Ciência e Tecnologia
Reconhecimento marca 1ª edição do Meninas e Mulheres na Ciência
Competência e talento elas têm e sempre tiveram. No entanto, se deparavam com espaços negados e a falta do merecido reconhecimento por suas relevantes contribuições, nas mais diversas áreas, apagado ou subestimado ao longo da história. A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) se une a um movimento crescente e necessário na luta por equidade de gênero de modo a dar visibilidade e estimular a participação do público feminino no ambiente universitário. Na última sexta-feira (21) foi dia de enaltecer o trabalho de algumas pesquisadoras com a entrega do Prêmio Meninas e Mulheres na Ciência.
“Esse prêmio é uma ação institucional na direção da equidade de gênero na Ufal, voltada para a valorização das mulheres e na busca por justiça e igualdade, promovendo a excelência e o progresso da ciência de maneira a valorizar o papel da mulher na sociedade e não apenas na Universidade. Que cada uma aqui presente possa levar essa mensagem para casa, para as futuras gerações”, defendeu a professora e pesquisadora Magna Moreira, que também é a coordenadora do prêmio.
Essa foi a primeira edição e teve um sentido ainda mais especial, uma vez que no contexto da Ufal, considerando o universo masculino e feminino, a pessoa cuja produção científica é mais citada pelos pares acadêmicos é uma mulher: a professora Marília Goulart, do Instituto de Química e Biotecnologia (IQB). Ela também foi agraciada com o prêmio e, apesar das inúmeras condecorações já recebidas ao longo da carreira, destaca que, a cada uma que recebe, a responsabilidade só aumenta. “Muitas pessoas se espelham e esse espelho não pode embaçar. A evolução da ciência é formar pessoas cada vez melhores. Estou muito feliz e honrada por estar aqui, por essa oportunidade. Parabenizo a equipe que idealizou esse prêmio, por buscar reconhecer as mulheres pesquisadoras”, disse a docente.
E destacou: “Não fazemos nada sozinhos, a pesquisa é feita em conjunto com nossas alunas e alunos. O que me faz mais feliz é ver meus ex-alunos se tornando pesquisadoras, pesquisadores, e obtendo esse reconhecimento. Por isso, eu digo: não desistam, não desanimem. Persistam!”.
A fala da professora Marília caminha em direção ao sentimento das Meninas na Ciência que foram premiadas. Para as que estão iniciando, receber um prêmio acadêmico é um estímulo a acreditarem no potencial do que realizam e a persistirem nos estudos. É o que confirma a estudante do oitavo período do curso de Farmácia, Ashelley de Souza. “Estou muito grata. Foi uma surpresa. É como se todos os seus esforços fossem reconhecidos, porque a pesquisa é difícil, nem sempre os resultados são como esperamos. Esse reconhecimento é um abraço”, revelou a discente.
Envolvida com atividades de iniciação científica desde o início do curso – já está no terceiro ciclo do Programa Institucional de Iniciação Científica (Pibic) – ela conta que o prêmio a deixou “empolgada” e que vai persistir. “Desde que entrei na graduação, minha meta sempre foi a carreira acadêmica. Vou fazer mestrado e doutorado”, afirmou decidida.
Cherlly Paranhos, estudante de Pedagogia, também destacou a felicidade por ter sido premiada com sua pesquisa voltada para formação de professores de educação infantil. “Fiquei muito feliz. A gente se debruça, é muita dedicação e esse prêmio incentiva a continuar”, disse ela que planeja fazer o mestrado na área.
Já no início da graduação na Ufal, elas encontraram oportunidades de dar os primeiros passos no campo da pesquisa por meio do Pibic. Foi assim também com Everlaine Leite, bióloga já formada pela Universidade e mestranda no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), e mais uma das agraciadas. “Estou muito feliz e agradecida. É muito importante esse reconhecimento, mediante as conquistas de todas as mulheres que vieram antes e que virão depois nessa luta em busca da equidade entre os gêneros”, destacou ela, premiada em razão de uma pesquisa relacionada ao efeito antitumoral de uma substância de origem natural.
