Cidades

Moradores reclamam de obras da Braskem no Flexal de Baixo

Empresa diz que atua no plano de mobilidade urbana com apoio do MPF e parceria da Prefeitura de Maceió

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 16/08/2024 09h22 - Atualizado em 16/08/2024 16h37
Moradores reclamam de obras da Braskem no Flexal de Baixo
Moradores do Flexal de Baixo afirmam que foram surpreendidos com máquinas e operários, a serviço da Braskem, quebrando tudo - Foto: Edilson Omena

Os moradores do Flexal de Baixo, que já não morrem de amores da Braskem, denunciam a mineradora de realizar obras nas ruas do bairro, quebrando todo o calçamento de algumas ruas, provocando um enorme transtorno e sem avisar ninguém.

“De ontem para hoje [quinta-feira, 15/8], fomos surpreendidos com um monte de máquinas e operários, a serviço da Braskem, quebrando tudo, aqui na Rua Tobias Barreto, sem que nenhum morador aqui da região dos Flexais fosse avisado”, reclamou o morador Antônio Domingo dos Santos, mais conhecido por Sassá.

“Isso é um absurdo, iniciar uma obra quebrando as calçadas das casas, impedido a entrada e saída dos carros e das pessoas. Sufocando o povo, levando uma poeira terrível, fazendo um barulho ensurdecedor, tirando o sossego da gente”, desabafou Sassá.
Segundo ele, os vigilantes da obra, que trabalham para uma empresa de segurança patrimonial contratada pela Braskem, fizeram fotos dos líderes comunitários do bairro, no momento que eles davam entrevista a uma emissora de rádio local.

“Os guardas da empresa GPS tiram foto da gente; e a gente, para provar essa intimidação, batemos fotos deles também”, afirmou Sassá, que é morador do Flexal de Baixo há 40 anos e vem se destacando como uma das lideranças da região dos Flexais na luta contra a mineração predatória e pela realocação das famílias do bairro.

VÍDEO DA DENÚNCIA

No começo da manhã, um vídeo produzido pelas lideranças dos Flexais circulou nas mídias sociais, denunciando a atitude da Braskem e da Prefeitura de Maceió, que teriam iniciado as obras no bairro, sem avisar os moradores

Para o comerciante Valdemir Alves, morador do Flexal de Cima e integrante do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), “a mineradora criminosa mais uma vez desrespeita e humilha as famílias vítimas da mineração, residentes nos Flexais”.

“A Braskem está destruindo, destroçando, estraçalhando tudo, acabando com as ruas do Flexal de Baixo. Não sei o motivo, porque não avisaram e nem informaram. Começaram essas obras sem dar satisfação a ninguém. A Braskem e a Prefeitura de Maceió, agindo em conluio com os demais órgãos públicos”, denunciou Alves.

“Não temos mais paz e nem sossego. A Braskem é o inferno do Flexal. O terror do Flexal”, desabafou. “Estou fazendo esse vídeo, mais um, para mostrar esse absurdo”, completou Alves, apelando para os órgãos de fiscalização e controle, a exemplo do Ministério Público Federal, do Ministério Público Estadual e da Defensoria Pública da União, para que intercedam em defesa dos moradores da região.

“Será que vocês não têm sensibilidade humana, com a população, com as vítimas do crime da Braskem?”, questionou Alves, que é morador do Flexal de Cima e luta pela realocação das famílias. “A gente quer sair daqui por conta disso, ninguém respeita a gente”, explicou Alves.

Segundo eles, as famílias que restaram no bairro se sentem isoladas, ilhadas, desde que foram iniciadas as desocupações dos bairros que afundam, na chamada zona de risco, delimitada pela Defesa Civil de Maceió.

Trabalho é de requalificação viária local, conforme acordo, diz empresa

A Braskem não quis se manifestar por meio de nota, mas a assessoria explicou que as obras, realizadas no Flexal de Baixo, fazem parte do acordo com a Prefeitura de Maceió e o MPF, inseridas dentro do Termo de Acordo de Requalificação da Área; e encaminhou à reportagem da Tribuna Independente um tópico que fala sobre as obras viárias de mobilidade urbana patrocinadas pela mineradora.

“As obras de requalificação viária das ruas Tobias Barreto e Faustino da Silveira (faixa de rolamento, calçada, arborização viária, microdrenagem com reparou na macrodrenagem, se necessário; iluminação pública, ciclovias/ciclorotas e paradas de ônibus), estão sendo realizadas seguindo os padrões estabelecidos no Acordo de Mobilidade”.

Acrescenta a Braskem: isso inclui “Realização de Estudos Preliminares (topografia, sondagem etc.): até quatro meses após a assinatura do Acordo; Elaboração e aprovação dos Projetos: até quatro meses após a conclusão dos Estudos Preliminares; Execução das obras: até doze meses após aprovação dos projetos e obtenção de licenças e autorizações”.

No tópico do Braskem explica constam ainda informações que confiram ser a mineradora responsável pela realização dos estudos, elaboração dos projetos e execução das obras, em parceria com a Prefeitura de Maceió.

As obras de mobilidade urbana, patrocinada pela Braskem e executadas por empresas contratadas pela Prefeitura de Maceió, abrangem vários bairros da capital alagoana e vão dos Flexais ao Loteamento Antares, passando pelo Tabuleiro do Martins.

Questionada por que a Braskem não avisou os moradores do Flexal de Baixo que ia iniciar a retirada do calçamento das ruas do bairro, a assessoria de comunicação da empresa ficou de se posicionar, mas até o final da tarde não tinha dado retorno.

Também não explicou em que estágio se encontram as demais obras de mobilidade, incluindo a construção de uma pista dupla, que liga as Avenidas Durval de Góes Monteiro a Menino Marcelo, na Serraria, cujo embargo foi solicitado pelo Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) e autorizado pela Justiça.

PREFEITURA

A Prefeitura de Maceió também foi procurada para se posicionar sobre os transtornos causados pelas obras no Flexal de Baixo, nas proximidades da antiga Estação de Trem do bairro de Bebedouro, mas não quis se manifestar. A assessoria de comunicação da Prefeitura foi acionada, mas não deu retorno.