Cidades

Moradores dos Flexais vivem isolamento social sem comércio nem serviços públicos

Defensor público Ricardo Melro ouviu os moradores na manhã desta quarta-feira (15) e afirmou que se Braskem não negociar, irá provocar a Justiça

Por Thayanne Magalhães 15/12/2021 10h53
Moradores dos Flexais vivem isolamento social sem comércio nem serviços públicos
Reprodução - Foto: Assessoria
Cerca de 2 mil moradores dos bairros Flexal de Cima e Flexal de Baixo, além dos adjacentes do Bebedouro, em Maceió, vivem a incerteza de onde irão morar diante do eminente risco de um desastre ecológico na região onde vivem. Apesar de não estarem incluídos no mapa das áreas de risco da Braskem, os moradores afirmam que suas casas apresentam rachaduras e afundamento do piso, além de alagamentos nas áreas próximas da Lagoa Mundaú. Diante dos protestos, o defensor público Ricardo Melro esteve no Flexal de Baixo na manhã desta quarta-feira (15) para ouvir as reivindicações dos moradores, que levantavam faixas e cruzes, afirmando que não esperam outra providência, senão a realocação das famílias. "Tem dois anos que minha casa apresenta rachaduras e a Braskem afirma que não vivemos em área de risco. Estamos cercados pela Lagoa Mundaú, uma área de preservação ambiental e a zona de guerra que se tornou o bebedouro. Minhas filha de 13 anos está sem estudar há dois anos porque não tem mais escola no bairro. Não temos comércio e precisamos atravessar os bairros desocupados, cheios de escombros, para chegar a algum mercadinho ou padaria", afirma Joseane Amancio, moradora do Flexal de Baixo. [caption id="attachment_486587" align="aligncenter" width="800"] Joseane Amancio fala que filha de 13 anos está há 2 anos sem estudar porque não tem mais escola no Flexal de Baixo (Foto: Sandro Lima)[/caption] Ela conta que solicitou uma visita da Defesa Civil de Maceió assim que percebeu as rachaduras em sua casa, mas até hoje nada foi resolvido. "Somos mais de 600 famílias vivendo isoladas do resto da cidade. Maceió está funcionando. As crianças estão estudando, menos as nossas. Elas não existem? Onde está o Estatuto das Criança e do Adolescente para as crianças abandonadas dos Flexais? Além disso, não temos onde comprar um pão e os motoristas por aplicativo não nos atendem mais. Estamos completamente isolados", questiona. Joseane Amancio lamenta a situação do Bebedouro, um bairro que mantinha milhares de famílias. "O comércio do Bebedouro era era vivo. Era um bairro muito bom de se morar e agora não existe mais. Aqui nos Flexais as casas não tem mais valor. Não posso vender e nem alugar para me mudar. Estamos entregues à própria sorte", concluiu. O coordenador do Movimento Acorda Maceió, Kayo Fragoso, afirmou que os moradores dos Flexais estão em um mês decisivo. "Acionados todos os órgãos envolvidos na Força Tarefa que acompanha o caso dos bairros que sofrem com o afundamento do solo causado pela mineração da Braskem, e esse mês devemos ter um parecer. Não queremos revitalização porque não existe mais vida nessa região. A quantidade de moradores que ficou abandonada por aqui não sustenta um comércio. São muitos idosos sem acessibilidade. Queremos a realocação", reforça. [caption id="attachment_486588" align="aligncenter" width="800"] Coordenador do Movimento Acorda Maceió, Kayo Fragoso (Foto: Sandro Lima)[/caption] Depois de ouvir o apelo do grupo de moradores e o relato de representantes da Defesa Civil de Maceió, que também estavam presentes, o defensor público Ricardo Melro informou que irá propor uma audiência pública para que toda a sociedade seja mobilizada com relação à situação dos Flexais. "Da mesma forma que atuamos para conseguir os direitos dos moradores do Bom Parto, vamos atuar para resolver a situação dos Flexais. Vamos trazer a Braskem para a mesa de negociações e, se houver resistência, vamos para o caminho da Justiça, como já fizemos em outros bairros", garantiu Melro.