Ciência e Tecnologia

Aplicativo chinês TikTok chega a mais de 1 bilhão de downloads

Sucesso da rede social levanta preocupações sobre censura e influência chinesas

Por AFP e G1 29/11/2019 17h17
Aplicativo chinês TikTok chega a mais de 1 bilhão de downloads
Reprodução - Foto: Assessoria
A rede social de vídeos TikTok conquistou adolescentes de todo o mundo com passos de dança, desfiles filmados e dicas de maquiagem, embora também gere controvérsia sobre seus vínculos com o governo e a censura de conteúdo na China. São cerca de 500 milhões de usuários ativos nos Estados Unidos, Índia, Japão, Indonésia, França e outros países, incluindo o Brasil. O aplicativo ultrapassou, na semana passada, a barreira de 1,5 bilhão de downloads. Desses, 614 milhões foram feitos apenas este ano. O TikTok foi lançado em 2017 pelo grupo chinês Bytedance, como uma versão internacional de seu aplicativo Douyin, que já estava funcionando na China desde 2016. "Este êxito enorme e imediato demonstra a pertinência da estratégia focada nos consumidores", neste caso jovens que querem se comunicar de forma "mais direta e expressiva", afirma Bo Ji, vice-reitor da Escola de Comércio Cheung Kong em Pequim. O conceito é eficaz: vídeos curtos centrados em coreografias improvisadas e em apostas que os pré-adolescentes lançam em seus smartphones. Tem se mostrado uma receita de sucesso, parecida com a do aplicativo Musical.ly, que foi adquirido pelo TikTok em 2017 por mais de US$ 1 bilhão, em uma fusão que permitiu alcance e sucesso internacional ao aplicativo chinês. Isto tornou o fundador do Bytedance, Zhang Yiming, de 36 anos, um bilionário e uma figura central de uma nova geração de empreendedores tecnológicos chineses. Zhang entrou em 2019 no top 20 dos homens mais ricos da China com uma fortuna de US$ 13,5 bilhões, segundo a Hurun China Rich List, superando o emblemático dono do Baidu (o "Google chinês") Robin Li. "Zhang é um empreendedor muito pouco comum na China. Construiu uma coisa para o mundo inteiro, e entende os jovens e sua psicologia", insiste Bo Ji. Segundo Liu Xingliang, diretor do centro de pesquisa sobre internet DCCI, o executivo encarna um tipo de empreendedor muito diferente de Jack Ma, visionário fundador da gigante do e-commerce Alibaba. "Zhang Yiming é como um jovem Pony Ma", o fundador do mastodonte Tencent — que é dona do jogo League of Legends e do serviço de mensagens WeChat, o WhatsApp da China —, diz à AFP Liu. "Era a princípio um programador informático" dedicado ao bom funcionamento dos produtos e "bom conhecedor da tecnologia". Douyin, versão chinesa do TikTok, teve um êxito similar: número um no país com cerca de 400 milhões de usuários ativos, segundo a consultora iResearch, soube atrair famosos, como o ator e cantor Kris Wu. Apesar do alcance e popularidade da Bytedance com o Tiktok, a primeira empreitada de sucesso de Zhang foi o aplicativo "Jinri Toutiao" ("Na capa de hoje"), um compilador de artigos de informação que se tornou um dos apps mais populares do país. Lá, Zhang Yiming recorreu a inteligência artificial para personalizar os conteúdos propostos para cada usuário, mudando os "costumes de leitura", uma fórmula que repetiu no TikTok, aponta Liu. Censura e cibersegurança A Bytedance não está imune ao rigoroso controle da internet, promovido pelas autoridades chinesas. O Toutiao já havia sido acusado de "difundir conteúdo pornográfico e vulgar", e por isso o grupo recrutou em janeiro do ano passado 2 mil "censores". Depois de um novo chamado de atenção oficial e um desaparecimento temporário das lojas de downloads, o aplicativo prometeu aumentar suas equipes de censuras para 10 mil empregados. Nesta quinta-feira (28), o TikTok admitiu ter suspendido "por erro" um vídeo viral que condenava a repressão exercida por Pequim contra os muçulmanos de Xinjiang e pediu desculpas à adolescente que o havia publicado nas redes sociais. No vídeo, a adolescente começava ensinando a fazer um tutorial de maquiagem e mudava a temática, pedindo que os usuários da rede social buscassem no Google sobre a repressão e os campos de detenção da China contra muçulmanos. As controvérsias se multiplicam também no exterior, já que o TikTok foi proibido em Bangladesh e brevemente na Índia, onde as autoridades o acusaram de difundir vídeos pornográficos. Por outro lado, o TikTok foi condenado a uma multa de US$ 5,7 milhões nos Estados Unidos por ter coletado de forma ilegal dados pessoais de menores. Ainda mais perigoso, senadores americanos manifestaram sua preocupação de que o dono do TikTok possa estar obrigado a "cooperar com os serviços de inteligência do Partido Comunista chinês", o que colocaria em perigo "a segurança nacional", apesar de que os dados dos usuários são armazenados nos Estados Unidos. Uma agência federal americana abriu uma investigação de segurança nacional sobre o aplicativo, informou no início de novembro o jornal "The New York Times". Consultado pela AFP, o TikTok afirmou que os dados de seus servidores fora da China "não estão sujeitos à legislação chinesa". E insiste em que não está "influenciado por nenhum governo, incluindo a China".