Cidades
Diretor da Braskem cita pânico e é contestado por vítimas da mineradora
“Empresa coopta e corrompe órgãos que poderiam ser de controle ou técnicos”, diz representante
Em um evento na capital paulista, realizado na última segunda-feira (4), o diretor-presidente da Braskem, Roberto Bischoff, apontou a classe política alagoana como responsável pelo pânico gerado por conta do iminente colapso das minas de sal-gema que a multinacional explorou por mais de 40 anos, em Maceió.
A fala dele foi durante o Encontro Anual da Indústria Química, em São Paulo (SP). O executivo disse que, desde 2019, quando um relatório mostrou que o rebaixamento de solo em cinco bairros da capital alagoana teve como causa a exploração das minas de sal-gema, a Braskem interrompeu as atividades no local e contratou especialistas para entender o fenômeno.
No evento, promovido pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Roberto Bischoff afirmou que a empresa tem o compromisso de dar continuidade ao processo de fechamento das minas, iniciado a quatro anos, “sem colocar em risco as pessoas”.
“Infelizmente, [esse tema] entra em alguma situação política que a gente acaba tendo informações distorcidas, nas redes sociais”, declarou o presidente da multinacional Braskem S/A”, conforme matéria divulgada pelas agências de notícias.
CONTESTAÇÃO
Para o presidente da Associação dos Empreendedores Vítimas da Braskem em Maceió, empresário Alexandre Sampaio, o executivo da petroquímica “está falando bobagem. Bobagem total. Porque o buraco é mais embaixo”. Na verdade, acrescenta Sampaio, “a Braskem coopta e corrompe os órgãos que poderiam ser de controle ou técnicos que poderiam mensurar os que está acontecendo. Com isso, torna confuso o problema”.
De acordo com Sampaio, “a Braskem sempre financiou políticos, do governo ou da oposição, de direita e da esquerda. E os políticos se envolvem, mas não é por conta dela, em si. Mas provocados por ela”. Para o empresário, “o pânico quem causa é a mineradora, que sonega informações importantes, com a cumplicidade dos órgãos de fiscalização e de defesa da sociedade”.
“Esse diretor (Roberto Bischoff) quer esconder a responsabilidade da Braskem pelo crime socioambiental urbano cometido contra a população de Maceió”, contestou o procurador do Trabalho Cássio Araújo, que também faz parte do Movimento Unificado das Vítimas de Braskem.
Para ele, “se a empresa assumisse plenamente suas responsabilidades e fosse transparente nas suas ações não se estaria discutindo a destinação de dinheiro público para a construção de casas populares, pois ela teria assumido esse ônus com indenizações justas para todos os afetados. Ao invés disso quer construir uma cortina de fumaça diante de tanta desgraça cometida contra o povo de Maceió”.
Governo federal pagará auxílio a pescadores e marisqueiras de Maceió
O governo federal pagará um auxílio de R$ 2.640 para cerca de seis mil pescadores e marisqueiras de Alagoas afetados pelo risco de colapso e desabamento da mina 18, da empresa Braskem, na região do Mutange, em Maceió. A área atingida fica às margens da lagoa Mundaú, importante fonte de pesca de marisco.
A informação é do governador de Alagoas, Paulo Dantas, que esteve reunido ontem com o presidente em exercício, Geraldo Alckmin. De acordo com o ministro dos Transportes, Renan Filho, que é de Alagoas, os recursos serão disponibilizados imediatamente, nos moldes do auxílio pago a pescadores afetados pela estiagem na Região Norte do país.
“Por conta do isolamento da lagoa e da paralisação das atividades produtivas no setor, fazer um auxílio às pessoas que vivem, que dependem disso”, disse Renan. “O estuário lagunar Mundaú e Manguaba é um dos maiores centros do planeta em produção de proteína animal de origem lagunar e marítima. Então, isso é bastante relevante, muitas pessoas, pelo menos seis mil, têm a sua renda a partir da atividade produtiva da pesca e da coleta de marisco na lagoa”, explicou o ministro.
Durante o encontro no Palácio do Planalto, Dantas apresentou uma série de pedidos ao governo federal para enfrentar a crise. Segundo o governador de Alagoas, todos os pedidos foram aceitos por Alckmin e serão acompanhados pelos respectivos ministérios.
