Cidades

Alagoas registra 18 casos de feminicídio até julho

Em apenas uma semana foram três crimes; de janeiro a junho 15 casos

Por Luciana Beder – Colaboradora com Tribuna Independente 23/07/2022 10h23
Alagoas registra 18 casos de feminicídio até julho
Maria Aparecida Bezerra, de 54 anos, foi morta com golpes de faca pelo esposo Alisson Bezerra, de 44 anos, na última quinta-feira (21) - Foto: Reprodução/Instagram

Alagoas registrou 18 casos de feminicídio desde janeiro até julho deste ano. Três desses casos foram em uma mesma semana, sendo dois deles em Maceió e um em Arapiraca. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de Alagoas (SSP/AL), quinze casos de feminicídio foram registrados entre os meses de janeiro e junho deste ano, sendo três deles na capital. No mesmo período do ano passado, foram treze feminicídios, sendo quatro deles em Maceió. Um aumento de dois casos.

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, nos últimos dois anos, 2.695 mulheres foram mortas pela condição de serem mulheres. Em 81,7% dos casos foi o companheiro ou ex-companheiro. E as residências continuam sendo, desde sempre, o local em que as mulheres são mais vítimas de feminicídio. 65,6% do total de crimes cometidos foi realizado na residência.

O Código Penal prevê, desde a tipificação, o feminicídio como qualificador do crime de homicídio. 

A presidente da Comissão Especial da Mulher, da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Alagoas (OAB-AL), advogada Cristiane Lúcio, explicou que para se enquadrar o assassinato de uma mulher como crime de feminicídio, é necessário que o autor tenha cometido o ato em razão de violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

“É o homicídio doloso praticado contra a mulher por ‘razões da condição de sexo feminino’, ou seja, desprezando, menosprezando, desconsiderando a dignidade da vítima enquanto mulher, como se as pessoas do sexo feminino tivessem menos direitos do que as do sexo masculino”, afirmou.

TRÊS CASOS EM UMA SEMANA

O caso mais recente de feminicídio no estado foi na última quinta-feira (21), em Maceió. Maria Aparecida Bezerra, de 54 anos, foi morta com golpes de faca pelo companheiro Alisson Bezerra, de 44 anos, no bairro do Antares. Após matar a esposa, ele se esfaqueou e foi levado para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde passou por cirurgia. Ele continua internado e o estado de saúde dele é estável. Ontem (22), a Justiça decretou a prisão preventiva de Alisson, mesmo internado.

Na terça-feira (19), em Arapiraca, Diego Fernandes Lira da Silva, matou a esposa, Daniela Fernanda Silva Belo, de 29 anos, a facadas na frente dos filhos, de 3 e 5 anos. Segundo informações da polícia, ele teria confessado o crime em áudio enviado para a cunhada. Depois de gravar o áudio, Diego teria saído de casa em seu carro e jogou o veículo contra um caminhão, e morreu no local do acidente.

Na quinta-feira anterior (14), um casal foi encontrado morto no quarto da residência que moravam no Pontal da Barra, em Maceió. Cláudio Jackson Barbosa dos Santos, de 36 anos, matou a companheira, Maria Elenilda Vieira da Silva, de 28 anos, e depois do crime cometeu suicídio.

"Ao romper silêncio, a mulher liberta-se das amarras”


De acordo com Cristiane Lúcio, a figura da mulher sempre esteve relacionada à submissão perante o homem. “Infelizmente, a nossa sociedade tem origem no patriarcado, o homem como o chefe da família, o homem como o dominador e provedor e essa ideia é muito presente ainda, mesmo com as mulheres trabalhando e às vezes até ganhando mais do que os homens.

Por isso, incumbe ao pai e a mãe educar as crianças desde o berço, ensinando a igualdade entre homens e mulheres”. Segundo a presidente da Comissão Especial da Mulher da OAB/AL, a sociedade exerce um papel fundamental nessa luta em prol do fim da violência contra a mulher. “A sociedade não pode aceitar e se conformar com ideais misóginos e sexistas (discriminação das mulheres em razão de sua condição de mulher), nem os propagar”, disse.

A advogada ressaltou ainda a importância de as mulheres romperem o silêncio da violência doméstica e familiar, procurando os CEAMs (Centro de Atendimento à Mulher em Situação de Violência), as Delegacias de Defesa da Mulher e os Núcleos, que possuem equipes preparadas para recebê-las.

“Ao romper o silêncio, a mulher liberta-se das amarras condicionantes de seu estado emocional, podendo reconstruir novamente seus laços sociais e retomar a vida ao curso natural, encorajando outras mulheres que passam por essa situação”, afirmou.