Pescadores e marisqueiras do bairro Vergel do Lago, em Maceió, estão preocupados com a mortandade de peixes na Lagoa Mundaú. Milhares de peixes apareceram mortos na região no último domingo (31/1). Eles atribuem a mortandade às atividades de mineração da Braskem.

“Começaram a aparecer no sábado. Quando foi no domingo, foi aquele monte de peixe, muito peixe mesmo, mais de uma tonelada. Foi assustador para todo mundo que viu a cena. Principalmente para os pescadores porque é o ganha pão deles, com os peixes e mariscos morrendo, eles não têm como sobreviver”, afirmou a líder comunitária Simone Ferreira.

A presidente da Cooperativa de Trabalho das Marisqueiras de Maceió, Vanessa dos Santos, fez imagens no domingo (31), que mostram peixes como mororó, mandim e carapeba mortos na lagoa. Ela disse que está preocupada com o sururu, já que estava voltando a aparecer na região, e acredita que a Braskem seja responsável.

“Acho que é alguma coisa da mina, que agora começou a afetar a lagoa. É muita coisa que tem ali que eles trabalham, muita coisa química e a gente não tem nem noção. Eu espero que não afete o sururu porque passou mais de um ano sem aparecer. Infelizmente, quem sofre somos nós, marisqueiras e pescadores, que vivemos da Lagoa Mundaú. Ela é a nossa mãe, nosso sustento. Qual é o filho que quer ver a mãe morrer? A gente espera resposta de algum órgão, do pessoal da Ufal também que está pesquisando, mas até agora não falaram nada”, disse.

Há mais de 20 anos vivendo da pesca na Lagoa Mundaú, o pescador Iberson Correia contou que nunca tinha presenciado uma cena como a do último domingo. “Mesmo com a poluição, antes não aparecia essa quantidade. Depois que aconteceu esse negócio da Braskem, começou a aparecer desse jeito. Foi muito peixe morto na lagoa. Não tinha nem como colocar a tarrafa por causa da quantidade de peixes mortos. Se colocasse, ia ser em cima dos peixes mortos, podres. Não sabemos como vai ficar a situação”, afirmou.

Correia lembrou ainda que estão proibidos de pescar em grande parte da Lagoa Mundaú por causa das atividades de mineração da Braskem. “A gente já está sem poder pescar onde mais tinha peixe, tendo que viver da ajuda de família, sem auxílio nenhum de governo, e acontece isso. Até o sururu branco está morrendo”, lamentou.

O pescador Kledrson Jorge também está preocupado com a situação. “Nunca vi acontecer isso de um dia para o outro como aconteceu. Foi muito peixe, muito peixe mesmo. Isso não é a força do produto pesado e, quando vir os outros tipos de dejetos pesados, os peixes vão morrer mais ainda. Vai atingir até o mar”, disse.

IMA coleta água e Braskem nega ser a responsável

Por meio de nota, o Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA-AL) informou que técnicos do laboratório do órgão percorreram vários trechos da laguna, no domingo (31), e também estiveram em outros pontos da laguna na segunda-feira (1), após receber denúncia por meio de um vídeo sobre a mortandade de peixes na Laguna Mundaú. Segundo o órgão, foram colhidas amostras que vão passar por análise laboratorial.

Já a Braskem informou, em nota, que não faz lançamento de qualquer efluente na lagoa. Segundo a empresa, o trabalho realizado na região está relacionado com o fechamento dos poços para extração de sal e todas as atividades são devidamente licenciadas e fiscalizadas.

A companhia informou ainda que os resultados produzidos, até o momento, do monitoramento da água na Lagoa Mundaú, não indicam alteração no padrão típico de qualidade, segundo avaliação feita por especialistas da Universidade Federal de Alagoas e Instituto do Meio Ambiente, divulgada no dia 18 de dezembro de 2023.

Na ocasião, os especialistas afirmaram que as análises da Lagoa Mundaú indicam altos índices de contaminação, mas a situação é antiga e não está relacionada à acomodação do solo na região da cavidade 18. Segundo eles, o grande causador é o lançamento de esgoto não tratado e de produtos químicos.