Cidades
Morte da filha de Dona Pureza é atribuída à Braskem
MUVB exige que mineradora seja responsabilizada pelos casos de suicídios de moradores dos bairros afetados
Morreu na noite da última quinta-feira (21), no Hospital Geral do Estado (HGE), Elenilma Silvestre de Souza, 42 anos, a filha de Dona Pureza, que foi envenenada pela mãe, no dia 31 de outubro, em protesto contra o isolamento da comunidade dos Flexais, imposto pela mineradora Braskem.
Para os integrantes do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), a morte de Dona Pureza e da filha dela, devem ser atribuídas à mineradora, responsável pelo afundamento do solo em pelo menos cinco bairros de Maceió.
“Esse caso trágico evidencia, mais uma vez, a urgência de uma responsabilização concreta e efetiva da Braskem, tanto pelos danos ambientais quanto pelas consequências humanas que continuam a se desdobrar”, diz um trecho da nota do MUVB encaminhada à imprensa, logo após a confirmação da morte de Elenilma.
Em carta de despedida, Maria Tereza da Paz, 62 anos, mais conhecida como Dona Pureza, disse que estava depressiva, por conta da situação do isolamento e que as obras de revitalização do bairro, realizadas pela Braskem em parceria com a Prefeitura de Maceió, aumentavam ainda mais a sua desilusão.
“Cada vez que eu vejo os benefícios da Braskem, a minha desilusão aumenta. Estou cada vez mais depressiva, em saber que vou ficar nesse isolamento para sempre. Pureza”, foi esse o texto do bilhete que a dona de casa deixou escrito com letra do próprio punho em uma folha de papel pautado, com data do dia 30 de outubro de 2024.
Isolamento social provocou depressão e envenenamento
O bilhete foi achado pelos vizinhos e colocado nas mídias sociais, com sinal de luto e protesto por mais uma vida ceifada, entre as vítimas da mineração em Maceió. Cinco dias antes de colocar veneno de rato para o gato de estimação, para filha especial e se matar, envenenada, Dona Pureza conversou com o defensor público Ricardo Melro, na porta da sua casa, no Flexal de Cima.
Na conversa com o defensor Ricardo Melro, cujo vídeo mostra muito bem o desespero dela, Dona Pureza revelou que estava sofrendo de depressão por conta do isolamento do bairro e defendeu a realocação dos moradores dos Flexais, como defende, em ação civil pública, a Defensoria Pública do Estado (DP/AL).
A conversa com o defensor público foi no sábado, a Dona Pureza tirou a própria vida, ingerido veneno, na quinta-feira (31/10), na região de Bebedouro, em Maceió. Segundo os vizinhos, antes de cometer suicídio, ela teria dado veneno ao gato de estimação e à filha.
“Ela morreu, o gato também e a filha foi levada na ambulância do Samu, entre a vida e morte, para o Hospital Geral do Estado, onde se encontra internada”, afirmou, à época, o vendedor ambulante Valdemir Alves.
Na quinta-feira (21), exatos 21 dias depois de dar entrada no HGE, entre a vida e a morte, Elenilma Silvestre de Souza, conhecida como Preta, veio a óbito. Na ficha dela consta a informação fornecida por um sobrinho dizendo que “a mãe [Dona Pureza] tentou envenenar a própria filha”.
De acordo com a assessoria de comunicação da Polícia Científica de Alagoas, depois de submetido ao exame cadavérico, o corpo Elenilma foi liberado, pelo Instituto Médico Legal (IML), na manhã de sexta-feira (22). O envenenamento foi confirmado com a causa da morte dela.
Até o fechamento desta edição, a família ainda não tinha divulgado quando seria o sepultamento de Elenilma, mas o corpo dela deve ser enterrado no Cemitério São Luiz, no bairro da Santa Amélia, onde o corpo da mãe, Dona Pureza, foi sepultado, no início do mês.
MUVB: falta de reparação foi a causa
A mineradora foi citada, tanto no bilhete deixado por Dona Pureza como por integrantes do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), como responsável pelas duas mortes, a reportagem da Tribuna Independente procurou ouvir a petroquímica, mas a resposta, como sempre, foi lacônica e sem muita empatia: “A Braskem tomou conhecimento dos fatos noticiados e se solidariza com a família, amigos e a comunidade”.
“Se a mineradora fosse realmente solidária a população dos Flexais já tinha reconhecido os danos causados a essas famílias e incluído no programa de compensação da empresa para que as famílias sejam realocadas e indenizadas de forma justa”, comentou a bióloga Neirevane Nunes, integrante em Alagoas do Movimento Nacional de Combate à Mineração Predatória (MAM).
NOTA DE PESAR
O Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) divulgou nota de pesar em nome de Elenilma Silvestre de Souza, de 42 anos, filha de Dona Pureza. Mãe e filha morreram envenenadas, no Flexal de Cima, onde moravam.
Dona Pureza morreu no dia 31 de outubro, depois de colocar veneno de rato para a filha e para um gato de estimação. Ela e o gato morreram no mesmo dia, enquanto a filha era levada para o HGE, onde ficou internada, entre a vida e morte, até quinta-feira (21), quando veio a óbito.
Na nota de pesar, o MUVB atribui as duas mortes à Braskem, por conta da forma impiedosa que a mineradora se relaciona com as vítimas da mineração em Maceió. “A precariedade, o desamparo e a ausência de reparação justa têm gerado cicatrizes profundas nas famílias que perderam tudo: suas casas, suas comunidades e, em muitos casos, sua dignidade”, afirmam os signatários da nota de pesar.
Mais lidas
-
1Apenas 15 anos
Corpo do filho do cantor J Neto é encontrado na cozinha
-
2Confira
Consciência Negra: veja o que abre e fecha em Alagoas nesta quarta-feira (20)
-
3Marechal Deodoro
Ausência do superintendente da Codevasf gera indignação em reunião sobre projetos envolvendo mel e própolis vermelha
-
4Consciência Negra
Jorge Aragão anima noite de sexta no Vamos Subir a Serra na Orla de Maceió
-
5É hoje!
Quem saí de 'Fazenda 16'? Enquete mostra qual peão deve ser eliminado. Veja parcial