Cidades

Defasado 20 anos, Plano Diretor prevê resguardar patrimônio de bairros afetados pela Braskem

Conforme apresentado na proposta do novo Plano Diretor a que a Tribuna teve acesso, define-se a área afetada pela atividade de mineração da Braskem como Zona de Monitoramento e Reparação

Por Wellington Santos / Tribuna Independente 20/09/2025 08h20 - Atualizado em 20/09/2025 08h21
Defasado 20 anos, Plano Diretor prevê resguardar patrimônio de bairros afetados pela Braskem
Vereador Allan Pierre aponta para edifício abandonado no bairro do Pinheiro; parlamentar tem cobrado envio do Plano Diretor de Maceió para discussão e ajustes dos seus pares na Câmara Municipal - Foto: Adailson Calheiros

Um dos assuntos mais discutidos no cenário urbano de Maceió é a atualização do Plano Diretor da cidade. O plano, que deveria ter sido revisado em 2015, ainda está em atraso e é aguardado com expectativa pela sociedade maceioense, que busca um modelo mais sustentável e adaptado às realidades atuais. Dessa forma, o Plano Diretor da capital alagoana está defasado há 20 anos.

Conforme apresentado na proposta do novo Plano Diretor a que a Tribuna teve acesso, define-se a área afetada pela atividade de mineração da Braskem como Zona de Monitoramento e Reparação (ZMR). Essa zona abrange o bairro do Mutange e partes dos bairros Bebedouro, Bom Parto, Farol e Pinheiro, reconhecidos por seu valor histórico, cultural, ambiental e paisagístico, e que tiveram sua dinâmica urbana interrompida em decorrência do desastre tecnológico provocado pelo colapso de cavernas subterrâneas, oriundo da exploração de sal-gema na área urbana do município. Assim, fica estabelecido que não será permitido nenhum tipo de uso econômico, habitacional, social ou de lazer na ZMR durante o período de vigência do Plano Diretor.

A Tribuna entrou em contato com o Instituto de Planejamento de Maceió (Iplan), órgão da estrutura da Prefeitura de Maceió, responsável pelo Plano Diretor, sobre o prazo de apresentação à Câmara Municipal de Maceió para as discussões e debates. Por Nota, a assessoria do Iplan disse que o Plano Diretor encontra-se em fase final de ajustes técnicos no texto de lei, etapa necessária para assegurar a precisão e a consistência das diretrizes propostas. Assim que essa etapa for concluída, o documento será encaminhado à Câmara de Vereadores com a máxima celeridade, para que possa ser apreciado e debatido pela sociedade por meio do processo legislativo”, finaliza o comunicado.

Edifício abandonado no Pinheiro (Foto: Adailson Calheiros)

“ÁREAS NÃO SERÃO EDIFICÁVEIS NEM ALVOS DE

ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA”, DIZ ALLAN PIERRE

O vereador Allan Pierre, um dos principais defensores da revisão do plano, tem sido uma voz ativa nas discussões sobre o futuro da cidade.

Em entrevista exclusiva à Tribuna, o vereador falou sobre os desafios enfrentados pela cidade, especialmente em relação às áreas impactadas pelo afundamento do solo, como os bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro, regiões atingidas pela mineração da Braskem.

“A questão dessas áreas é extremamente delicada”, afirma Allan Pierre. “O plano diretor, da forma como está sendo discutido, prevê que essas áreas, por enquanto, não sejam edificáveis. Elas precisam ser tratadas com cautela, principalmente pela história que carregam. Estamos falando de uma parte da cidade que foi destruída, mas também de um legado cultural e social muito significativo para as famílias que ali viveram por gerações.”

ABORDAGEM CUIDADOSA

O impacto da mineração da Braskem na cidade de Maceió deixou cicatrizes profundas, não apenas no solo, mas também nas vidas das pessoas que tiveram suas casas e histórias afetadas. O vereador destaca a importância de uma abordagem cuidadosa para o futuro da área, defendendo que, por enquanto, o foco deve ser na recuperação ambiental e na preservação do espaço.

“Neste momento, o que precisamos é garantir que essas áreas sejam preservadas e não virarem alvo de especulação imobiliária. A cidade de Maceió é a verdadeira dona dessas áreas. Não podemos permitir que isso se torne uma oportunidade para a construção desordenada e sem planejamento”, disse o vereador.

Allan Pierre também levanta um ponto crucial sobre a recuperação ambiental: “O plano diretor, até o momento, não prevê ações concretas de preservação, como a criação de um parque urbano ou um memorial histórico. A recuperação do mangue, por exemplo, não é algo que pode ser ‘compensado’ facilmente. Não se pode substituir um metro de mangue plantando outro metro. Precisamos de soluções reais e eficientes”.

REVISÃO DE ÁREAS AFETADAS DEVE SER PRIORIDADE

Outro ponto abordado pelo vereador é a atual situação do Plano Diretor de Maceió. O último plano foi elaborado em 2005 e deveria ter sido revisado em 2015. No entanto, devido à demora e à complexidade do processo, a cidade acaba de completar 20 anos sem uma atualização formal do plano.

Mato tomando conta do que restou do bairro; novo Plano Diretor promete mudar o cenário (Foto: Adailson Calheiros)

“Maceió precisa urgentemente de um novo plano diretor. Estamos discutindo um plano que deveria ter sido revisto em 2015, e agora estamos em 2025, com uma cidade que já não é mais a mesma. A cidade cresceu, se desenvolveu, mas o plano não acompanhou esse crescimento”, destaca Allan Pierre.

O vereador lembra que, além da revisão das áreas afetadas pelo afundamento do solo, o plano também precisa ser repensado para outras regiões da cidade, levando em consideração a infraestrutura e o impacto ambiental. A praia da Avenida, por exemplo, tem áreas onde a construção de prédios verticais é proibida, mas o plano atual permite o avanço de construções no litoral norte, uma região com forte apelo turístico, mas que enfrenta problemas de infraestrutura e de mobilidade urbana.