Cidades

Número de acidentes por picada de escorpião cresce em Alagoas

Entre 2020 e 2021 aumento foi de 10%; altas temperaturas colaboram para proliferação dos animais peçonhentos

Por Texto: Ana Paula Omena com assessoria com Tribuna Independente 05/02/2022 09h25
Número de acidentes por picada de escorpião cresce em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria
Cresceu o número de acidentes registrados no estado de Alagoas envolvendo picada de escorpiões. Em 2020 foram 10.066 casos contra 11.121 no ano passado. Um aumento de 10,48%. A maioria das vítimas estão em Maceió com mais de nove mil ocorrências. Este ano até o momento são 356 casos registrados no estado. Altas temperaturas colaboram na proliferação, já que esses animais peçonhentos gostam de climas mais quentes, principalmente, durante o verão. Annie Karoline Queiroz faz parte dessa estatística. Este ano, ela foi picada por um escorpião no banheiro de casa e apesar do susto não houve maiores problemas. “Foi no meu calcanhar. Senti a picada e chutei no impulso, quando vi era um escorpião que parecia ser um filhote. Doeu um pouco e fiquei observando se tinha alguma reação. Como não tive, evitei ir à emergência por conta do surto de gripes e a Covid-19”, contou. A bióloga Denise Candido explicou que uma das causas que aproxima os escorpiões das cidades é o fato de as áreas urbanas abrigarem muitas baratas, que são o alimento preferido desses aracnídeos. Por isso a importância de manter quintais, jardins e demais terrenos limpos e, se possível, sem entulhos. “Recomenda-se o fechamento correto dos sacos de lixo, instalação de telas tanto nos ralos de casa como nas janelas e inclusão de sacos de areia nas frestas das portas”, observou. De hábitos noturnos, os escorpiões ficam escondidos durante o dia, e de noite saem para se alimentar. Conforme a bióloga, é comum surgirem pela rede de esgoto e, por esse motivo, é bom evitar condições de umidade, como toalha pendurada ou roupa molhada no chão e também tapetes, que servem de abrigo. “É importante também chacoalhar roupas e sapatos e, antes de colocar a mão em lugares escuros, olhar bem”, orientou. Ainda de acordo com a bióloga, o aumento da incidência de escorpiões nas cidades se dá por vários fatores. Um deles fica por conta do aquecimento global: altas temperaturas colaboram na proliferação, já que esses animais gostam de climas mais quentes. Tanto é que a distribuição das 30 espécies mais perigosas do mundo está concentrada nas regiões tropicais e subtropicais. “O desmatamento ajuda, porque vai entrando na área dos animais, invadindo a área deles e tirando a comida. Basicamente, o crescimento desordenado nas áreas urbanas é justificado pelo aquecimento e o desmatamento”, avaliou. Ela ressaltou também que duas das espécies mais perigosas no Brasil – serrulatus e stigmurus – reproduzem-se assexuadamente por partenogênese, em que os óvulos se desenvolvem diretamente em embriões, sem serem fecundados. Isso contribui no aumento significativo da população de escorpiões. “Em transporte de madeira ou frutas, por exemplo, caixas que vêm de outras regiões, você pode trazer um exemplar de um filhote do escorpião amarelo e ele vai levar cerca de 10 meses para ficar adulto. Quando ele crescer não vai precisar ter outro; ele sozinho vai ter uma cria de 20 a 25 filhotes”, explica a bióloga. Hospital Hélvio Auto atendeu mais de 460 casos nos últimos dois anos O Hospital Hélvio Auto, em Maceió, atendeu 461 casos de picada de escorpião nos últimos dois anos. Foram 246 em 2020 e 215 em 2021. A unidade de saúde é referência no atendimento de casos envolvendo este tipo de acidente no estado. Os acidentes por escorpiões podem ser divididos em três tipos – leves, moderados ou graves – e são mais frequentes na primavera e no verão, épocas em que a população do aracnídeo aumenta devido ao período de reprodução. A bióloga Denise Candido salientou que o veneno, por ser neurotóxico, é capaz de mexer com todo o sistema nervoso e pode causar muita dor no local da picada, podendo se estender para o membro inteiro. Nesse caso, o médico faz infiltração de anestésico para que a dor fique localizada e diminua rapidamente. “Evoluindo para o caso moderado, a dor ficará mais intensa e o acidente pode causar suor excessivo, náuseas e vômitos, e a partir daí o moderado se torna grave. O agravamento leva à salivação, insuficiência cardíaca, edema pulmonar e até mesmo ao óbito. Para esses dois casos, utiliza-se a soroterapia”, observou. “O médico avalia quantas ampolas serão necessárias de acordo com a evolução do caso, e o paciente pode ficar internado e em observação. Levar o animal para o atendimento médico pode ajudar a fazer o tratamento adequado mais rapidamente”, colocou Denise Candido. Após o acidente, ela recomendou não ingerir nada, muito menos bebida alcoólica, porque nada disso vai amenizar a dor e nem agir contra o veneno. “Também não é correto colocar gelo ou água fria no local da picada: isso faz com que a dor fique muito maior. A única coisa que age contra o veneno é o soro antiaracnídico e antiescorpiônico”. O que deve ser feito: em primeiro lugar, lavar o local da picada com água e sabão. Para aliviar a dor, pode ser feita compressa de água morna ou quente. Depois, é preciso procurar o serviço de saúde mais próximo para fazer o atendimento apropriado e encaminhar o paciente aos locais indicados, disponíveis nos sites do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do Ministério da Saúde. É importante saber que qualquer unidade de saúde vai encaminhar para um local que tenha soro. CUIDADO É importante tomar muito cuidado ao encontrar um escorpião. Não pode colocar a mão e nem pisar. A bióloga Denise Candido explicou que há casos em que as pessoas pisam na parte da frente do escorpião, se esquecendo que eles picam com a cauda. Se for possível, é recomendado coletar o escorpião vivo para que ele possa ser identificado. Mas se a pessoa estiver em local isolado e sem condições de coletar o animal, pode sim matá-lo, e em seguida colocá-lo em um vidro com álcool. Depois, ela deve entrar em contato com o Controle de Zoonoses da cidade para a identificação e registro da espécie. Assim, é possível monitorar e verificar se na região aparecem mais casos.