Apesar de iniciantes na pesquisa, algumas das meninas já colecionam outras premiações, mas a sensação é sempre como se fosse a primeira. Na universidade, cada prêmio conquistado é uma validação única pelos pares da comunidade científica de que o trabalho realizado contribui para o saber científico, para o progresso da ciência nacional e mundial. “Fiquei muito feliz com o prêmio. Em momentos da graduação, a gente desacredita do nosso trabalho e esse é um momento de afirmação de que aquilo que vem sendo feito é de excelência”, comemorou a jovem Islla Mirella Silvino, graduanda do nono ano do curso de Engenharia de Petróleo e que também almeja seguir a carreira acadêmica.
Categoria Mulheres na Ciência – jovens pesquisadoras
Graduação, mestrado e doutorado, praticamente, sem pausa. Kalline Cavalcante Vasconcelos, mestra em engenharia química pela Ufal iniciou, recentemente, o doutorado pelo Programa de Materiais do Centro de Tecnologia (Ctec), também na Universidade. Como bem disse a professora Marília ao falar para as demais pesquisadoras, o trabalho de pesquisa não pode parar e, muitas vezes, nem há tempo para se comemorar as conquistas.
Mas quando se faz o que acredita, o sentimento de satisfação prevalece. Kalline ressalta que encontrou na pesquisa a possibilidade de trabalhar com o que gosta e, na manhã da sexta-feira (21), foi buscar mais uma premiação para se juntar às outras que já recebeu como reconhecimento do seu fazer científico. Nesse caminho, ela recorda a importância de ter apoio e incentivo. “Meu orientador, professor Leonardo Oliveira, foi quem me incentivou a me inscrever. Ele insistiu muito: ‘Você é capaz, você pode, inscreva-se’, ele me disse. Fiz a minha inscrição no último dia”, recordou.
E reconhece: “Ele [Leonardo Oliveira] é o maior incentivador de todas as alunas e alunos. Ele que quer que a gente se desenvolva cada dia mais”. Esse apoio, além de fazer Kamilla persistir e confiar no trabalho que realiza, também a motiva a seguir na carreira acadêmica. Ela é professora da educação básica, mas, daqui para frente, “a meta é ensinar na universidade”.
Premiadas na categoria Sênior
Anos de pesquisa, de experiência e vários trabalhos publicados fazem das pesquisadoras sênior referência para quem está começando. A cerimônia de premiação também contou com a presença de renomadas pesquisadoras da Ufal, como a professora Simoni Meneghetti, também do IQB. Com o currículo composto por relevantes premiações, a pesquisadora recebeu o prêmio na categoria Sênior e afirmou que o reconhecimento do trabalho, em qualquer nível de formação, é de suma importância.
“Para as meninas mais novas, traz uma motivação ao trabalho do dia a dia. Para quem já está com uma trajetória construída dentro da Universidade, impulsiona a continuar”, disse. E reforçou: “Instituir esse tipo de premiação é importante para a comunidade acadêmica, uma vez que reconhecer os talentos locais traz benefícios para toda a comunidade”.
Fernanda Selingardi Matias foi também uma das talentosas pesquisadoras da Ufal que receberam o prêmio na categoria Sênior. Entre suas atividades no Instituto de Física (IF), Fernanda também é reconhecida por seu trabalho em iniciativas que visam à popularização da ciência, à carreira acadêmica e à promoção de mulheres na pesquisa. Em 2022, a docente foi uma das vencedoras da 17ª edição do Programa para Mulheres na Ciência e selecionada como uma das sete mulheres com as pesquisas mais importantes do país. A seleção é promovida pela L’Oréal Brasil, em parceria com a Unesco e a Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Para consultar o nome de todas as meninas e mulheres premiadas, clique aqui
Evento prestigiado
A entrega do Prêmio Meninas e Mulheres na Ciência aconteceu no Auditório da Reitoria. A cerimônia foi prestigiada não apenas pelas pesquisadoras premiadas, mas também por familiares, colegas de turma, de trabalho e admiradores da dedicação de cada uma delas. A abertura do evento teve a apresentação da professora Débora Borges, do quadro de docentes do curso de licenciatura em Música da Ufal e coordenadora do projeto Laboratório de Violino, que oferece aulas gratuitas para crianças e adultos.
