Cidades
Terreno de igreja deve virar ‘espigão’ na Avenida Tomás Espíndola
Área foi cercada com estacas e arame farpado por funcionários da Construtora Consenco

Após a comprovação da venda de uma área milionária, na Avenida Tomás Espíndola, no Farol, feita pela Arquidiocese de Maceió, sem nenhuma prestação de contas, por parte da gestão de Dom Antônio Muniz, funcionários da Construtora Consenco, realizaram o fechamento total do terreno, que mede em torno de 4 mil metros quadrados, utilizando estacas de madeira e arame farpado. Conforme informações colhidas no local, no terreno será construído um prédio residencial, tipo ‘espigão’, com estacionamento na sobreloja e uma galeria comercial no térreo. Ainda segundo funcionários da Consenco, a parceria entre o dono do terreno e a construtora está firmada, mas ainda não foi divulgada oficialmente, por eles fecharam negócio recentemente.
Antes de ser cercada e reservada para a construção do ‘espigão’, a área era usada como estacionamento improvisado para carros particulares. Segundo um dos empregados, o terreno, onde antes estavam edificadas pelo menos quatro casas - todas elas pertencentes a Arquidiocese de Maceió - tinha sido cedido “amigavelmente” por um integrante da Igreja, que estava negociando o mesmo com um “empresário forte” do ramo imobiliário.
Quem comprou as três ou quatro casas da área foi o empresário Felipe Sarmento, CEO da Macro Empreendimentos, empresa que atua no mercado imobiliário, vendendo, comprando e incorporando imóveis de alto padrão. Ele pagou cerca de R$ 2,250 milhões pelas três casas, mas o valor do terreno é muito maior, no mínimo R$ 5 milhões, segundo corretores de imóveis.
De acordo com as certidões fornecidas pelo 1º Cartório de Registro Geral de Imóveis de Maceió, todas as quatro casas, que ocupavam o terreno de frente para a Avenida Tomás Espindola, pertenciam à Arquidiocese de Maceió, e foram vendidas - uma a uma - no mesmo dia, 23 de março de 2024, à empresa Macro Empreendimentos Ltda.
A escritura pública de compra e venda, de pelo menos três das quatro casas, foi assinada pelo ex-arcebispo de Maceió, Dom Antônio Muniz. Curiosamente, dias depois da sua renúncia, ou seja, no apagar das luzes da sua gestão à frente da Arquidiocese de Maceió.
Segundo um integrante da cúpula da Igreja, Dom Muniz está muito doente, diabético, em tratamento no Recife. Por isso, não tem se defendido das acusações contra ele, mas no momento certo tudo será esclarecido. No entanto, segundo essa fonte, o ex-arcebispo não agiu sozinho, junto com com ele atuou o Cônego Walfran Fonseca, ex-pároco da Igreja de Santo Antônio, em Bebedouro.
Os dois religiosos, que comandavam a Cúria Metropolitana antes da chegada do arcebispo Dom Beto Breis, estão sendo investigados pelo Ministério Público de Alagoas (MP/AL), por meio do Gaeco - Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado.
Segundo o promotor de Justiça, Napoleão Franco Amaral, coordenador do Gaeco, a investigação segue em segredo de Justiça. Por isso, ele não pode revelar nada sobre a apuração do desvio de dinheiro e outras irregularidades, envolvendo o comando anterior da Arquidiocese de Maceió, como da Fundação Leobino e Adelaide Motta, administrada pela Igreja Católica.
Como ex-gestores da Fundação, Dom Muniz e o Cônego Walfran, foram denunciados e passaram a ser investigados pelo Ministério Público Federal de Alagoas (MPF/AL), acusados de crime ambiental, ao extrair e vender areia do Sítio Bom Retiro, na praia do Francês, por meio da empresa Mandacaru Extração de Areia e Material de Construção.

Área na Praia do Francês foi usada para fornecer areia à Braskem
O terreno do Sitio Bom Retiro - que quando foi doado à Arquidiocese, pelo médico Lourival de Mello Motta, nos anos 50, media 2 mil metros de frente para o Oceano Atlântico - foi usado para fornecer areia a empresas de material de construção e construtoras, por mais de dez anos.
No entanto, a movimentação aumentou quando a Mandacaru passou a vender areia à Braskem. A areia estava sendo usada para tamponar as minas da Braskem, desativadas por decisão judicial. A quantidade de areia comercializada e o dinheiro arrecadado não foram informados nem pelo Cônego Walfran, nem pelos sócios da Mandacaru, Elderclênio Correia dos Santos e Ana Cecília Pinto Gameleira Buyers, que tinham como avalista Luiz Phillipe Malta Buyers.
O contrato entre a Fundação e a Mandacaru foi assinado no dia 8 de abril de 2018 (conforme documento fornecido pelo cartório de títulos), mas a parceria já durava no mínimo cinco anos. No contrato, a Mandacaru estava autorizada a explorar até 174 mil metros cúbicos de areia fina salinizada.
Mas, especula-se que a quantidade de areia extraída do terreno da Arquidiocese tenha sido bem maior. Por isso, a extração predatória tenha exorbitado as poligonais, estabelecida pela Licença Ambiental fornecida pelo Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA).
Segundo moradores do Francês, a extração desordenada de areia já tinha atingido e estava comprometendo as Dunas do Cavalo Russo - uma Área de Proteção Ambiental (APA) protegida por lei, refúgio de centenas de espécies da fauna e da flora que habitam há anos a região de restinga, que vai de Marechal Deodoro à Barra de São Miguel, no Litoral Sul de Alagoas.
Para barrar a extração de areia no Sítio Bom Retiro, por parte da Mandacaru, Dom Beto teve que entrar com uma ação na Justiça, em janeiro deste ano. O juiz José Cícero Alves da Silva, da 4ª Vara Cível da Capital, mandou suspender a extração de areia, sob pena da Mandacaru ter que pagar multa diária de 5 mil, caso não atendesse a decisão judicial.
Em retaliação à ação da nova gestão da Arquidiocese, a Mandacaru vazou para a imprensa algumas planilhas com valores supostamente repassados à Fundação Leobino e Adelaide Motta, nos últimos quatro anos, de 2021 a 2024. Valores altos depositados na conta da entidade no Banco Bradesco, agência Maceió.
Como esse material [planilhas] está sendo apurado em segredo de justiça, a reportagem da Tribuna Independente não vai publicá-lo, pelo menos por enquanto, para não incorrer em erro ou quebra de sigilo da informação confidencial.
OUTRO LADO
Nem o ex-arcebispo Dom Antônio Muniz, nem o padre Walfran Fonseca quiseram comentar as acusações, embora tenham sido procurado várias vezes para se manifestar sobre o pedido de prestação de contas, feito pela Arquidiocese de Maceió, durante a gestão deles à frente da Cúria Metropolitana, até começo de março de 2024.
Mais lidas
-
1Posto 7
Assessor político é encontrado morto dentro de veículo próximo a base da Oplit na Jatiúca
-
2Cinema
F1: O filme com Brad Pitt é baseado em história real?
-
3Redes sociais
PED do PT: Chapa denuncia compra de votos, bolsonaristas e entregas de cestas básicas
-
4Reoxigenação
Eleição do PT-AL chega à reta final
-
5Sem Alma existe?
Quem é o verdadeiro Sem Alma da série brasileira 'DNA do Crime'?