A petroquímica Braskem é responsável por 35 minas para exploração de sal-gema no Bairro do Mutange. Em 2018 foram registrados os primeiros afundamentos em cinco bairros e estima-se que cerca de 60 mil residentes tiveram que se mudar do local e deixar para trás os seus imóveis.
O governo federal diz que dará encaminhamento a estudo para o fechamento das minas utilizando material de dragagem das lagoas Mundaú e Manguaba.
“Fazendo isso, nós estamos fazendo a dragagem e a limpeza, a revitalização das lagoas. Então, a gente sana um problema ambiental revitalizando as lagoas e, se for possível, também resolve o fechamento dessas minas que estão causando esse transtorno enorme para a nossa cidade de Maceió”, disse Dantas.
ALE: deputados debatem CPI para investigar desastre ambiental e urbano
Os parlamentares da Casa de Tavares Bastos discutiram, na sessão ordinária de ontem, sobre o desastre ambiental provocado pela Braskem em bairros de Maceió e a possibilidade da criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado Federal, para investigar os eventuais crimes cometidos pela mineradora. O tema foi levantado pelo deputado Cabo Bebeto (PL), que pediu também punição para todos os agentes públicos que, durante décadas, teriam permitido a mineração na capital alagoana.
Vários deputados pediram para discutir. O primeiro deles foi Ronaldo Medeiros (PT), que questionou o receio de alguns senadores com a realização de uma CPI. Também citou o acordo que a empresa fez com a Prefeitura de Maceió, na ordem de R$ 1,7 bilhão. “Quanto desse dinheiro foi destinado a uma vítima?”.
O deputado Delegado Leonam (União Brasil) afirmou que “existe a responsabilidade por ação e a responsabilidade por omissão; é inegável a responsabilização civil administrativa e criminal da empresa Braskem”. O deputado lembra que neste 05 de dezembro Maceió completa 208 anos sem ter o que celebrar.
O deputado Doutor Wanderley (MDB) defendeu a participação do senador Renan Calheiros (MDB/AL) na CPI. “Renan teve a coragem de nacionalizar a discussão, utilizar esse assunto que é muito grave e não estava tendo devido destaque nacional”, afirmou o deputado, lembrando que Renan Calheiros, quando foi deputado estadual, posicionou-se contrário à instalação da Braskem. “Aproveito para fazer um apelo para que partidos políticos indiquem seus membros para a CPI”, encerrou o parlamentar. O deputado Bruno Toledo (MDB) também defendeu a participação ativa de Renan Calheiros na CPI. Irmão do senador, o deputado Remi Calheiros (MDB) também defendeu o histórico de Renan por Alagoas em sua carreira política. “Ele solicitou a abertura de uma CPI apontando todos os responsáveis pelo grave acidente. Tem que ter a coragem e a mesma determinação que o senador teve como quando foi relator da CPI do Covid, durante a pandemia que matou centenas de milhares de brasileiros”. Remi encerrou afirmando que todos os investigados considerados culpados, não importa o nome, terão que pagar pelos crimes.
Alexandre Ayres (MDB) destacou que a principal função do Poder Legislativo é defender as pessoas que foram prejudicadas, alertando para o fato de Maceió não ter um plano de contingência, dando como exemplo a expulsão recente de pessoas da região do Flexal. Cibele Moura (MDB) cobrou união de esforços para a superação do problema. “Precisamos pensar nas vítimas, antes de qualquer coisa, hoje precisamos olhar pelas pessoas”. Por fim, Francisco Tenório (PP) lembrou da chegada da empresa em Maceió. “A Braskem sabia, sim, que haveria o perigo, pensando na ganância financeira, pensando no lucro, e cabe às forças policiais a abertura de inquérito contra a empresa”, disse o deputado, ressaltando que a empresa tem, entre seus donos, a antiga Odebrechet e a Petrobras, do Governo Federal. “Hoje existem três situações de guerra no mundo. Rússia contra Ucrânia, israelenses contra palestinos na faixa de Gaza e a tragédia em Maceió”, encerrou o deputado.
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