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“Tremor tinha alta probabilidade de acontecer”, afirma Abel Galindo

Abalo sísmico de 1,41 na escala Richter a uma profundidade de aproximadamente 200 metros foi registrado no Mutange

Por Texto: Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 06/11/2021 10h28
“Tremor tinha alta probabilidade de acontecer”, afirma Abel Galindo
Reprodução - Foto: Assessoria

O abalo sísmico de 1,41 na escala Richter registrado no bairro do Mutange, em Maceió, na manhã de sexta-feira (5), “tinha alta probabilidade de acontecer” segundo o engenheiro e pesquisador Abel Galindo. O evento ocorreu numa profundidade de 200 metros nos arredores da Casa José Lopes, local apontado por Galindo desde o ano passado como o mais crítico do afundamento de solo que atinge cinco bairros da capital.

Segundo informações da Defesa Civil de Maceió, o abalo sísmico foi registrado por volta das 11 horas da manhã e durou cerca de 12 segundos. O órgão recebeu chamados de moradores assustados com o ocorrido. Segundo relatos, o tremor foi sentido em bairros próximos como Pinheiro e Bebedouro.

“A Defesa Civil identificou um abalo sísmico que durou 12 segundos e de Magnitude Local (Equivalente a Richter) de 1,41 a uma profundidade de aproximadamente 200 m às 11h23, desta sexta-feira (5), no bairro do Mutange. O abalo ocorreu num local, próximo ao prédio histórico do Hospital José Lopes, onde a Braskem está fechando um de seus poços. O mais importante é que não há nenhum reporte de pessoas feridas. Estamos em contato com a Braskem para reforçar o monitoramento do local. Equipes de brigadistas da Defesa Civil realizam rondas na região próxima ao local do tremor. A Defesa Civil manterá a população informada sobre a ocorrência”, afirmou em nota.

Segundo Abel Galindo há uma alta probabilidade de ter havido um rompimento de pilares, isto é, o desabamento das colunas entre uma mina e outra.

“Esse tremor tinha alta probabilidade de acontecer. Há um segundo relatório alemão do final do ano passado que previa novos abalos sísmicos. Tratam-se de rompimentos de pilares. São as distâncias entre as minas. Ou a coluna que se tem entre duas minas”, explica.

Em nota, a Braskem afirmou que o sismo ocorreu na região da mina 7, que fica localizada entre a Lagoa Mundaú e a Casa José Lopes. Ainda segundo a petroquímica, embora esteja avaliando o que ocorreu, cabe a Defesa Civil identificar as causas.

“A Braskem informa que o microssismo detectado hoje [na sexta-feira] pelos equipamentos de monitoramento ocorreu na região onde estão sendo realizados trabalhos para o fechamento do poço 7, conforme prevê o Plano de Estabilização. A empresa está verificando o que pode ter causado o evento e em diálogo com a Defesa Civil, órgão que tem competência técnica para avaliar esse tipo de ocorrência”, pontua a empresa.

Tremor foi sentido por moradores de bairros próximos ao evento

Moradores relataram o medo e a tensão após o tremor. Segundo informações, o tremor foi sentido em Bebedouro e no Pinheiro. Vídeos divulgados pelas redes sociais mostram trabalhadores da operação da Braskem ao redor da mina deixando o local e a sirene de alerta soando.

Maurício Neves trabalha nas proximidades do Colégio Bom Conselho em Bebedouro e conta que sentiu o leve abalo. A preocupação, segundo ele, era o que poderia ter provocado o evento.

“Rapaz, estava no Bom Conselho e não foi muito forte. Algumas pessoas sentiram e reclamaram, ficaram com medo. Como nós já sabemos e somos instruídos sobre o fenômeno, já sabíamos que era tremor. O que todos comentam é que os tremores vêm do colapso das minas”, pontua.

MINA 7

Segundo dados dos estudos realizados pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e Instituto de Geomecânica de Leipzig que conduziram as primeiras análises sobre o fenômeno de subsidência, a Mina 7 tem uma circunferência estimada em 150 metros.

Em março do ano passado, em entrevista à Tribuna Independente, o pesquisador Abel Galindo já havia adiantado a preocupação com a Mina 7 após relatório de interferometria do CPRM apontar o alto risco de ruptura.

“De um modo geral, o relatório mostra que o mais preocupante é a mina 7, onde é mais provável de se ter um colapso. Essa é a mina mais perigosa de todas. A área toda tem deformação em torno de 24 cm por ano. Já na região da mina 7, são 28 cm. A cada ano vai aumentando mais e mais o afundamento, o risco vai se agravando. Nos meus cálculos, a mina 7 subiu 200 metros. Como a deformação ainda está acontecendo é porque os tetos estão desabando. É muito importante que seja verificado se o teto da mina 7 continua subindo. No relatório dos alemães, a mina 7 e 17 não pararam de subir. Nos meus cálculos se a mina 7 subir 150 m chegando a uma altura de 600 m ela desaba e entra em colapso. A mina 7 tem o diâmetro maior de todos, de 150 metros, isso medido agora recente [2020], enquanto que as outras têm diâmetro de cerca de 100 m. Por isso, quanto maior o diâmetro, maior a possibilidade de ruptura”,disse Abel Galindo à época.

Em nota, o CPRM afirmou que está acompanhando o caso junto à Defesa Civil.

“O Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) informa que, sobre o sismo registrado nesta sexta-feira (5) na região afetada pela subsidência de solo em Maceió-AL, os pesquisadores em geociências responsáveis pelo acompanhamento do caso tomaram ciência do evento por meio de contato com a Defesa Civil da capital, que foi treinada pelo SGB-CPRM e está tecnicamente habilitada para o monitoramento da região. O SGB-CPRM segue acompanhando o caso e reitera o apoio técnico ao órgão municipal, reforçando, ainda, a competência da gestão local para o devido acompanhamento, incluindo o esclarecimento de informações sobre eventualidades na região”, resume.