Cidades

Moradores de bairros afetados por afundamento temem tragédia na região

Preocupação ocorre após Defesa Civil de Maceió registra dois eventos sismológicos na área evacuada

Por Tribuna Independente 08/11/2023 11h46 - Atualizado em 09/11/2023 01h59
Moradores de bairros afetados por afundamento temem tragédia na região
Líderes comunitários se reuniram na região para pedir providências - Foto: Edilson Omena

Moradores dos bairros afetados pela atividade de mineração da Braskem estão com medo de que aconteça uma nova tragédia, após a Defesa Civil de Maceió registrar dois eventos sismológicos na área evacuada do bairro do Mutange, na segunda-feira (6). Segundo os moradores, os tremores começaram na semana passada.

“Na realidade, nós ficamos sabendo através da imprensa. O pessoal de uma emissora ligou para mim, perguntando se eu estava sabendo e eu disse que não. Procurei saber nos grupos e um morador disse que, desde quarta-feira, os funcionários tinham sido evacuados da área onde aconteceu os tremores e não estavam trabalhando. A Defesa Civil é omissa, ameniza a situação, sabendo que o risco é grave. Como é que fica a comunidade da Marquês de Abrantes e dos Flexais? As pessoas que ainda moram ao redor dessa situação?”, indagou o morador Valdemir Alves.

Um outro morador, que não quis se identificar, disse que os funcionários da Braskem estavam perfurando com uma sonda e danificaram uma mina. “Os trabalhadores receberam alerta para ir ao ponto de encontro. Então, isso mostra que a coisa está tão grave, que eles não sabem nem o que fazer. Todos aguardando do lado de fora e também foi relatado que a Defesa Civil entrou lá para verificar a situação. Para ter uma ideia da gravidade, uma das sondas perfura mais de mil, dois mil metros para chegar onde pretendem executar o trabalho e essa sonda só chegou a 600 metros e já pararam e começaram a concretar o que estavam perfurando porque danificou a mina”, contou.

O líder comunitário dos Flexais, Antônio Domingos, ressalta o medo dos moradores. “O mais grave é que a gente aqui dos Flexais não tem nenhuma rota de fuga, a gente não tem ponto de encontro. Se acontecer um desastre, para onde vamos correr? Não tem nenhuma indicação, a população não tem nenhuma preparação. Esses abalos estão deixando a população com medo, preocupada e sem dormir direito porque, do mesmo jeito que aconteceu durante o dia, pode acontecer à noite”, afirmou.

Os moradores estiveram ontem (7) na Justiça Federal de Alagoas (JFAL) e conversaram com o diretor da 3ª Vara, Gunnar Dorneles Trennepohl, para pedir uma visita técnica e cobrar a realocação.

“Fomos conversar sobre a realocação e aproveitamos para levar a informação do risco que estamos passando, com esses tremores recentes. Esperamos que a Justiça tenha um olhar para as vítimas. Nós estamos sofrendo risco. Lembro que, em uma das audiências na Assembleia Legislativa, o coordenador da Defesa Civil disse que nós seríamos avisados, caso houvesse algum tipo de tremor horas antes porque os sismógrafos e os aparelhos instalados de última geração, teriam essa condição de nos alertar. No mesmo dia que ele falou isso, aconteceu um tremor e ele foi avisado pela imprensa. E mais uma vez vocês tomam a dianteira das coisas e avisam à Defesa Civil, que só soltou nota oficial dos tremores após vocês terem noticiado”, disse o integrante do Movimento Único Vítimas da Braskem (MUVB) e morador do Flexal, Maurício Sarmento.

Segundo a Defesa Civil, o primeiro evento sismológico foi às 11h58, com magnitude local de 1.15, e o segundo foi às 13h44, com magnitude local de 1.38. O órgão afirma que são magnitudes consideradas baixas, que não têm potencial de causar danos à superfície ou serem sentidas pela população, só sendo identificadas pelos equipamentos de monitoramento.

Ainda de acordo com a Defesa Civil, devido a movimentação de solo, a região está suscetível a eventos sísmicos dessa natureza. O órgão reforçou ainda que atua no monitoramento 24h por dia, e acionou seus protocolos e as operações próximas às áreas foram paralisadas preventivamente. Determinaram ainda que a Braskem repasse dados a respeito de sondagens nos locais atingidos, já que os eventos podem estar associados ao preenchimento das minas de sal-gema.

Por meio de nota, a Braskem informou que a região possui uma rede de monitoramento robusta, capaz de detectar movimentos de baixa intensidade em profundidade e superfície, e que os eventos ocorridos não alteraram a rotina da região.

A Braskem disse ainda que as operações que foram paralisadas são as atividades para fechamento dos poços de extração de sal, desativados desde 2019.