Cidades

'Agosto Lilás' ganha manual de conduta para cobertura de casos de violência contra a mulher

Material foi lançado para nortear cobertura jornalística sobre o assunto e ser importante instrumento para que mulheres em situação de violência saibam como reivindicar direitos

Por Valdete Calheiros – colaboradora / Tribuna Independente 23/08/2025 08h23 - Atualizado em 23/08/2025 08h42
'Agosto Lilás' ganha manual de conduta para cobertura de casos de violência contra a mulher
Presidente do Cedim, Raquel Braz do Nascimento, elogiou a iniciativa do Manual de Conduta para Cobertura de Violência contra Mulher - Foto: Reprodução

A campanha “Agosto Lilás”, estabelecida pelo governo federal, em 2022, definindo esse mês como o de conscientização sobre o combate à violência contra a mulher ganhou um importante aliado com o lançamento, na última quinta-feira, dia 21, do Manual de Conduta para Cobertura de Violência contra Mulher.

O manual foi lançado pela Universa, plataforma feminina do UOL lançada em 2018, que acredita que a cobertura jornalística do assunto é um importante instrumento para que as mulheres em situação de violência se reconheçam e saibam os caminhos para reivindicar seus direitos.

A violência contra as mulheres é um tema urgente no Brasil. O país ocupa o quinto lugar em um ranking de 83 nações que mais matam mulheres, segundo o levantamento do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH).

Embora, a iniciativa “Agosto Lilás” tenha sido institucionalizada por uma lei federal recente, várias iniciativas no combate à violência de gênero se espalham pelo país.

A escolha de agosto se deu porque, nesse mês, foi sancionada a Lei Maria da Penha, no dia 07 de agosto de 2006, legislação referência no combate à violência contra a mulher no Brasil.

A campanha procura conscientizar a população para reprimir casos de violência contra a mulher no país. Por meio do “Agosto Lilás”, são estabelecidas iniciativas para informar a população sobre como identificar violência contra a mulher e quais canais recorrer para fazer as denúncias.

Manual

Desde a criação da Lei Maria da Penha, cada vez mais veículos de imprensa se debruçam sobre o tema. O jornal Tribuna Independente tem um relevante papel nesse cenário informativo, mostrando a sociedade alagoana – e nacional – que o combate à violência contra a mulher é uma pauta sempre discutida.

O Manual de Conduta para Cobertura de Violência contra Mulher apresenta uma série de normas de conduta para a cobertura de crimes de gênero – da conversa inicial com as vítimas às melhores palavras e nomenclaturas adequadas a serem usadas no texto.

Também traz informações sobre legislação, onde e como denunciar e sobre uma lista com diversas fontes especializadas no tema.

A editora-chefe de Universa, Dolores Orosco, explicou que o principal objetivo é que as histórias de mulheres vítimas de violência sejam contadas com empatia e de forma justa nas reportagens.

Ela explicou que culpabilizar a vítima, mesmo que indiretamente – por exemplo, ao descrever a roupa que ela estava usando ao sofrer uma violência sexual –, reforça a ideia de que a responsabilidade pelo crime que sofreu é da mulher, quando não é.

Outra forma recorrente de culpabilizar uma vítima de violência doméstica, detalha o manual, é questionar por que ela passou tanto tempo apanhando sem denunciar.

OAB MULHER

“Imprensa é fundamental para enfrentar violência de gênero”

A reportagem do jornal Tribuna Independente repercutiu com algumas personalidades representativas em defesa da mulher. A presidente da Comissão Especial da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Alagoas (OAB/AL), advogada Edâmara Araújo, afirmou que recebe com profunda admiração e respeito o lançamento do Manual Universal Para Jornalistas – Boas práticas na cobertura da violência contra a mulher.

“Em nome da Comissão Especial da Mulher da OAB/AL, manifesto nosso reconhecimento pela seriedade, sensibilidade e responsabilidade que marcam essa iniciativa do UOL. Como mulher, advogada e presidente desta Comissão, não posso deixar de reconhecer a urgência de enfrentarmos não apenas a violência em si, mas também a maneira como ela é contada. A narrativa tem poder. Ela pode reconstruir dignidades, ou perpetuar silêncios. Pode acolher ou revitimizar”, comparou.

Ainda conforme Edâmara Araújo, a imprensa é um ator fundamental no enfrentamento à violência de gênero. Diariamente, profissionais da comunicação, completou a presidente da Comissão da OAB, traduzem para a sociedade os fatos que atravessam a vida das mulheres brasileiras – vidas muitas vezes marcadas pela dor, pela injustiça e pelo silenciamento.

“Por isso, um manual como este é mais do que bem-vindo: ele é necessário. É um gesto de compromisso com a ética, com a justiça e com a humanidade de cada mulher. É especialmente tocante perceber que as diretrizes propostas no material não apenas atendem aos parâmetros do bom jornalismo, mas avançam para um cuidado genuíno com a vida da mulher que sobreviveu – e da que não teve essa chance. A escolha das palavras, o respeito à dor, a recusa aos estereótipos, o repúdio à culpabilização da vítima e o incentivo à busca por justiça são atitudes que salvam. São formas de resistência”, salientou.

Edâmara Araújo, presidente da Comissão Especial da Mulher da OAB/AL (Foto: Divulgação)

Para Edâmara Araújo, a luta das mulheres por respeito, por dignidade e por equidade encontra na imprensa uma aliada potente. Mas essa aliança exige responsabilidade, completou ela.

“Como bem aponta o manual, um jornalismo mal preparado pode ser cúmplice da violência que deveria denunciar. Por outro lado, um jornalismo ético e sensível pode ser ferramenta de transformação social, capaz de provocar rupturas estruturais nas culturas que normalizam a violência contra as mulheres. Coloco à Comissão Especial da Mulher da OAB/AL como parceira de todas as iniciativas que promovam uma sociedade mais justa e igualitária para as mulheres. Que este manual inspire outros veículos, instituições e profissionais a adotarem práticas semelhantes, com o mesmo compromisso de respeito e justiça. Seguimos juntas, com coragem, empatia e propósito. Porque cada palavra importa. E cada mulher também”, finalizou a presidente da Comissão Especial da Mulher da OAB/AL.

O Conselho Estadual de Direitos da Mulher, cuja presidente é Raquel Braz do Nascimento, vê a cartilha como uma ferramenta fundamental para informar, orientar e fortalecer as mulheres, ampliando sua voz, garantindo acesso a direitos e promovendo a igualdade de gênero.

“A cartilha pode ajudar ao oferecer informações claras sobre os direitos das mulheres, os canais de denúncia e os serviços de apoio disponíveis, além de orientar sobre formas de prevenção e fortalecimento da autonomia feminina. Assim, torna-se um instrumento de empoderamento e proteção na luta contra a violência”, destacou.

A secretária de Estado da Mulher de Alagoas, Marília Almeida de Albuquerque Melo, recebeu a cartilha com muito entusiasmo, porque chega como uma ferramenta essencial para qualificar a forma como a violência contra a mulher é tratada pela imprensa.

“Orientar uma cobertura ética, empática e livre de estereótipos é também uma forma de acolher as vítimas e encorajar outras mulheres a denunciarem situações de violência. Acreditamos que a divulgação desse material precisa ser destacada, porque a imprensa tem um papel estratégico no enfrentamento à violência de gênero. Quando a notícia é contada com responsabilidade, ela contribui para salvar vidas, mobilizar a sociedade e fortalecer toda a rede de proteção às mulheres”, pontuou.