Cidades

Em 5 anos, Alagoas registra 2,7 mil casos de abuso contra menores

No país, no mesmo período foram 527 mil vítimas; números são “ponta do iceberg” devido à subnotificação

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 08/06/2022 06h53 - Atualizado em 08/06/2022 14h25
Em 5 anos, Alagoas registra 2,7 mil casos de abuso contra menores
46% dos abusos sexuais contra crianças e adolescentes em Alagoas envolvem faixa etária de 10 a 14 anos - Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Os números assustam. São mais de 2,7 mil casos de violência sexual contra crianças e adolescentes entre 2017 e 2021 em Alagoas. Os dados são da Gerência de Doenças e Agravos não Transmissíveis (GEDANT) da Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau). Destes, 46% envolvem a faixa etária de 10 a 14 anos.

Conforme dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos de janeiro a maio já foram registradas 4.486 denúncias de violações de direitos humanos contra crianças e adolescentes ligados a situações de violência sexual em todo o país.

Apesar dos índices alarmantes, o órgão ministerial reforça que a subnotificação pode esconder o agravamento da situação. De acordo com informações do Ministério da Saúde, entre 2011 e 2017, 70% das 527 mil pessoas estupradas no Brasil anualmente, em média, eram crianças e adolescentes. Além disso, 51% das que foram abusadas têm entre um e cinco anos.

Como explica o coordenador do Núcleo de Defesa da Infância e Juventude do Ministério Público Estadual (MP/AL), o promotor Cláudio Malta, as estatísticas não correspondem ao que é vivenciado na realidade.

“Ainda precisamos alertar para o fato de que a subnotificação esconde os dados reais, uma vez que muitas vítimas, exatamente por serem crianças, não conseguem entender a gravidade do que está ocorrendo. É por isso que ações preventivas e combativas têm, necessariamente, que andar de mãos dadas. O silêncio, se não rompido, acaba se tornando cúmplice do crime”, reforça o promotor.

PROTEÇÃO

A psicóloga infantil Solange Guastaferro destaca que a prevenção contra o abuso começa pelo diálogo dos pais e responsáveis com as crianças.

“Primeiro essa questão sobre proteger as crianças e adolescentes desse tipo de abuso envolve sempre explicar desde cedo. Dar nome as partes genitais. Porque numa situação de abuso, a criança falando o nome correto é mais fácil para entender uma situação de abuso. Muitas vezes os pais ensinam a florzinha, o pipi. Esse tipo de coisa que numa situação dessas, se a criança fala que alguém tocou, que mexeu, pode gerar dúvidas sobre o que ela estaria falando. Muitos pais também têm dificuldade às vezes de falar que ninguém pode mexer, que ninguém pode tocar e tudo isso se constitui como prevenção”, ressalta.

A psicóloga salienta que é importante que os pais e responsáveis também estejam atentos aos conteúdos consumidos pelas crianças e adolescentes na internet, seja em redes sociais, seja em jogos.

“Hoje em dia com as redes sociais, computador, celulares. Tem que estar sempre atento. Criança muito pequena não pode ficar sem supervisão porque eles digitam no celular e pode aparecer tudo. Então é muito perigoso essas questões com os eletrônicos, celular, tablet. Então não pode uma criança ficar sem supervisão. É preciso olhar o que essa criança está vendo no tablet, o que que essa criança tá pesquisando. Né? Existem maneiras de proibir, por exemplo, o que eles usam no YouTube. Então precisa tomar muito cuidado e os adolescentes precisam também ser orientados, pegar o celular, monitorar, orientar. É melhor que eles saibam as coisas pelos pais”, enfatiza.

Psicóloga diz que é possível identificar sinais

Solange Guastaferro detalha que é possível identificar os sinais de abuso. Ela explica que toda criança que sofre uma situação assim passa por transformações no comportamento.
“A criança que é abusada, ela sempre vai mudar o comportamento, porque assim uma criança até cinco anos, seis anos ela entende que os adultos eles têm o poder sobre elas.

Então às vezes o adulto toca numa criança, abusa de uma criança, mas ela não sabe que aquilo é um abuso. O que vai acontecer é que ela vai mudar o comportamento dela. Assim vai demonstrar alguma coisa no comportamento. Às vezes a criança pode ficar mais retraída. Ela sabe que aquilo até pode machucar. Então assim, às vezes sofrem ameaças para não falar. Que E se falar, alguma coisa vai acontecer e ela acaba ficando mais triste, não querendo brincar, não querendo estar com os adultos, fica com medo dos adultos. Então já são sinais que alguma coisa está errada”, expõe.

De acordo com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, quase a metade dos casos que chegam ao conhecimento das autoridades envolve denúncias anônimas. Em 2021, 48,4% (9.053) das denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes, por meio do Disque 100, foram anônimas.

“A qualquer momento a central de atendimento da Ouvidoria pode ser acionada, 24 horas por dia, incluindo fins de semana e feriados”, afirma o órgão.