Cidades

DPE vai recorrer de decisão sobre inclusão de moradores dos Flexais

Liminar que pede cadastro imediato no Programa de Compensação Financeira da Braskem foi negada pela Justiça

Por Luciana Beder – Colaboradora com Tribuna Independente 05/04/2023 10h06
DPE vai recorrer de decisão sobre inclusão de moradores dos Flexais
Durante audiência pública organizada pelo MUVB e Associação dos Moradores dos Flexais, Defensoria esclarece dúvidas da população sobre ação - Foto: Edilson Omena

A Defensoria Pública do Estado de Alagoas (DPE/AL) vai recorrer ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) após ter negada pela Justiça Federal em Alagoas (JFAL) a liminar referente à Ação Civil Pública (ACP) que pede indenizações justas e realocação para os moradores dos Flexais de Cima e de Baixo, parte da Marquês de Abrantes e Quebradas.

Na liminar, a Defensoria pediu que o município de Maceió e a Braskem, no prazo de 24 horas a contar da intimação da decisão, iniciassem o cadastro de todos os moradores que queiram ser realocados, incluindo os que já saíram da região por causa do isolamento social. Também a inclusão imediata no Programa de Compensação Financeira (PCF) da Braskem de todos aqueles que optarem pela realocação.

Segundo o defensor público Ricardo Melro, a Justiça não aceitou o pedido liminar, mas a ACP foi aceita e será processada. “Isso é o início. A liminar é negada, você recorre da liminar e o processo vai tomar o seu curso. Os réus vão contestar, ou não, porque eles podem também aderir ao pleito. O Estado, inclusive, se manifestou dizendo que estava verificando se poderia aderir ao pleito da Defensoria porque, de fato, é um absurdo a indenização que está sendo paga e depois tem a parte da instrução probatória, oitiva de testemunha, sentença e depois da sentença as partes podem recorrer. Então, o processo está bem no início”, afirmou.

Ontem (4), a Defensoria Pública participou de uma audiência pública, organizada pelo Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) e Associação dos Moradores dos Flexais e região, para esclarecimentos diante das dúvidas sobre a ACP ingressada pelo órgão, bem como a atuação da instituição à frente dos prejuízos causados pela mineradora.

Melro afirmou que está havendo uma desinformação muito grande. “Pediram que viesse aqui para passar mais informações sobre o processo porque está havendo uma desinformação muito grande, principalmente, pelo que consta fomentado pela ré, a Braskem, para forçar a população a aderir esse acordo indigno que foi feito. Quando eles divulgam, por exemplo, que a ação não foi aceita, eles passam para a população que não tem jeito, que tem que aderir, mas a ação foi aceita, a liminar que foi negada, a ação está correndo e vamos lutar”, disse.

Lideranças afirmam que direitos da população foram violados

Para Neirevane Nunes, integrante do Movimento Único Vítimas da Braskem (MUVB), a Defensoria Pública é a única instituição que está ao lado da população. “Aqueles que poderíamos contar, que deveriam defender os direitos dessa população, estão negando esses direitos, que são os que formam hoje a Força-tarefa. MPF, MPE, DPU e Prefeitura de Maceió fecham os olhos para a realidade. Todos viram o Diagnóstico apresentado durante quatro dias pela Diagonal e esse Diagnóstico faz uma defesa da proposta de reurbanização do Flexal, defende que essa comunidade que está em isolamento deve permanecer, que é uma comunidade ativa, que possui aparelhos públicos, ignorando toda realidade, a real necessidade da população”, afirmou.

Nunes disse que a indenização no valor de R$ 25 mil é um cala-boca para manter a população nos Flexais e que, quando celebraram o acordo dos Flexais, ignoraram todos os estudos que foram realizados na comunidade, passando por cima da população como um trator.

“O que estamos vendo é uma violação de direitos, os direitos individuais e coletivos dessa população estão sendo violados porque esse projeto é uma farsa. Esse valor colocado como compensação de R$ 25 mil é um cala-boca para a população, para manter a população aqui, confinada em um ambiente insalubre, inseguro, que não tem condição de habitabilidade nenhuma, porque nem de longe representa uma indenização”, ressaltou.

O líder comunitário do Flexal, Antônio Domingos, afirmou também que os direitos da população estão sendo violados. “O Ministério Público Federal junto com toda a Justiça está violando os nossos direitos. Estão fazendo reunião com quatro moradores que querem ficar aqui na região, que eu não sou contra que fiquem com dignidade e que aqueles que querem sair saiam, mas não estão tendo essa preocupação, estão ouvindo esses quatro gatos pingados junto com a Diagonal, vêm buscar esses moradores de carro, levam e trazem, e isso é crime, é grave”, disse.

Para Domingos, é uma luta injusta que a população está enfrentando. “Esses R$ 25 mil parece que cegou todo mundo. Somos uma comunidade carente, humilde, passando necessidade e, naquele momento todo mundo era carente, a Braskem mandava um monte de cesta básica e, depois que adquiriu as assinaturas que queria, a comunidade deixou de ser carente. É a comunidade e a Defensoria Pública lutando contra quatro gigantes, a Braskem, Ministério Público Federal, Defensoria Pública da União e Ministério Público Estadual. Viram a nossa situação e deram a causa favorável para a Braskem. Mas é aquele ditado: quem manda é quem pode”, afirmou.