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Maceioense garante fogueira para São João

Autônomo aproveita época do ano para ganhar extra com comercialização de madeira utilizada para “acender” festejos

Por Luciana Beder com Tribuna Hoje 23/06/2022 06h50
Maceioense garante fogueira para São João
Manoel Almeida (esq.) já garantiu a madeira para a fogueira que fará para a família na noite de São João - Foto: Edilson Omena

Com a retomada dos festejos juninos, os maceioenses têm procurado madeiras para confeccionar as tradicionais fogueiras. É o caso do aposentado Manoel Almeida, de 69 anos, que cresceu com a tradição de acender fogueira no dia de São João e todo ano compra madeira para confeccionar a própria fogueira.

“Desde os meus sete anos, eu lembro de fazer e, hoje em dia, faço para as minhas netas. Com essa pandemia, ficamos sem fazer em 2020 e 2021. Ano passado, eu ainda comprei madeira, mas soube que estava proibido e não fiz a tradicional fogueira”, contou o aposentado.

E com a procura de fogueiras montadas e madeiras nessa época, muitas pessoas aproveitam para ter uma renda extra com a comercialização dessas mercadorias, como o autônomo José da Silva, que vende madeira para fogueira, durante todo o mês de junho, há mais de 20 anos, no bairro do Barro Duro.

“Eu vendo todo ano, só não vendi nos últimos dois anos, por causa da pandemia. Antes da pandemia, vendia muito. Mas, esse ano, mesmo com a liberação das comemorações, o movimento ainda está fraco. Esperamos que melhore daqui para o final do mês, já que ainda tem São João e São Pedro”, disse José da Silva.

No local, os preços variam entre R$ 50 e R$ 80 cada punhado. Antes da pandemia, as madeiras custavam entre R$ 30 e R$ 60. O vendedor contou que além de comercializar, também acende fogueira nas festas juninas. “Tenho a tradição de acender fogueira nos dias de São João e São Pedro. Meus filhos cresceram com esse costume e adoram. Eles aproveitam pra assar milho e soltar fogos. Pra mim, é uma tradição que não pode acabar. Vou acender até morrer”, afirmou.

TRADIÇÃO

A tradição de acender fogueira, no mês que festeja Santo Antônio, São João e São Pedro, foi trazida para o Brasil pelos jesuítas. O historiador Douglas Apratto explicou que a fogueira é um símbolo fundamentado na história do nascimento de São João Batista. “A fogueira rememora uma mensagem que Isabel, prima de Nossa Senhora, enviou para anunciar o nascimento do filho João Batista, para que Maria viesse ajudar a cuidar do menino que tinha acabado de nascer”, disse.

Segundo Apratto, é possível afirmar que a tradição tem uma origem milenar. “A fogueira tem uma origem ainda muito mais remota, antes do nascimento do Cristianismo, porque as tribos antigas usavam a fogueira para reunir os seus integrantes, no momento em que havia a colheita de alimentos. Então, a fogueira sempre teve esse sentido simbólico muito forte de todos ao redor dela, para dançar e conversar, antes do Cristianismo”, explicou o historiador.

“Costume está desaparecendo devido à urbanização”, afirma historiador

O historiador contou que essa tradição de acender fogueira vem desaparecendo com o passar dos anos. “Alguns costumes como as fogueiras, os balões e as ‘guerra de fogos’ vão desaparecendo, em função do perigo que acarretam, hoje, num país por excelência urbano. Não só pelo desmatamento, mas também pelas proibições, ficando circunscritos aos interiores mais remotos”, afirmou.

PRESERVAÇÃO

Segundo a equipe de Gestão Florestal do Instituto do Meio Ambiente (IMA), deve-se dar preferência à compra de madeiras de origem exótica como eucalipto, jaqueira, mangueira, brinco-de-viúva e outras. Não havendo essa possibilidade, pode-se adotar como alternativa o uso de madeiras oriundas de podas, pois, diferente de supressão, não compromete a vida da árvore.

Ainda segundo o IMA, as madeiras nativas não podem ser armazenadas, transportadas nem comercializadas sem declarar a origem da mesma através do Sistema DOF (Documento de Origem Florestal) e sem emissão de nota fiscal. O órgão disponibiliza para a população o aplicativo de denúncia “IMA Denuncie”, que assegura a coibição do desmatamento para venda de madeira ou produção de fogueiras.

SEGURANÇA

Para garantir a segurança de todos, durante as festividades, é importante tomar alguns cuidados, como não acender fogueiras próximo aos fios. A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente (Sedet) informou que as tradicionais fogueiras juninas não podem ultrapassar um metro de altura e não é permitida a queima de madeira oriunda da Mata Atlântica. O órgão reforçou que as fogueiras devem obedecer a uma distância mínima de 30 metros dos arraiais, bem como, ficar distantes da rede elétrica ou de locais onde possa ocorrer fácil combustão.