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Aluguéis têm crescimento significativo em Alagoas

Do total 1,1 milhão de domicílios no estado, 234 mil são alugados; Maceió lidera procura por esse tipo de imóvel

Por Valdete Calheiros - colaboradora / Tribuna Independente 03/09/2025 08h05
Aluguéis têm crescimento significativo em Alagoas
Quadro em Maceió acompanha uma tendência nacional, onde o aluguel avança enquanto a propriedade da casa própria recua - Foto: Adailson Calheiros

O mercado imobiliário em Alagoas está aquecido e em franca expansão. Na capital, a movimentação mais efervescente gira em torno dos aluguéis de imóveis.

Dos 1,1 milhão de domicílios em Alagoas, 234 mil são alugados, o que corresponde a 21,2% do total. O que significa que pouco mais de 1 a cada 5 domicílios no estado são alugados. Em Maceió, dos 363 mil domicílios, 111 mil são alugados, o que representa 30,6% do total, ou ainda, o que significa que 1 a cada 3 domicílios na capital é alugado.
Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), extraídos da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua Anual, em 2024.

A PNAD é um levantamento realizado pelo IBGE para coletar informações sobre as condições de vida e trabalho da população brasileira, como rendimento, educação e ocupação.
O quadro em Maceió acompanha uma tendência nacional, onde o aluguel avança enquanto a propriedade da casa própria recua.

Em todo o Brasil, o número de domicílios alugados cresceu 45,4% entre 2016 e 2024, saltando de 12,3 milhões para 17,8 milhões, o que corresponde a 23% do total. No mesmo período, a proporção de domicílios próprios já pagos caiu de 66,8% para 61,6%.

Os corretores de imóveis são unânimes ao afirmar que Maceió enfrenta um enorme déficit habitacional provocado pela tragédia ambiental causada pela Braskem que, desde 2018, provocou o afundamento dos bairros Mutange, Bebedouro, Pinheiro, Bom Parto e Farol.

Desde então, em um movimento de “formiguinha”, dezenas de milhares de famílias continuam sendo enxotadas de suas casas nos bairros afetados.

A partir de então, a região metropolitana de Maceió, principalmente, os municípios de Satuba, Rio Largo e Marechal Deodoro passaram a conviver com uma ocupação habitacional jamais vista em tão curto intervalo de tempo.

A migração habitacional veio acompanhada por outro fato: a visível baixa no valor comercial dos novos imóveis adquiridos às pressas, uma vez que, conforme as famílias indenizadas pela mineradora, o valor pago pelas indenizações foram insuficientes para comprar um imóvel análogo ao que moravam. Isso sem contar com as famílias que estão morando “de favor” em casa de parentes ou amigos enquanto esperam a indenização.

Diante desta dinâmica, o aluguel foi a escolha. Às vezes por opção, ora por necessidade.

A comparação entre os Censos Demográficos do IBGE em 2010 e em 2002 mostra, com clareza, o processo. Enquanto no bairro do Mutange, em 2010, a população era de 2.632, quando o Instituto retornou ao local, há três anos, não encontrou uma pessoa sequer.

Segundo Elson Nogueira, apartamento de dois quartos na parte baixa varia de R$ 3.500 a R$ 4 mil (Foto: Adailson Calheiros)

Demanda elevou preços na parte baixa de Maceió

Em Bebedouro havia em 2010, 10.103 pessoas. Em 2022, 1.128. No bairro do Pinheiro, em 2010, havia 19.062 pessoas e em 2022, 5.369. No Bom Parto as 12.841 encontradas em 2010, não passavam de 8.010 em 2022.

Os bairros do Farol e Gruta de Lourdes, foram os únicos da parte alta da cidade, conforme o IBGE, que registrou aumento populacional. No Farol, em 2010, eram 16.859 habitantes. Em 2022, foram encontradas 17.789 pessoas. Na Gruta de Lourdes, as 14.283 encontradas em 2010, passaram a ser 15.160 em 2022.

