Cidades
Buarque de Macedo, coração de Maceió: do apogeu à decadência
Terceira reportagem da série sobre suposta revitalização na área do terreno do antigo Hiper Bompreço mostra os aspectos históricos da região, no Centro da capital alagoana

Na terceira e última reportagem da série sobre a possível revitalização do espaço onde foi construído o Hiper Magazine Bompreço nos anos 1980, Centro comercial de Maceió, a Tribuna traz ao leitor aspectos históricos da área desde seu início (em meados do século 20), o apogeu (nos anos 1980) até sua decadência, que culminou com o fechamento definitivo da loja em dezembro de 2015.
Com auxílio do jornalista e historiador Edberto Ticianeli, que produz valioso conteúdo no portal historiadealagoas.com.br, a Tribuna traz à baila também um pouquinho da própria história de uma bucólica Maceió de priscas eras.
UM POUCO DE HISTÓRIA,
COMO TUDO COMEÇOU...
De acordo com relatos no portal historiadealagoas.com.br, no tempo das viagens a pé ou em lombo de animais caminhava-se por veredas abertas nos matagais. Com o passar dos anos, os percursos mais utilizados ganhavam o status de estradas, normalmente mais alargados pelo uso das carroças e carros de boi.
Foi assim que Maceió viu surgir várias estradas, como a de Bebedouro, com um trecho conhecido como Estrada do Mutange, Estrada Norte, Estrada do Trapiche da Barra, Estrada de Rodagem do Jacutinga, que partia da Praça Jonas Montenegro, atual Praça do Centenário, e se estendia até Bebedouro, descendo a Ladeira do Calmon.
Assim também surgiu a Estrada de Ferro entre Jaraguá e o Centro da capital, uma via marginal à ferrovia, que teve seu traçado registrado em planta de 1881 e obras iniciadas no ano seguinte. Era o projeto da Alagoas Railway Company Limited. Os trens prosseguiam por onde atualmente está a Estação Ferroviária e continuavam pelo Largo de São Benedito (Praça do Pirulito) e Parque Rio Branco, prosseguindo no percurso utilizado até os nossos dias.

Aos poucos, os trechos dessa Estrada de Ferro foram recebendo habitações e galpões. O segmento que se formou acompanhando os trilhos entre Jaraguá até as imediações da atual Avenida Comendador Leão ficou conhecido como Rua do Rato. Depois, parte dessa via, entre a Capela de Santa Cruz — aquela igrejinha em frente ao Cemitério de Jaraguá — e as imediações da Av. Comendador Leão foi denominada como Rua Santa Cruz.
Sua continuação era a Rua do Oitizeiro, cujos registros de sua existência remontam a 1877. Provavelmente se estendia até a Praça 13 de Maio, antigo Largo da Senzala, que tinha área nos dois lados dos trilhos. A denominação de Praça 13 de Maio lhe foi conferida pela Lei nº 53 de 2 de março de 1899. Em 1957, a maior parte dessa Praça foi ocupada pelo Centro Social Sesc-Senac, uma instituição voltada para os comerciários.
Depois dessa Praça, a via passava a ser denominada como Rua da Aurora e assim continuava até a Estação da Rua Barão de Anadia. Há registros dela, em 1917, começando na Estrada Nova, atual Av. Comendador Leão, como se tivesse incorporado a Rua do Oitizeiro. Lembrando que a Rua Cyrilo de Castro, na Levada, já foi também Rua da Aurora.
Fazia parte desse trecho da Estrada de Ferro a famosa Ilha das Cobras, que aparece nos mapas de 1881 e de 1927. Era uma Ilha do Riacho Salgadinho, situada aproximadamente onde hoje está o PAM Salgadinho. Quem habitava na “Estrada de Ferro” em suas proximidades, morava na Ilha das Cobras.
A Rua e seu patrono
A partir de 1929, o trecho da Estrada de Ferro entre o Riacho Salgadinho e a Estação Central, na Rua Barão de Anadia, passou a ser denominado como Rua Buarque de Macedo.
O historiador Félix Lima Júnior, em seu livro Memórias de Minha Rua, identifica a Rua Buarque de Macedo como a antiga Ilha das Cobras e apresenta o seu patrono:
“Manoel Buarque de Macedo Lima, pernambucano, era engenheiro, bacharel em Matemática e doutor em Ciências Jurídicas e Administrativas pela Universidade de Bruxelas, membro do Instituto de Engenharia de Londres. Nasceu em Recife no dia 1º de março de 1837. Foi Ministro da Agricultura, no primeiro ministério Saraiva (março de 1880). Morreu em São João Del Rei, Minas Gerais, em 29 de agosto de 1881”.
ONDE HÁ
FUMAÇA HÁ
FOGO, UM
PRESSÁGIO
DO FIM...
Naqueles dias, já no ano 2000, o Centro de Maceió fervilhava em idas e vindas em movimento intenso de gente no coração da cidade, na efervescência de desenvolvimento econômico na área da Buarque de Macedo, rua do Hiper Magazine Bompreço, principal centro de compras, à época.
Mas a 6 de outubro daquele ano, aconteceu o inesperado: um incêndio de grandes proporções destruiu grande parte das instalações. Resultado: o sinistro atingiu o hipermercado em cheio e o fogo consumiu os estabelecimento durante quase quatro horas, ao se espalhar, inclusive, por casas e lojas vizinhas.

A boa notícia na tragédia é de que não foram encontradas vítimas. Uma das grandes dificuldades para a labareda incontrolável foram os ventos fortes e a falta de equipamentos adequados na loja e do Corpo de Bombeiros.
Comerciante que permanece até hoje na área onde aconteceu o incêndio ouvido pela Tribuna é Rafael Gama, 61 anos, que conta como foi aquele dia difícil e dramático: “eu vi o início daquela fumaça por volta de meio-dia e meia. E exatamente aqui em frente à minha loja começou aquela fumaça”, dia Rafael, que viu o Magazine ser instalado no terreno há 41 anos, mesmo tempo de “vida” de sua loja.
“Mas uma coisa histórica é que mesmo com aquele incêndio de grandes proporções, o negócio era tão bom que eles investiram muito dinheiro e reconstruíram e tudo voltou novamente, até com mais sucesso e eles até ampliaram”, relembra Rafael Gama.
Mas, 15 anos depois, com a crise econômica, o Magazine já de posse do grupo Walmart decidiu fechar. “E aí é essa tristeza que persiste até os dias atuais”, completa o empresário.
O último dia de funcionamento do Hiper Bompreço, no dia 30 de dezembro de 2015 — portanto há quase 10 anos — foi marcado por tumulto e confusão dentro do estabelecimento comercial. Para se ter uma ideia, foi preciso acionar militares da Radiopatrulha e da Rocam para conter consumidores que estavam fazendo confusão pela disputa de produtos em promoção do fechamento do Hiper, à época.
Depois do fechamento do Hiper, toda a área em torno da loja entrou em profunda decadência, dando lugar ao abandono, lixo, pessoas em situação de rua e ao breu, principalmente no período noturno.
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