A Braskem confirmou que a operação de tamponamento das minas de sal-gema, desativadas por decisão judicial em 2019, continua até 2026. O trabalho de preenchimento dos poços começou no início de 2020, utilizando areia de praia retirada do litoral alagoano e de uma jazida na região de Satuba, nas terras arrendadas pela Usina Utinga Leão à construtora MTSul, contratada pela Braskem.

Das 35 minas de sal-gema, localizadas nos bairros que afundam e na beira da Lagoa Mundaú, 16 já foram ou estão para ser tamponadas com areia; 13 estão para ser ou já foram tampadas por pressurização; e seis foram preenchidas de forma natural, a exemplo da mina 18 que entrou em colapso natural no final de 2023. De acordo com a Braskem, o tamponamento natural da mina 18 encontra-se em período de reavaliação e posterior aprovação da Agência Nacional de Mineração (ANM).

Segundo o engenheiro Abel Galindo, professor aposentado do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e especialista em solo, o atraso no tamponamento das minas não altera em quase nada a estabilidade do solo na região. Para o professor, a preocupação maior da Defesa Civil de Maceió deve ser com a região dos Flexais, principalmente com relação à Rua Marquês de Abrantes.

“Nos Flexais, o solo está sendo tracionado [puxado] como em todas áreas em torno das minas. Agora, a rua Marquês de Abrantes, nessa região de Bebedouro, está afundando sim. Estudos da CPRM [atual Serviço Geológico do Brasil] já demonstraram isso”, destacou. Para comprovar essa preocupação, o professor citou reportagens da mídia local sobre rachaduras e água minando dentro das casas dos moradores da rua, que fica nas proximidades do Parque Municipal de Maceió.

OUTRO LADO

A reportagem procurou ouvir a Braskem e a prefeitura de Maceió sobre o risco de afundamento do solo na região dos Flexais e da Rua Marquês de Abrantes, mas não teve retorno, até o fechamento desta matéria.

A Braskem informa, na página eletrônica institucional, que a extração de sal-gema começou na década de 1970 e foi encerrada em 2019, por determinação dos órgãos ambientais. Com isso, o plano de fechamento total dos poços foi apresentado pela Braskem às autoridades e aprovado pela ANM (Agência Nacional de Mineração) em 2019, mas só começou no início de 2020. Segundo a empresa, 70% do planejamento foi cumprido até agora.

O processo usado em cada uma das cavidades é determinado após estudo de sonar feito pela mineradora e avaliado junto à ANM. As atividades para fechamento da mina 18, por exemplo, foram suspensas, por conta do colapso no final de 2023. A areia que estava sendo usada tinha sido removida de uma região praiana do município de Marechal Deodoro, na região metropolitana de Maceió.

Areia é o componente utilizado no processo de tamponamento

O processo de pressurização é realizado de forma semelhante, mas adiciona-se menos areia. A quantidade deve ser suficiente para criar uma pressão que se possa selar sem risco de futuras movimentações.

O preenchimento natural é com material da própria cavidade. Nesses casos, segundo a Braskem, não há necessidade de novas ações para tamponamento. O acompanhamento técnico é um monitoramento por meio de um sonar.

Ouvida pela mídia, a respeito do tamponamento das minas, a Braskem disse em nota: “Todo o trabalho segue prazos que são pactuados no âmbito do plano de fechamento, que é regularmente reavaliado com a ANM. As atividades para preenchimento da cavidade 18 estavam em andamento e foram suspensas preventivamente devido à movimentação atípica no solo”.

De acordo com a assessoria de comunicação da Braskem, a mineradora vem adotando as medidas para o fechamento definitivo dos poços de sal, conforme plano aprovado pela ANM. A conclusão dos trabalhos está prevista para meados de 2026.

“Estudos feitos por institutos nacionais e internacionais mostraram qual a técnica adequada a ser aplicada em cada um dos 35 poços de sal. Todos os poços são acompanhados tecnicamente com instrumentos de alta tecnologia para a segurança do entorno e das áreas de desocupação e monitoramento”, informou a assessoria da mineradora.

Segundo ela, há pelo menos três técnicas recomendadas para o fechamento definitivo das minas/poços.

Técnicas para o fechamento dos 35 poços

1. Preenchimento com areia: O preenchimento de alguns poços é realizado com areia misturada a água salina retirada das cavidades. Para isso, a areia é colocada com água salina para que se acomode de maneira uniforme no interior da cavidade. Isso é feito até que ela seja preenchida. Depois, os poços são tamponados com cimento.
2. Pressurização: Um dos métodos de fechamento das cavidades ocorre por meio da pressurização natural da salmoura que já está dentro das cavidades, um processo semelhante ao que acontece com um espaço hermeticamente fechado. Essa pressurização é verificada com um piezômetro, equipamento que monitora a pressão e a temperatura da cavidade. Ele pode ser instalado via poço original ou via novo acesso.
   1. Via poço original: O piezômetro é colocado no poço. Depois de análises técnicas, quando a pressurização é confirmada, o poço por onde o piezômetro foi instalado é tamponado com cimento.
   2. Via novo acesso: Quando o acesso original à cavidade tem alguma obstrução, são feitos dois novos poços. A instalação do piezômetro é feita por um deles. Pelo outro, o cimento é injetado no poço com obstrução. Quando a estabilidade é confirmada, o poço por onde o piezômetro foi instalado é tamponado.
3. Preenchimento Natural: Estudos geofísicos indicaram que algumas cavidades foram preenchidas naturalmente. Primeiro, foram realizadas análises por sonar e microgravimetria. Nos casos em que não foi possível obter imagens dessa forma, foi feita a tomografia sísmica. Para isso, foram feitos dois acessos: em um deles, foi instalado aparelho emissor de ondas e no outro, um receptor. Após analisar os resultados dos vários estudos geofísicos, é possível confirmar que houve fechamento natural e nenhuma ação adicional é necessária. Depois disso, o poço é tamponado com cimento.