Os usuários do sistema de Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) de Maceió continuam amargando transtornos e prejuízos com a interrupção de um trecho da linha férrea, que vai do bairro do Mutange ao Bom Parto, por causa do desastre geológico provocado pela extração de sal-gema pela Braskem. Segundo a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), a mineradora tem até fevereiro do próximo ano para entregar o projeto com o novo traçado do VLT.

Para a moradora do Flexal de Baixo Rafaela de Almeida, o VLT não serve mais para nada. “Eu usava para tudo, ir ao médico, casa da minha avó na Pajuçara, comércio, tudo. Hoje em dia, quando eu tenho dinheiro, vou de Uber porque ônibus não tem condições com criança pequena, como é o meu caso. Quando eu não tenho dinheiro, fico em casa. Uma palhaçada ir de trem até ali, depois descer e pegar um ônibus, descer e pegar o trem novamente”, afirmou.

Rafaela de Almeida ressalta que facilitaria a vida de muitos moradores da região se o tráfego do VLT na região não fosse interrompido. “Tudo relacionado à saúde, eu marcava para o Centro por causa do transporte, já que ia de trem. Antes, era muito útil, eu usava praticamente todos os dias e meu marido também, que trabalha no Bom Parto e ia todos os dias de trem. Agora, ele gasta com ônibus e quando chega aqui já é tarde, por causa do trânsito. Seria muito bom e facilitaria a vida de muita gente aqui, se esse trem voltasse”, disse.

Também moradora do Flexal de Baixo, a aposentada Vitória Lima ainda costuma utilizar o VLT, mas reclama do tempo que leva para chegar ao destino e torce para que a rota férrea retorne algum dia. “Eu pego quando vou ao Centro. O gasto financeiro continua o mesmo, mas o tempo que a gente perde é grande”. O almoxarife Wandro Soares utiliza o trem todos os dias para ir ao trabalho e reclama da dificuldade. “Eu ia para o trabalho de trem, pegava, descia no Bom Parto e depois subia andando para o Farol, que eu trabalho no Farol. Mas, depois que fecharam a via, ficou ruim demais.

A aposentada Maria Gorete Cavalcante também utiliza o VLT e tem que enfrentar a baldeação. “Eu pego o ônibus que deixa no Bom Parto e depois outro trem para ir ao Centro. Eu estou me acabando depois dessa Braskem. Não tem nada aqui, se a gente precisa comprar alguma coisa tem que ir para a Jaqueira ou Bebedouro”, contou.

Entendimento

De acordo com a CBTU, foi formalizado um memorando de entendimento com a Braskem. O documento consiste na elaboração de projetos que possam viabilizar novo trajeto de ferrovia, bem como minimizar os danos causados à CBTU pela interrupção do trecho ferroviário na região do Mutange - consequência do afundamento do solo causado pelas atividades da Braskem.

Ainda segundo a companhia, o memorando – formalizado em agosto – prevê prazo de 180 dias para conclusão, podendo ser prorrogável por 60 dias, e no processo há cláusulas de confidencialidade, às quais a CBTU deve respeitar.

Desde a interrupção determinada pela Defesa Civil, vem sendo realizado transporte com a baldeação por ônibus disponibilizado pela Braskem. A solução provisória aumentou o tempo do trajeto em 40 minutos, em média, e a interrupção do trecho causou ainda a redução do fluxo de passageiros da operação da CBTU em mais de 60%.

Por meio de nota, a Braskem informou que tem mantido discussões técnicas e transparentes com a CBTU com o objetivo de encontrar de forma célere a solução mais adequada para o trecho da linha férrea atualmente interditado e disse ainda que já realizou ações com o objetivo de aperfeiçoar o atual sistema de transbordo de passageiros entre as estações Bebedouro e Bom Parto, a exemplo da instalação de banheiros, placas de sinalização e cobertura nos pontos de baldeação, restauração de calçadas e muros.