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Especialistas avaliam possibilidade do alargamento da orla de Maceió

Prefeito JHC esteve em Santa Catarina em setembro para conhecer projeto que divide opiniões de pesquisadores da área

Por Tribuna Independente com Evellyn Pimentel 30/10/2021 11h20
Especialistas avaliam possibilidade do alargamento da orla de Maceió
Reprodução - Foto: Assessoria
A possibilidade de alargamento da orla de Maceió – divulgada pelo prefeito da capital JHC em setembro -, divide opiniões de especialistas. A ideia segue a linha do projeto executado em Balneário Camboriú (SC) e na prática consiste em aumentar o tamanho da faixa de areia em relação ao mar. Apesar de ainda estar em fase preliminar – sequer foram feitos estudos –, a ideia gera discussões sobre o impacto ambiental, tendo em vista que em Santa Catarina, pouco tempo após a obra, o aparecimento de 23 tubarões tem chamado a atenção. De acordo com especialistas ouvidos pela Tribuna Independente quaisquer tipos de intervenções em áreas marinhas provocam severos impactos ambientais que precisam ser avaliados e planejados. Uma das justificativas para a execução do alargamento é a erosão marinha que vem se tornando cada vez mais evidente e severa, exemplo disso são trechos na Praia de Ponta Verde, Jatiúca e Pontal da Barra. O biólogo e pesquisador da Universidade Federal de alagoas (Ufal) Cláudio Sampaio explica que as áreas costeiras têm fundamental importância ambiental, turística e econômica. “Qualquer intervenção em áreas marinhas costeiras podem causar impactos à fauna e flora local. Essa região possui grande número de espécies de valor comercial e ecológico, contribuindo para a economia através da pesca, turismo e serviços ecológicos prestados, como o controle do crescimento das algas, das populações de outros animais. Essas áreas costeiras são, também, utilizadas para reprodução e alimentação de espécies ameaçadas de extinção. Intervenções nessas regiões devem ser avaliadas com rigor científico, evitando prejuízos maiores no futuro”, avalia. O ecologista Geraldo Marques afirma que as mudanças costeiras na capital alagoana vem ocorrendo ao longo do processo de desenvolvimento da cidade. “A linha de costa de Alagoas vem sendo perturbada há muito tempo. Para se ter ideia o mar quebrava atrás da Associação Comercial, nos fundos. Aquilo não foi aterro, foi assoreamento a partir da construção do cais do porto. Se passar em frente à Salgema, você vai ver na área dos pilotis que de um lado há uma larga faixa de areia e do outro há uma faixa estreita, aquilo ali foi assoreamento de um lado e erosão de outro”, diz. Para Cláudio Sampaio uma intervenção deste porte seria prejudicial aos ecossistemas e toda a estrutura marinha da região. “Primeiro é necessário informar quais trechos do litoral de Maceió estão cogitando alargar suas praias e como será feito. Devido à proximidade de muitos recifes de coral, esse alargamento pode ser extremamente negativo para toda fauna e flora recifal, que gera emprego e renda para milhares de maceioenses. Essa erosão é algo dinâmico que necessita ser monitorado para ser melhor compreendida, buscando alternativas menos agressivas. Constantes alterações nas praias, como construções, aterros, dragagens, degradação dos recifes costeiros e mudanças climáticas globais podem estar contribuindo para a erosão costeira. A decisão dessa obra deve seguir critérios técnicos, fundamentados em informações científicas e envolvendo a sociedade alagoana, pois os valores são elevados e os prejuízos ambientais incalculáveis”, aponta. Já na avaliação de Geraldo Marques, apesar dos severos impactos, outros aspectos precisam ser avaliados como o aumento da temperatura do planeta que deve afetar consideravelmente o nível dos mares nas próximas décadas. “Eu seria favorável. Temos visto erosão avançando, onde há a placa ‘Eu amo Maceió’ tudo aquilo é avanço do mar, o que nós estamos vendo é uma preocupação a nível global. De forma prática nós temos que pesar qual o melhor lado, sugerir medidas de mitigação e trabalhar com princípio de precaução. O fato científico, com alta probabilidade de acontecer é o avanço do mar com o aumento do efeito estufa. Em 2030, mesmo que se tomem todas as precauções, o avanço vai acontecer. Pesando todas as proporções, a proteção ecossistêmica e a possibilidade de avanço do mar. Então hoje eu seria favorável como uma medida de mitigação. Era algo que o Brasil poderia tomar partido, o avanço da faixa de areia para minimizar a possível invasão do mar em determinadas áreas da costa. Essa seria minha posição atual”, afirma o ecologista. “Corais seriam os mais prejudicados” Em SC, na orla de Balneário Camboriú, o alargamento da praia está relacionado com a exposição e morte de pequenos animais que vivem no fundo arenoso, após as mudanças provocadas pelo alargamento da faixa de areia. Segundo Cláudio Sampaio, essa movimentação está atraindo tubarões, gerando apreensão dos esportistas aquáticos e banhistas. No caso específico da costa de Alagoas, uma possível alteração implicaria de imediato no desequilíbrio dos corais, ecossistema fundamental. Neste ponto, os especialistas são unânimes. “A longo prazo essa degradação levará a morte dos recifes, incluindo as famosas piscinas naturais, que deixarão de produzir pescados, como peixes, lagostas e polvos. As piscinas naturais deverão sofrer com o aumento da turbidez, perdendo o interesse turístico. Contudo devido a importância socioeconômica dos recifes costeiros, outros grandes impactos negativos podem ser esperados com a segurança alimentar e geração de renda. É preciso, também, valorizar esses recifes, pois eles protegem o litoral das ondas e da erosão costeira. Ações mais simples como o ordenamento das construções, tratamento do esgoto que é lançado in natura nas praias são alternativas mais baratas, fáceis e que podem contribuir com a redução dos problemas na região costeira”, defende o biólogo Cláudio Sampaio. Conforme afirma o ecologista Geraldo Marques, impactos nos corais levam no mínimo um século para serem recuperados. “Quando você faz isso você causa uma reviravolta lá embaixo. Pajuçara é uma enseada, Ponta Verde é cheio de arrecife, mexer em arrecife é algo muito arriscado, porque é certo que o arrecife vai sofrer um impacto muito grande e pode levar até mais de 100 anos para recuperar”, acrescenta o ecologista. Procurada, a Prefeitura de Maceió não deixou claro se há estudos em curso ou se o projeto deve ser desenvolvido, apesar das declarações em redes sociais e da visita do prefeito JHC em setembro à Santa Catarina. O executivo municipal informou em nota que há um estudo em curso para projeto na orla do Pontal. “A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente informa que está desenvolvendo estudos e projetos para o início das obras do Parque das Dunas, no Pontal da Barra. A Secretaria reforça que a intervenção na região pretende solucionar a carência de áreas públicas de lazer e os efeitos causados pela erosão marinha em parte do acesso da Avenida Assis Chateaubriand. Já a Secretaria Municipal de Infraestrutura informa que o projeto deve passar pelos trâmites licitatórios para, posteriormente, dar início às obras”, disse.