Conforme o IBGE, o Flexal está na área do bairro Chã de Bebedouro que teve a seguinte população nos últimos censos: 10.541 em 2010 e 8.632 em 2022.

Na avaliação do corretor de imóveis Elson Sampaio de Melo Nogueira, o mercado de aluguel em Maceió está bem aquecido, muita oferta e procura, principalmente na parte baixa.
“Atualmente, também temos uma grande demanda por prédios de estúdio e quarto e sala para investimentos visando rentabilizar em aluguéis de temporada, já que Maceió tem um fluxo de turistas o ano todo”, detalhou.

Em relação aos ex-moradores dos bairros afetados pela Braskem, ele explicou que, a grande demanda foi no início, quando começaram a sair as indenizações, mas a grande parte de demanda dos ex-moradores foi para compra de novos imóveis.

“Onde existiu uma grande demanda e os valores do metro quadrado dos imóveis deram um salto, pela lei da oferta e demanda, o mercado não estava preparado para atender todos os moradores afetados pelos problemas da Braskem”, explicou Elson Nogueira, no ramo há quatro anos.

Segundo ele, um apartamento de dois quartos na parte baixa, estão com o aluguel variando entre R$ 3.500 e R$ 4 mil. A variação do preço encontra explicação se o imóvel é ou não mobiliado e possui alguns eletrodomésticos, por exemplo. Na parte alta, comparou o corretor de imóveis, um apartamento com o mesmo padrão pode variar de entre R$ 2.200 a R$3 mil.

“Atualmente Maceió, mais precisamente o bairro da Pajuçara, tem o metro quadrado mais caro do Nordeste com valores médio de R$12.500. a capital está muito procurada como uma opção de segunda moradia para pessoas com um padrão de vida elevado. Isso sem falar que as construtoras estão investindo cada vez mais em prédios de alto padrão, estúdios e quarto/sala para atender esse público que visita Maceió e se encanta com a possibilidade de morar ou investir aqui”, finalizou Elson Nogueira.

É o caso de Ana Clara Monteiro, natural do Rio Grande do Norte. De tanto vir à Maceió viu mais vantagem em alugar um apartamento à beira-mar do que gastar com hotel. “Pelo menos deixei o imóvel com a minha cara. Hotel é muito impessoal”, resumiu.

Há 15 anos atuando no mercado imobiliário, Nilton José da Silva, gosta de repetir a frase: “Maceió onde o mundo passa férias”. Para ele, na capital, a valorização “tardou, mas chegou”.

De acordo com sua avaliação, o mercado de locação na capital alagoana tem chamado a atenção, não só no estado, como também fora dele.

“A grande procura por locação foi impulsionada pelo afundamento do solo nos bairros explorados pela Braskem, o que acabou também atingindo bairros próximos. Por outro lado, os valores pagos nas indenizações não acompanharam a atualização de mercado, gerando a grande busca por locação. Ao mesmo tempo, quem conseguiu comprar imóvel, elevou o mercado a valores jamais vistos”, considerou.

Nilton Silva também credita à expansão na busca por aluguéis o período pós-pandemia da Covid-19. Para ele, as pessoas descobriram que viajar para dentro do próprio país era uma solução, o que fez com que praias como Maceió, Patacho, São Miguel dos Milagres, entre outras, fossem rotas turísticas para quem buscava praia e qualidade de vida.

“O Airbnb foi uma das plataformas que impulsionou o mercado, elevando assim a procura por outro segmento: a locação por temporada (short stay). Maceió ficou à frente de grandes destinos quando o assunto é viagem de turismo e boa parte destes turistas compraram imóveis tanto na capital quanto no interior, para rentabilizar e usufruir quando estiverem na região. Tudo isso elevou a capital alagoana ao metro quadrado mais valorizado do Nordeste e, por um bom tempo, chegou a ser o mais valorizado do Brasil. A tendência é permanecer valorizando, pois ainda há carência tanto para moradia, quanto para comprar como investimento para locação por temporada”, comemorou o corretor.