Cidades

“O Mar Salva Mas Afoga”, de Alexandre Câmara: poesia que resgata memórias, ancestralidades e convoca à travessia

Por Assessoria 11/07/2025 15h47
“O Mar Salva Mas Afoga”, de Alexandre Câmara: poesia que resgata memórias, ancestralidades e convoca à travessia
Alexandre Câmara é jornalista e escritor alagoano - Foto: Divulgação

O jornalista e escritor alagoano Alexandre Câmara lança na próxima semana seu primeiro livro impresso: O Mar Salva Mas Afoga. Mais que um título provocativo, o nome antecipa o tema central da obra — o mar como metáfora ambígua: o mesmo mar que salvou economias coloniais transportando riquezas também afogou culturas, religiões e modos de vida.

Dividido em seis capítulos — as chamadas “marés” — o livro propõe uma travessia ao contrário: não para conquistar ou apagar, mas para lembrar, reconstruir e libertar. Trata-se de um ajuste de contas com um passado silenciado, mas também de um projeto de futuro: um futuro pensado a partir da reparação e da esperança coletiva.

O Mar Salva Mas Afoga não se limita a remexer o passado. É um convite a imaginar outro modo de vida, capaz de enfrentar não só as desigualdades herdadas do colonialismo, mas também as novas formas de controle algorítmico e vigilância das Big Techs. O capítulo final, “A Travessia”, propõe justamente a ideia de uma articulação política global das esquerdas — não como slogan vazio, mas como prática concreta, capaz de construir alternativas sólidas e pactos reais de dignidade.

Uma obra que se recusa à neutralidade


O Mar Salva Mas Afoga não oferece consolo fácil. Assume-se como ato político e poético, convocando o leitor a encarar memórias soterradas e a transformá-las em compromisso. Alexandre Câmara constrói um percurso que combina denúncia social, canto ancestral, confissão íntima e proposta coletiva.

Sua linguagem oscila entre rigor formal e fragmentação. Evoca cantos indígenas, manifestos políticos, orações íntimas. Não é uma obra para leitura passiva ou silenciosa: exige voz, presença, disposição para o desconforto.

As seis marés


MARÉ NUA: O ANTES DA COLONIZAÇÃO

Abertura com gesto de restituição. “Índios kaetés celebram a existência / Sou o antes da colonização.” Não há nostalgia romântica: há denúncia do apagamento e uma tentativa de restituição simbólica.

CONTRA A MARÉ: A ESTÉTICA DO CAMINHO

A fuga como estratégia de liberdade. Estradas, postos de gasolina, cafés amanhecidos — um canto para quem recusa o conforto imposto. Versos como “Carrego o silêncio como faca / a liberdade como febre” ecoam a beat generation, não como cópia, mas como crítica.

MAR REVOLTO: VERSOS QUE CORTAM
O capítulo mais duro. “Na fome o amor muda de nome / a fome é uma dor que não sabe morrer.” Denúncia crua, sem alívio, exigindo um olhar mais atento e mais justo.

VAZANTE: MEMÓRIA COMO ATO DE JUSTIÇA
Aqui a poesia vira tribunal. “Reabrimos um processo contra os que apagaram.” É denúncia, reparação e recusa do silêncio imposto.

MAR PROFUNDO: UM INVENTÁRIO DO AMOR
Desafia moralismos: “Amor dos proscritos, exilados, transgressores.” Um inventário de 42 formas de amar — celebração sem bênçãos nem concessões.

A TRAVESSIA: UM CHAMADO COLETIVO E POLÍTICO
Recusa do heroísmo individual. “Não é tempo de discursos isolados.” Câmara articula um convite para alianças reais e a construção de um novo sistema coletivo capaz de resistir tanto às desigualdades herdadas quanto ao controle algorítmico contemporâneo.

Diálogo com o Sul Global e referências literárias

A obra de Alexandre se inscreve numa tradição poética que recusa o conforto das estéticas coloniais. Sua linguagem dialoga com vozes do Sul Global que desafiam apagamentos históricos e propõem outros modos de existência.

Foto: Divulgação



Os poemas conversam com a crítica ao progresso de Ailton Krenak, a escritura-memória de Conceição Evaristo e as análises sobre colonialismo tardio de Achille Mbembe.

Sobre o prefácio


O prefácio de O Mar Salva Mas Afoga, assinado sob o nome fictício Eduardo Mariano Ribeiro, foi pensado como mais uma camada literária: uma homenagem a escritores que criaram vozes e personagens para ampliar a crítica e a imaginação — como Fernando Pessoa, Jorge Luis Borges, Cervantes e Hilda Hilst.

Produzido coletivamente, ele se apoia em referências do debate sobre memória e colonialidade, com autores como Ailton Krenak, Donna Haraway, Achille Mbembe, João Cabral, Gloria Anzaldúa, Kerouac, Campos, Gullar, Mignolo, Quijano, Jason W. Moore e Paul B. Preciado.

O objetivo foi evidenciar diálogos e também destacar o diferencial de Alexandre Câmara: fundir memória indígena, crítica social, afetos marginalizados e proposta política num só gesto poético.

Além do prefácio, o livro conta com uma apresentação assinada pelo vice-governador Ronaldo Lessa, que reconhece na obra um chamado ao afeto, à escuta e à justiça social.

Uma escrita sem concessões


O livro não entrega soluções fáceis. Sua linguagem pode ser crua, direta, fragmentada, insistente. Os versos quebram linhas e prolongam imagens para impedir o esquecimento.

É uma obra que devolve ao poema sua função ancestral: sustentar memória, nomear injustiças, criar comunidade. “Enquanto houver quem cante, nada estará perdido.”

Serviço


📖 Livro: O Mar Salva Mas Afoga
✍️ Autor: Alexandre Câmara
📅 Data: 17 de julho de 2025 (quinta-feira)
🕒 Horário: 15h
📍 Local: Museu Palácio Floriano Peixoto (Centro, Maceió)
📚 Tiragem: 200 exemplares (Editora CBA)
📖 ISBN: 978-65-89034-90-2

Sobre o autor


Alexandre Câmara é jornalista e escritor alagoano com quatro livros eletrônicos publicados. Finalista em concurso nacional de poesia nos anos 90, reúne décadas de trabalho com comunicação, cultura e história.

O Mar Salva Mas Afoga é sua primeira publicação impressa, consolidando sua escrita como ato de memória, denúncia e convocação política.