Ciência e Tecnologia
"Precisamos proteger tudo", diz Eugene Kaspersky, dono da empresa de antivírus
Fundador da companhia de segurança russa diz que não usa celular pessoal e teme carros autônomos conectados: "são simuladores, você não está no controle"
Eugene Kaspersky, criador da companhia russa de antivírus que leva seu nome, encerrou sua palestra magistral durante a 7ª Cúpula Latino Americana de Analistas de Segurança da Kaspersky Lab, em Buenos Aires, na Argentina, com um alerta para aqueles que optam por dispositivos conectados. O executivo, que dispensa o uso de smartphones na sua vida pessoal e teme o uso indiscriminado de novos carros autônomos conectados, apontou para todos os aparelhos em rede na sala e disparou um alerta sobre cibersegurança: não há aparelho conectado seguro.
"Precisamos proteger tudo. Das máquinas de cafés até as indústrias", disse Kaspersky na segunda-feira (11), antes de ir ao Brasil para palestrar sobre o tema.
O fundador da companhia dividiu em níveis as áreas de proteção, dando exemplos que vão desde as necessidades do usuário comum aos governos e indústrias de setores críticos como transportes, serviços financeiros, energia e telecomunicações. Com o aumento de aparelhos conectados e a Internet das Coisas (Iot, ou Internet of Things, em inglês) — que em 2020 devem superar 25 milhões junto aos aparelhos celulares e tablets — vê necessário uma regulação.
A exploração do IoT
Em uma curva de crescimento, os vírus feitos para novos aparelhos conectados — como TVs, câmeras de segurança e até mesmo fechaduras de porta inteligentes — avançam em ritmo acelerado. Se em 2015 a empresa rastreou 482 deles, em 2016 esse volume cresceu para 2.509. Uma tendência que deve se manter no setor.
Ainda sobre Iot, Kaspersky reconhece que algumas de suas previsões não se concretizaram. O especialista, que acreditava que o maior vetor dos ataques seriam as Smart TVs — televisões inteligentes conectadas à Internet com seus próprios softwares —, entendeu que as botnets se formaram por câmeras de segurança que foram comprometidas em ataques aos sistemas de rede.
A explosão de malware
Kaspersky, que celebra em 2017 o aniversário de 20 anos da companhia, viu as ameaças digitais aumentarem exponencialmente nas duas últimas décadas. Entre 1986 e 2006, seus dados de pesquisa apontam que havia 1 milhão de amostras. Já em 2016, durante o período de apenas uma semana, haviam 2,2 milhões. Ou seja, são 310 mil novos malwares reportados e identificados por dia.
Todos os sistemas estão sob ataque. Uns mais, outros menos. Uma curva crescente de atacantes que acompanha o interesse dos desenvolvedores. Quanto mais gente desenvolvendo para um sistema, mais gente também criando ameaças. É o que mostrou em uma sequência de slides com o montante, em milhões, dos ataques aos softwares operacionais iOS, Linux, macOS, Android e Windows. Uma disputa em que o sistema da Microsoft se destaca com folga.
O alto custo do crime digital
Kaspersky, que estimula o uso de barreiras antivírus como proteção, argumenta que os custos globais do cibercrime beiram os US$ 450 bilhões por ano. Quase 13 vezes o valor de gastos também globais com pesquisa espacial, que seriam, segundo o especialista, de US$ 33 bilhões. A solução seria a prevenção. Esta, porém, não foi orçada por Eugene, que defende que os sistemas também devem ser construídos já pensando em segurança, em uma postura proativa de software.
Grupos criminosos mistos
Para Kaspersky, porém há "boas notícias". Na sua visão, os ataques com foco em terrorismo e sabotagem são o último estágio na evolução dos vírus. As investidas, porém, também serão as mais catastróficas já registradas. Um ataque de escala global pode causar um choque na sociedade, custar bilhões e causar danos difíceis de ajustar a curto prazo, pondo vidas — que dependem dos sistemas — em risco.
O fundador da companhia aponta ainda que grupos criminosos "tradicionais" e hackers agora trabalham juntos, desativando sistemas digitais de segurança para promover ataques físicos como roubos de dinheiro e outros crimes.
"A boa notícia é que não tenho novas previsões. Os ataques aos setores mais críticos [transporte, energia, telecom] são 'o pior’. O pior que pode acontecer é um terrorista tradicional usar hackers que atacam hospitais", disse. O especialista fez referência ao fato de que, até mesmo numa guerra, hospitais são poupados. O que não aconteceu no caso do WannaCry, por exemplo. Para Kaspersky, hackers sem limites que atacam esse tipo de alvo mais frágil, podem causar danos graves.
*A jornalista viajou a convite da Kaspersky
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