A mesa de abertura foi composta pela decana Maria Cícera de Albuquerque, da Escola de Enfermagem, representando o reitor Josealdo Tonholo; as professoras Iraildes Assunção, pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação (Propep); Magna Moreira, coordenadora de Pesquisa da Propep; Sílvia Uchoa, coordenadora de Inovação e Empreendedorismo da Propep; e Manuela Callou, representante do Comitê Assessor de Pesquisa da Ufal; Iris Gomes Neto, assessora de bolsas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (fapeal); Taciana dos Santos, diretora vice-presidente da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (fundepes); e a discente Francielly dos Santos, presidente do Diretório Central de Estudantes (DCE) da Ufal.
“Esse é um dia simbólico para mim, depois da minha posse, da minha entrada aqui na Ufal. Esse é o dia mais simbólico que vivi aqui dentro, pois a ciência me deu outra perspectiva na vida. A ciência transforma, sobretudo, a vida daqueles que vivem em condições de vulnerabilidade. É um prazer premiar, reconhecer o que cada uma de vocês fizeram. Fazer ciência é mudar a vida das pessoas e isso a Universidade faz com primazia. Parabenizo a todas”, disse Magna Moreira, emocionada. Por seu trabalho na ciência, a pesquisadora também recebeu o prêmio na categoria Sênior.
A presidente do DCE Ufal, a diretora vice-presidente da Fundepes e a assessora da Fapeal, ao parabenizarem as pesquisadoras, destacaram a importância do prêmio e a honra de poder fazer parte desse momento. A docente Manuela Callou, do curso de Relações Públicas da Ufal, falou do orgulho em presenciar a primeira edição do Meninas e Mulheres na Ciência. “Sinto-me orgulhosa de ver a Ufal valorizando as mulheres e suas ideias inovadoras. Vocês são as primeiras a receberem este prêmio e serão as motivadoras para que outras pesquisadoras venham ocupar esse espaço que não foi dado, foi conquistado, em busca de uma sociedade igualitária e justa”, salientou.
Muitas pesquisadoras foram acompanhadas dos filhos, alguns ainda no ventre. Sílvia Uchoa comentou que essa é a realidade da mulher pesquisadora e que precisa ser compreendida e acolhida. “Saúdo as pesquisadoras e também seus bebês, seus filhos”, disse a coordenadora de Empreendedorismo e Inovação que aproveitou a oportunidade para falar sobre os avanços da Universidade para proteger o trabalho intelectual das pesquisadoras.
Encerrando o momento de falas, Iraildes Assunção aproveitou para agradecer ao reitor Josealdo Tonholho e a vice-reitora Eliane Cavalcanti, apontados pela pró-reitora como grandes incentivadores de ações a favor da equidade de gênero na Universidade. Os agradecimentos também foram dirigidos à comunidade acadêmica, às agências financiadoras de pesquisa, bem como a todas as pesquisadoras que integram a Ufal.
“Desde o início da nossa gestão à frente da Propep, implementamos uma série de medidas para combater a inequidade de gênero no ambiente acadêmico da Ufal. O Prêmio Meninas e Mulheres na Ciência é mais uma delas. Estamos trabalhando em uma instrução normativa para orientar acerca de ações para equidade de gênero, embasada em pesquisas do mundo todo, para que essas ações se tornem política institucional e que sejam continuadas, independente de quem esteja na gestão central da Universidade”, informou a pró-reitora.
E concluiu: “Respeito à diversidade, reconhecer o papel decisivo das mulheres, inspirá-las, lutar por mais representatividade nos espaços são ações que beneficiam não apenas as mulheres, mas enriquecem toda a sociedade ao permitir que cada pessoa alcance seu pleno potencial, independente do gênero”.
Para saber mais sobre o prêmio, acesse aqui
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