Cidades

Após uma semana do tremor, IMA embarga atividades da Braskem

Medida ocorre depois de fiscalização; ainda não há informações sobre o que houve de fato no subsolo de bairros que afundam

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 12/11/2021 07h53
Após uma semana do tremor, IMA embarga atividades da Braskem
Reprodução - Foto: Assessoria
Uma semana após o tremor de terra de 1,4 de magnitude no Mutange, em Maceió, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) embargou as atividades da Braskem no bairro e também no Pinheiro e Bom Parto. A medida ocorreu depois de uma fiscalização na região que vem passando por intervenções da petroquímica como medida de mitigação ao problema de afundamento de solo. Segundo o instituto, todas as atividades nos bairros foram paralisadas pelos próximos dez dias ou até que a empresa apresente laudos atestando que os trabalhos não provocaram o abalo sísmico. “Os fiscais do IMA paralisaram as atividades na área do canteiro operacional de britagem, além da área de enchimento do solo. Também foi encontrado um britador no local, máquina que causa vibração no solo. A mineradora foi notificada para a remoção imediata da ferramenta. A Braskem tem 10 dias, após o recebimento do termo de embargo, para apresentar ao IMA estudos que indiquem as causas para o abalo sísmico. As atividades de tamponamento seguirão paralisadas enquanto não se comprovar a não relação com o evento”, disse o órgão. Em nota, a Braskem informou que as atividades paralisadas pelo IMA no Pinheiro ainda não haviam iniciado e que ainda realiza os estudos “para aprofundar o entendimento” da ocorrência. “A Braskem informa que já havia paralisado as atividades na área de enchimento de mina próxima ao Hospital José Lopes, no bairro do Mutange, na última sexta-feira, 5. A medida foi adotada de forma preventiva, imediatamente após o registro do microssismo. A empresa segue realizando análises que têm por objetivo aprofundar o entendimento sobre o evento e a previsão é que os trabalhos de campo sejam concluídos até o final da semana. Com relação à paralisação preventiva das atividades previstas para acontecer no canteiro operacional montado no bairro do Pinheiro, em área distinta ao local onde ocorreu o microssismo, a Braskem esclarece que tais atividades ainda não foram iniciadas. O canteiro foi montado para que uma empresa contratada faça a britagem de materiais de demolições futuras de imóveis desocupados, conforme previsto em acordos com as autoridades, mas as obras ainda estão em fase de testes e licenciamentos. A Braskem continuará prestando os esclarecimentos necessários às autoridades competentes”, explicou em nota. MICROSSISMO O abalo sísmico foi registrado nos arredores da casa José Lopes onde a Braskem executa operação de preenchimento das cavidades, especificamente da Mina 7, apontada pelo pesquisador Abel Galindo como a mais perigosa, medindo algo em torno de 150 metros de diâmetro. Moradores de áreas próximas que sentiram a movimentação, acionaram a Defesa Civil de Maceió assustados com o ocorrido. Segundo relatos, o tremor foi sentido em bairros próximos como Pinheiro e Bebedouro. A Defesa Civil atribuiu o evento à atividade de perfuração promovida pela Braskem para preenchimento das minas com areia. E exigiu a paralisação das atividades até que os estudos sejam finalizados e determinem o que ocorreu no subsolo. “O sismo da última sexta-feira foi ocasionado pela sonda de perfuração, em uma profundidade relativamente rasa (mais ou menos 200 metros), para realização de um poço que será responsável pelo enchimento de uma das cavidades, ou seja, não está associado, a princípio, a qualquer possível processo de sinkhole. Reitera-se também que as áreas onde existem a possibilidade de ocorrer o sinkhole, a exemplo do bairro do Mutange, já foram evacuadas. A atividade de preenchimento foi suspensa neste momento de forma preventiva, para que tenha 100% de certeza com relação aos motivos do microssismo de sexta-feira [5], que está sendo feito por outros métodos científicos, como o uso de sonares. Após a conclusão dessas ações complementares, é que se deve retornar com a atividade. O risco que há na região é o causado pelo processo de subsidência, mas a atividade de preenchimento é necessária no intuito de tentar evitar um sinkhole”, explica. Órgão ambiental diz que adoção da medida visa precaução e prevenção   De acordo com o IMA, a medida foi adotada como forma de “precaução e prevenção”. “O Instituto tomou as providências com base no princípio de precaução e prevenção, em virtude da instabilidade do solo nos bairros já demasiadamente afetados, e segue acompanhando a evolução dos danos ambientais na área”. Mas segundo o ambientalista Alder Flores, toda atividade como as que vêm sendo executadas pela Braskem precisam previamente de Relatórios de Análises de Risco, ou seja, o potencial risco de um tremor, por exemplo, já deveria ser mensurado ao ser liberada uma licença para execução. “Seria possível prever o risco. Eu não tenho conhecimento de quais estudos foram apresentados para que eles tivessem autorização para executar esse tipo de obra, mas como é uma área já diretamente afetada é preciso ter bastante cautela nos trabalhos que são feitos para remediação e saber qual é a área diretamente afetada com a execução dos trabalhos. Há estudos que predizem a probabilidade de ocorrer um evento. Eu não sei se esse estudo foi apresentado ou discutido tecnicamente. Eu imagino que para receber uma licença a empresa apresentou os estudos necessários para realizar qualquer atividade, mas eu não sei se houve essa avaliação”, comenta. Neste caso, o ambientalista aponta que existe um risco real na região que exige maior atenção e cuidado na execução de qualquer atividade. Para ele, é preciso se avaliar com bastante clareza a matriz de impactos. Ainda segundo Alder o órgão agiu com precaução. “Agora com a ocorrência desse tremor de terra, para que seja feita uma reavaliação da licença que foi concedida, o órgão agiu preventivamente, para evitar talvez a ocorrência de um evento maior. Entretanto, para que se interdite uma atividade você tem que ter pelo menos a certeza ou indicativo da ocorrência de um dano ambiental, ou de uma ação que traga consequências ao meio ambiente ou as pessoas principalmente as pessoas que já vem sendo prejudicadas com todo esse problema na região. Pelo menos até onde se sabe a explicação dada pelo IMA é de que foi interdita por que há risco. Mas, no meu entendimento, qualquer atividade naquela região é preciso que se avalie todos os riscos, um estudo que diga: em cem anos pode ocorrer um evento, por exemplo. Se o estudo foi apresentado, a ação do órgão foi perfeita. Caso não tenha apresentado, o órgão agiu pelo princípio da precaução”, opina.