Cidades
Especialista vê falta de estudo em mudança
Para engenheiro, alta temporada não é momento para testes no trânsito da região
A polêmica em torno das mudanças no trânsito da Avenida Silvio Carlos Viana, na orla da Ponta Verde, parece render ainda muitos capítulos, inclusive na esfera judicial.
Enquanto isso engenheiros analisam, sob o ponto de vista técnico, a eficácia das medidas adotadas pela Prefeitura de Maceió, através do Departamento Municipal de Transportes e Trânsito (DMTT).
O engenheiro civil Antonio Monteiro, especialista em mobilidade urbana e segurança do trabalho, afirmou que, de maneira geral, falta um estudo de engenharia, um estudo de mobilidade de forma ampliada. Segundo ele, não se faz uma intervenção de mobilidade em apenas uma avenida achando que não vai atingir o resto da região.
“Tem que avaliar, fazer contagem volumétrica de veículos, entrevistar pedestres, comerciantes, escutar a comunidade, avaliar o período normal, com o período de alta temporada. Verificar os impactos deixados na Rua Jangadeiros Alagoanos, na Rua Engenheiro Mário de Gusmão. Alta temporada não é momento para testes, porque aumenta muito a movimentação. Não adianta aumentar o espaço para pedestre sem diminuir a velocidade dos veículos, assim está colocando o pedestre em risco.
Conforme o engenheiro, que é também perito em acidentes de trânsito e membro da Câmara de Engenharia do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), há muito espaço no canteiro e dá pra fazer um trabalho para melhorar a questão da caminhabilidade.
Não dá para simplesmente retirar todas as vagas de estacionamento, afirmou Antonio Monteiro, porque dará fluidez muito grande em uma rua estreita e, consequentemente, haverá problema de atropelamento. Há ainda também a questão dos comerciantes e moradores.
“Nova faixa verde na avenida é desnecessária”
Na avaliação do engenheiro, a faixa verde inicial é bem-vinda e irá até interligar às obras que serão inauguradas na região do Porto de Maceió. Já a implantação de mais uma faixa verde não é necessária.
“Tudo que é favorável ao pedestre é válido no trânsito, porque o pedestre é a parte mais vulnerável. Então, toda situação que vise proteger o pedestre, precisa ser olhada com bons olhos. No entanto, passou do tom. Não há necessidade da faixa verde dos dois lados”, avaliou.
Outro ponto que chamou a atenção do engenheiro Antonio Monteiro, que atua há mais de 20 anos em projetos de redução de vítimas em acidentes de trânsito, diz respeito às mudanças no Murilópolis, onde foi feita uma ciclofaixa separada com balizador na descida da Gruta de Lourdes para a ladeira do Ouro Preto pintada de verde e com placa de espaço partilhado entre bicicletas e pedestres.
“Tá uma misturada. Porque vermelho é ciclovia, verde é ampliação de calçada, e se você bota a placa de espaço partilhado, você está dizendo ao pedestre, desça da calçada e venha caminhar aqui. E aí de novo você está colocando de forma muito séria a vida do pedestre em risco”, disse.
Engenheiro defende ideia da proibição de estacionamento
O engenheiro de transportes e especialista em gestão da mobilidade urbana Fábio Barbosa Melo não avalia a ideia em si nas mudanças no trânsito na orla como um erro.
“É comum grandes cidades restringirem o uso do automóvel e trocar por meios elétricos (patinetes) e mobilidade ativa (pedestres e ciclistas), priorizando um desenho urbano mais inclusivo também para pessoas com restrições de mobilidade (idosos e crianças) e deficientes. É uma medida em prol da saúde e da segurança viária. Não tem erro: menos carros, menos acidentes com fatalidades. O problema é como isso é implantado. É preciso haver estudos sobre o impacto, que eles sejam públicos e, principalmente, que haja diálogo com a sociedade”, salientou.
Conforme o engenheiro, algumas perguntas precisavam ser feitas. Qual é o objetivo da medida? Como esse objetivo se encaixa dentro de um plano municipal de mobilidade? Quais são as alternativas?
“O que vejo em Maceió é que as ações são implantadas de uma hora para outra e sem participação popular e sem alternativas viáveis”, pontuou.
De acordo com Fábio Barbosa Melo, para um projeto de dimensão como esse da orla é preciso dialogar com o entorno. Comerciantes de grande e pequeno porte, moradores, prestadores de serviço da região. É preciso dar alternativas a quem circula pela área. Não basta dizer “procure vagas para estacionar nas ruas internas”, “venha de transporte coletivo” ou “use aplicativos de transporte” porque essas medidas, do jeito que se apresentam hoje em dia, não atendem a demanda da região. É mais uma prova de que o transporte público de Maceió precisa melhorar bastante.
“Será que um deixar o carro no Jaraguá e pegar um ônibus que circula de lá até a Ponta Verde é seguro? Há segurança suficiente para deixar o veículo em Jaraguá e encontrá-lo intacto ao voltar?”, indagou.
DMTT garante ter feito profundos estudos técnicos
O Departamento Municipal de Transportes e Trânsito (DMTT) já manifestou várias vezes a intenção de recorrer da decisão judicial que, em caráter liminar, determinou que o poder executivo reestabeleça as vagas destinadas ao estacionamento.
A decisão foi proferida no último dia 17. No último dia 20, o órgão municipal de trânsito foi oficialmente notificado da decisão. Na manhã do sábado 21, colocou sacos de lixo de cor escura cobrindo as placas de proibido estacionar. No entanto, a nova Faixa Verde continuava delimitada com cones e apenas pedestres podiam passar na área.
“O DMTT reforçou que tomará as medidas judiciais cabíveis para reverter a decisão, reafirmando o compromisso do município com a melhoria da mobilidade urbana, da acessibilidade universal e da sustentabilidade”, afirmou a Departamento em um dos trechos da nota.
Ainda conforme o DMTT, em razão do recesso da empresa responsável, não está apto a realizar alterações na sinalização no local, no entanto estão suspensas, desde a manhã da última sexta, as autuações em razão da placa R6A, de proibição de estacionamento. O DMTT disse ainda que para implementar a medida, o órgão realizou aprofundados estudos.
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