia, e estão criando seus próprios núcleos de inovação.

“A maioria das universidades já tem seus núcleos criados. Quase 200 instituições já tem o núcleo criado e isso é o passo zero para a implementação dos outros pontos que tem nessa política de inovação e que deve ser implementada. Mas há 20 anos que já lidamos e promovemos políticas de inovação. A primeira lei é de 2004, e foi conclusiva. Mas a gente tem uma segunda versão de 2016, que foi regulamentada em 2018. A lei, justamente, procura estimular a inovação no país, aproximando as instituições que geram o conhecimento das instituições que são capazes de levar esse conhecimento para o mercado na forma de produtos, serviços e processos que são as empresas”, assinala Ana Torkomian.

A professora diz ainda que o próprio ecossistema formado por universidades, institutos de pesquisa e empresas já promovem inovação, incentivando programas de cooperação e estimulando que a universidade tenha um ambiente propício para essa cooperação.

“Então, todas as universidades têm que ter uma estrutura de universidades, institutos de pesquisa, tem que ter uma estrutura que, pela lei, que se chama Núcleo de Inovação Tecnológica, que são nossos NITS. Que proteja a propriedade intelectual da universidade, que são os resultados de pesquisa que podem se transformar em patentes ou outras formas de propriedade intelectual como cultivares, marcas, softwares. Essa proteção é feita de maneira que seja possível transferir esse conhecimento, essa tecnologia, para parceiros que vão comercializar, industrializar, colocar no mercado”, completou.

No caso específico das spin off, que são a caçula desse ecossistema tecnológico, que dão modelos de oportunidade e invenção de mercados diferenciados, ou em nichos diferentes, ainda enfrentam dificuldades na ser desenvolvimento, por terem formatos diferentes.

“As universidades podem optar por estimular a criação de uma nova empresa, que são justamente chamadas spin-offs, que são novas empresas criadas para explorar o conhecimento desenvolvido na universidade. Mas realmente a universidade tem menos facilidade com isso, porque o negócio da universidade é formar a pessoa, né? É gerar conhecimento, fazer pesquisa. Então, a hora que você fala em criar a empresa não é uma coisa que que é natural no ambiente acadêmico. Historicamente, não é natural no ambiente universitário. Por isso é importante ter parceiros como o Sebrae. As universidades estão tentando se adequar, adequar a sua estrutura, essa é a ação dos núcleos de inovação para que esse processo seja alavancado, nessas spin-offs.

Ao mesmo tempo, lembra a professora, as spin-offs passam por um ciclo virtuoso. Elas estão avançando nessa nesse contexto do ecossistema da inovação e da tecnologia.

“Existem estruturas para estimular a criação dessas spin-offs. A gente tem incubadoras, parques tecnológicos, que são estruturas que estimulam a criação delas. E essas spin-offs podem gerar novos resultados de pesquisa junto com a universidade. Gerar outras empresas. Então, sim, é um círculo virtuoso”.

RELATÓRIO DE INOVAÇÃO

A vice-presidente do Fortec (Fórum de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia), que coordenou a mais recente Pesquisa Fortec de Inovação ano base 2022, analisou e resumiu os resultados da enquete, durante sua exposição. Entre esses bons resultados, estão as mais de mil inscrições ativas tanto na rede de mestrados profissionais do Profnit, como cursos de curta duração, seminários, encontros nacionais e regionais e uma rede consolidada de 152 Núcleos de Inovação Tecnológica, os NITs, com missões estabelecidas, planos de ação criados a partir de posições e discussões em prol do desenvolvimento sustentado país, do ponto de vista social, econômico e ambiental.

“Temos também já implantados 38 pontos focais, distribuídos em 25 estados. Esses NITS estão promovendo e difundindo conhecimento científico e tecnológico em 188 Instituições Científicas e Tecnológicas de Inovação, os ICTS. Cerca de 80% dessa são formadas por instituições públicas, sendo 77% no ensino superior, com uma média de idade (produtividade) de 14 anos.

No final da palestra, a professora falou sobre o conceito de universidade empreendedora.

“A Universidade Empreendedora é aquela universidade que ela não fica fechada em si. Ela dá sua contribuição para o entorno no qual ela está inserida, né? E ela vai além. Ela interage com a sociedade. Então ela não só faz transbordar a tecnologia. Na forma de cooperação com empresas ou criação de novas empresas. Mas ela participa do desenvolvimento econômico e social do ambiente em que ela está inserida”, assinalou.

CASES EM SP E ALAGOAS

Como professora titular da Universidade de São Carlos (SP), Departamento de Engenharia e Produção, Ana Torkomian, confirma que a UNFScar é uma instituição de ponta quanto à ciência e tecnologia, inclusive sendo reconhecida em todo mundo, como de excelência na questão de inovação tecnológica.

“São Carlos tem um ambiente muito favorável, porque a cidade é relativamente pequena, com uma população de 300 mil habitantes, por outro lado, tem importantes universidades, como a Universidade Federal de São Carlos e campus da Universidade de São Paulo. Além disso, a cidade também tem duas unidades da Embrapa de pesquisa. Isso acaba gerando um potencial de conhecimento muito grande para ser explorado. A gente tem um doutor para cada 100 habitantes. E agora um levantamento recente mostrou que a gente tem um índice de número de startups por habitante que é maior do que de Israel, que é conhecida como a startup nacional. Então, é um motivo de orgulho e é uma decorrência desse ambiente que estimulou a geração de conhecimento.

No Nordeste ela destacou o trabalho da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), na questão de transferência de tecnologia e do ecossistema inovador como um todo?

“Eu vejo um esforço muito grande sendo desenvolvido aqui, na Universidade Federal de Alagoas, que é a responsável pelo nosso programa, o próprio MIT, que é um mestrado Profissional em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia do Fortech. Então, acho que isso é uma abertura superimportante. A gente tem muitas universidades que participam do nosso esforço de promoção da inovação. Acho que tem. É claro que há dificuldades a serem transpostas, mas assim dá muita confiança de ver o engajamento das instituições e das pessoas, né? E do Nordeste em geral e em particular aqui de Alagoas, na promoção do empreendedorismo inovador e da inovação propriamente.