Cidades

Motoristas ignoram controladores de velocidade educativos

DMTT instala radares educativos em áreas de maior fluxo de Maceió; primeiro dia registra diversos flagrantes de excesso

Por Valdete Calheiros - colaboradora com Tribuna Independente 31/08/2023 08h27 - Atualizado em 31/08/2023 13h58
Motoristas ignoram controladores de velocidade educativos
Placa a poucos metros dos controladores indica velocidade permitida, mas muitos condutores ignoram - Foto: Edilson Omena

Todos os motoristas que passaram pela Avenida Assis Chateaubriand, no trecho do Pontal da Barra, na tarde de ontem, estavam com a velocidade acima do permitido. Os flagrantes foram registrados pela reportagem no primeiro dia de funcionamento dos controladores de velocidade educativos, como são chamados pela Prefeitura de Maceió, os aparelhos instalados pelo Departamento Municipal de Transportes e Trânsito (DMTT).

Uma placa indicativa a poucos metros do controlador de velocidade educativo mostrava que a velocidade permitida era de 30 quilômetros por hora. Não foi difícil achar condutor com pelo menos o dobro do limite indicado.

Apesar de não seguirem o padrão de velocidade permitida, os motoristas aprovaram os controladores de velocidade educativos. A técnica de laboratório Raquel Clea Oliveira, 38 anos, contou que sempre dirige com uma margem segura de distância do carro à frente já para realizar uma direção defensiva.
“Eu espero que esses equipamentos ajudem a conscientizar os motoristas que gostam de pisar no acelerador”, resumiu. Assim como ela, os pedestres estão na torcida para que os equipamentos ajudem a desacelerar o trânsito na capital.

O zelador Luís Araújo, 43 anos, se desloca até o trabalho de bicicleta e disse esperar longos 5, 10 minutos para atravessar a rua porque os motoristas quando passam pela Avenida Assis Chateaubriand passam fazendo “vento nas pernas, de tão rápidos. Parece até aposta de velocidade”, reclamou.

O casal Nilson Rocha, 61 anos, e Tânia Maria Nascimento dos Santos, 63 anos, costumam caminhar pela orla. Ele, agente de endemias, e ela, aposentada, levaram um grande susto quando a filha do casal teve o carro atingindo por um motorista que dirigia em alta velocidade.

“Para motorista que quer dirigir em alta velocidade, tem que ter algo de caráter explicativo e também punitivo. Quem dirige com irresponsabilidade só aprende quando mexe no bolso”, argumentou Nilson Rocha.

O funcionário público aposentado Ademir Alves, 64 anos, defendeu também a construção de lombadas, além da instalação dos controladores de velocidade educativos.

DMTT instala radares educativos em áreas de maior fluxo de Maceió; primeiro dia registra diversos flagrantes de excesso

Os seis controladores de velocidade educativos começaram a funcionar ontem com o objetivo de conscientizar os motoristas sobre os limites de velocidade das vias e garantir a segurança viária.

O órgão de trânsito da capital garantiu que os aparelhos não têm caráter punitivo, com aplicação de multas. “O DMTT de Maceió esclarece que controladores de velocidade educativos têm objetivo de conscientizar os motoristas para o respeito aos limites de cada via. O órgão ressalta que o equipamento não é punitivo”, afirmou, em nota o Departamento.

Segundo a DMTT, a ação foi necessária levando em consideração que a redução de velocidade e a obediência aos limites de velocidade cada rua ou avenida são fatores que contribuem para a diminuição do número de acidentes com vítimas, em especial, os que envolvem pedestres.

Além da Avenida Assis Chateaubriand, no Centro, os radares foram instalados nas avenidas Governador Afrânio Lages e Fernandes Lima, ambas no Farol; na Avenida Álvaro Otacílio, na Jatiúca; na Avenida Menino Marcelo, na Serraria; e na Avenida Josepha de Mello, em Cruz das Almas.

Os locais foram escolhidos de forma estratégica, por apresentarem um maior fluxo de veículos. A velocidade do veículo é captada a partir de um sensor presente no equipamento.

O engenheiro especialista em segurança viária, Antonio Monteiro explicou que a velocidade é que define a gravidade do acidente. “A Organização das Nações Unidas, a Organização Mundial de Saúde, a Organização Panamericana de Saúde todos e os estudiosos do mundo que analisam a questão do trânsito apontam a redução da velocidade como uma das medidas mais efetivas. Maceió é a única capital do país que não tem um controle de sistema de velocidade. E isso é muito grave porque gera morte”, detalhou.

Segundo Antonio Monteiro, os estudos internacionais mostram que dentro das áreas urbanas a velocidade abaixo de 40 quilômetros por hora reduz em 90% a possibilidade de morte por atropelamento.

Engenheiro de transporte: “aparelho é bem polêmico e difuso no Brasil”

O engenheiro de transporte Fábio Barbosa Melo afirmou que não utilizaria essa medida. “O fato é que as pessoas não entendem muito bem o funcionamento da fiscalização eletrônica. O aparelho é mesmo bem polêmico e difuso no Brasil”, ponderou.

Na sua avaliação, uma medida que venha a ser educativa pode confundir os condutores e expô-los a situações de perigo, como reduções bruscas de velocidade, por exemplo.

“Os condutores reclamam porque, primeiro, a punição pecuniária é branda e as sanções pouco punitivas, ou seja, não servem como exemplo para que outras pessoas não cometam a infração. Há também o fato do poder público não divulgar quais são os ganhos para a população nos locais escolhidos para realização da fiscalização. Algo do tipo: ‘antes aqui não havia radar e ocorreram esses sinistros com tantas vítimas fatais e tanto dano material. Após a implantação do equipamento, houve redução de ocorrência em tantos por cento”, acrescentou o engenheiro de transporte Fábio Barbosa.

ANTIGOS RADARES

Maceió já teve radares eletrônicos na gestão do ex-prefeito Rui Palmeira. Os radares fiscalizavam tanto o limite de velocidade quanto o avanço do sinal vermelho.

Naquela época, os radares eletrônicos viraram polêmica, porque, segundo os motoristas, as multas aumentaram significativamente. A gestão municipal ficou até conhecida à época como responsável por uma suposta “indústria da multa”.

O Ministério Público do Estado de Alagoas realizou estudos e estes apontaram que em diversos locais não se justificavam a instalação dos radares.
Então, em dezembro de 2017, uma decisão provisória da Justiça mandou desligar os equipamentos. A decisão definitiva saiu em maio de 2018.