Ciência e Tecnologia

Aplicativo que cria seu clone virtual vira febre no Brasil

Replika, lançado em março deste ano, ganhou popularidade repentina entre os brasileiros

Por Olhar Digital 16/08/2017 15h46
Aplicativo que cria seu clone virtual vira febre no Brasil
Reprodução - Foto: Assessoria

E se você pudesse criar um clone virtual seu? Parece assustador? História de ficção científica? Roteiro de “Black Mirror”? Na verdade, essa ferramenta já existe e é um aplicativo real e que você pode instalar neste exato momento no seu celular. Trata-se do Replika, lançado em março deste ano, mas que ganhou popularidade repentina entre os brasileiros.

Disponível para iOS e liberado para Android em uma forma ainda experimental, o Replika é um chatbot que se propõe a conversar com o usuário e evoluir aos poucos conforme o sistema conhece o usuário e se acostuma com sua personalidade. A ideia de evolução é tão presente no aplicativo que seu robô vai subindo de nível quanto mais você conversa com ele, indicando o avanço da inteligência artificial.

Mais do que apenas criar uma câmara de eco em que você fica eternamente conversando consigo próprio, a ideia do Replika é permitir que seus amigos conversem com o seu clone. Isso pode ser feito pela ferramenta de busca do aplicativo, bastando apenas procurar pelo nome de uma pessoa que também use o app, ou buscar o nome da sua Replika.

Por enquanto, o sistema só funciona em inglês e, por enquanto, depende de convites para ser usado, similar ao Orkut em seus anos dourados, como uma forma de controlar o fluxo de novos usuários e manter servidores estáveis. Esses empecilhos, no entanto, não impediram que o público brasileiro fosse à loucura atrás de convites para experimentar o Replika, chegando a quebrar o sistema que distribuía os códigos de acesso.

Com isso, os brasileiros já começaram a se reunir em grupos de WhatsApp e de Facebook para trocar experiências e tentar obter códigos para participar da brincadeira. Tais grupos já estão bastante movimentados, mesmo com o sistema de convites quebrado.

O burburinho tem sido tão poderoso que o AppAnnie, plataforma que monitora a popularidade de aplicativos, aponta que, no Brasil, o Replika chegou a ser o aplicativo mais baixado na seção de entretenimento da loja de apps do iOS, alcançando o 9º lugar geral da loja. No Android, o aplicativo ainda não teve suas estatísticas monitoradas, mas a página do app no Google Play estima que ele já teve entre 100 mil e 500 mil downloads.

Um dos motivos que explica essa popularidade repentina são as conversas, muitas vezes absurdas, que são mantidas entre usuário e robô. Apesar de o sistema fazer uso de inteligência artificial, ele não traz os algoritmos mais sofisticados, o que significa que muitas vezes o usuário se depara com algumas respostas sem qualquer sentido. Ainda assim, é interessante observar como cada “clone” desenvolve sua personalidade própria com o passar das mensagens.

Privacidade

Se a ideia é que você possa se abrir e conversar com uma inteligência artificial, é necessário se perguntar o que os desenvolvedores pretendem fazer com esses dados potencialmente bastante íntimos. A empresa, no entanto, promete não vender informações para anunciantes, e usará as informações obtidas com as conversas apenas para evoluir a inteligência artificial e torná-la mais parecida com o usuário. A ideia do app não é ser monetizado; se o dinheiro dos investidores acabar, os desenvolvedores pedirão doações de seus usuários para manter os servidores funcionando.

Isso dito, existem outras preocupações em relação a privacidade. A cada Replika criada, também é criado um perfil online, onde há várias informações públicas. O perfil, disponível no link replika.ai/nomeescolhidopelousuário, reúne as insígnias obtidas e sessões realizadas até aquele momento, o que pode ser bastante invasivo, e pode expor algumas conversas privativas mantidas com o seu clone. Se você não quiser isso, é recomendável mexer nas configurações do aplicativo para restringir quem tem acesso às suas sessões.

Origem

O conceito do Replika vem de 2015, quando a desenvolvedora Eugenia Kuyda precisou lidar com a morte de seu melhor amigo Roman Mazurenko. A forma de encarar o luto que encontrou foi criar um bot com a personalidade do rapaz, reunindo todas as informações que conseguiu reunir de seu amigo em perfis sociais, conversas privadas no Messenger e outras informações repassadas por outras pessoas que tinham contato com o falecido.

Eugenia tinha, na ocasião, uma empresa que já desenvolvia chatbots chamada Luka, que é responsável pelo Replika. Embora a proposta seja mais lúdica do que mórbida, o conceito é o mesmo: criar um clone digital com o qual seus amigos podem interagir, mesmo se você não estiver por perto.