Cidades

Dados do IBGE mostram que Alagoas tem 31 mil quilombolas

Iteral diz que Estado tem 78 comunidades remanescentes de quilombos certificadas pela Fundação Cultural Palmares

Por Valdete Calheiros - colaboradora / Tribuna Independente 15/11/2024 10h10
Dados do IBGE mostram que Alagoas tem 31 mil quilombolas
As comunidades quilombolas estão espalhadas em diversos municípios, mas não em sua totalidade - Foto: Cortesia

Às vésperas do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, próxima quarta, dia 20, Alagoas, terra de Zumbi dos Palmares e Dandara, volta os olhos às 37.722 pessoas que se autodeclararam quilombolas no Censo 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Naquele ano, aconteceu, pela primeira vez, a pesquisa que levantou o quantitativo dessa parcela da população. Dos 102 municípios, 56 têm população quilombola registrada, demonstrando uma significativa presença territorial no estado. A visibilidade dada pelo Censo Demográfico mostrou quantos são e onde vivem os remanescentes de Zumbi e de Dandara.

Segundo o Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral), Alagoas tem 78 comunidades remanescentes de quilombos certificadas pela Fundação Cultural Palmares. E apenas uma com titulação, o Quilombo Tabacaria, em Palmeira dos Índios.

Nacionalmente, Alagoas ocupa a 6ª posição, ficando atrás apenas da Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Pará e Pernambuco. O grupo corresponde a 1,21% da população geral do estado que luta pelas raízes centenárias da ancestralidade quilombola em Alagoas. Costumes e tradições que praticamente se perderam no tempo e encontram, em algumas poucas comunidades isoladas, seus últimos respiros e sinais de resistência e luta.

O município com maior concentração de quilombolas é Palestina, que conta com uma população expressiva (31,72% em relação à população geral). Penedo é a cidade com maior número absoluto de quilombolas (5.280), mas eles correspondem a 9% da população.

Em relação à população geral, Maceió é o município com menor número proporcional de quilombolas. Foram apenas 21 identificados, dentro de uma população de 957.916 habitantes, o que corresponde a 0,002%.

Fora da capital, a cidade com menor número proporcional de quilombolas é Porto Calvo (0,04%).

Ainda segundo os dados do IBGE, em números absolutos, sem levar em conta a proporcionalidade, as cidades com menor quantidade de quilombolas são Maravilha e Porto Calvo, cada uma com apenas 10 pessoas autoidentificadas.

“Importante lembrar que nem todos os municípios alagoanos têm população quilombola. A pergunta foi destinada a apenas alguns locais onde havia territórios quilombolas”, adiantou o IBGE.

Maior carência é no setor de saúde, afirma líder de quilombo

A reportagem do jornal Tribuna Independente conversou com o líder quilombola Jaelson Florêncio dos Santos, do Quilombo Sítio Rolas, em Pariconha.

No município, existem cinco comunidades quilombolas devidamente certificadas, totalizando mais de 700 pessoas.

Jaelson Florêncio dos Santos é também um dos coordenadores das comunidades quilombolas do Alto Sertão de Alagoas. A região soma pelo menos 16 comunidades distribuídas em Inhapi, Delmiro Gouveia e Água Branca, além de Pariconha.

Segundo a liderança, a maior carência é no atendimento prioritário de saúde. “As populações indígenas têm os polos de atendimento de saúde. Nós não temos sequer um carro ao transporte dos nossos povos quando adoecem. Ainda alimentamos o sonho de termos escolas quilombolas e a titulação territorial para trabalharmos na área plantando e colhendo nosso pão”, reclamou.

Comunidades quilombolas reclamam de dificuldades, como atendimentos de saúde, mas apresentam conquistas (Foto: Cortesia)

Em relação às conquistas, contou Jaelson Florêncio dos Santos, são mínimas. Muitas comunidades estão com processos para titulação territorial em andamento. Precisamos dos trâmites do Iteral, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Fundação Palmares.

Quanto à assistência jurídica da Defensoria Pública da União (DPU) em relação às comunidades tradicionais quilombolas, o defensor público federal Célio Alexandre John, coordenador do Grupo de Trabalho das Comunidades Tradicionais da DPU, explicou que são dois os eixos de atuação.

O primeiro por meio do sistema de defensores regionais e direitos humanos, onde cada estado tem um defensor ou uma defensora regional de direitos humanos que atuam na assistência jurídica das comunidades, propondo ações, precisando assessoria jurídica e também dentro da Defensoria os grupos de trabalho, de grupos vulneráveis.

“Nesse caso temos o Grupo de Trabalho Povos e Comunidades tradicionais que atua na assessoria jurídica também, mas mais com pareceres, na produção de políticas públicas, a confecção de notas técnicas e não atua tanto em processos judiciais”, explicou.