Cidades

Avanço do mar ameaça orla de Maceió

Pesquisa indica que Alagoas tem tendência a agravamento da erosão por déficit de sedimentos; contenções são insuficientes

Por Ana Paula Omena com Tribuna Independente 17/07/2021 11h56
Avanço do mar ameaça orla de Maceió
Reprodução - Foto: Assessoria
Que o mar avança e destrói o que vem pela frente no litoral alagoano, isso não é mais novidade. Barreiras de contenção parecem não ser suficientes para inibir a força da água, principalmente na maré alta. No último dia 6 de julho, uma barraca de praia que apresentava risco de desabamento por conta do avanço do mar foi interditada após uma vistoria de órgãos municipais, na orla da Jatiúca, em Maceió. Para o ambientalista, Alder Flores, se nada for feito como um todo, as águas do mar vão derrubar as barracas da orla de Pajuçara, Ponta Verde, Jatiúca e Cruz das Almas (onde já aconteceu ao longo do tempo), e até atingir os luxuosos e caríssimos prédios da orla. “As obras de engenharia podem até conter o avanço do mar. Agora a natureza quando agredida não defende, se vinga”, frisou. De acordo Flores, nas áreas urbanizadas, as consequências da erosão marinha são mais perceptíveis e graves, pois há destruição de patrimônios públicos e privados e agravamento da erosão, devido ao desaparecimento das praias, que tem função de absorver as energias das ondas, fato que não ocorre quando a energia é refletida pelas estruturas rígidas das ocupações. Ainda conforme o especialista, a incidência dos processos erosivos na zona costeira alagoana é decorrente, principalmente dos sinergismos de dois fenômenos: “déficit de sedimentos, que se configura na falta de sedimentos para formação de praias e pela elevação dos níveis dos oceanos causados pelo aquecimento global, segundo estudos do Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas – IPCC”. “Um dos maiores problemas da erosão em áreas urbanizadas é o desaparecimento da parte recreativa da praia para a população. Além, do lançamento de entulhos e aterros nos oceanos decorrentes dos colapsos das estruturas afetadas”, salientou Flores. Ele destacou ainda que se devem buscar intervenções de engenharia que sejam eficazes na estabilização do trecho de orla afetado. “Entende-se como inexequível a retirada desta população ali instalada, pois, os processos erosivos tendem a ser contínuos em escala temporal e afetará em curto espaço de tempo as ocupações subsequentes”, mencionou. Especulação imobiliária e destruição de vegetação aumentam erosão   De acordo com o professor, pesquisador e doutor em Ciências Aquáticas, Emerson Soares, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o avanço do mar se deve a especulação imobiliária, destruição das vegetações marginais dos rios, que levam aporte de sedimentos para a região e diminuem o problema de erosão. “Temos processos de erosão em todo o litoral nordestino e costa brasileira, principalmente nos locais onde existe maior número de desmatamento das áreas marginais dos rios, avanço da especulação imobiliário nas áreas de manguezal e construções em direção à beira vão causar danos na região costeira quando se tiram, por exemplo, quando se retira aquelas restingas, vegetação que segura a areia”, disse. “E claro, se deve também ao aquecimento global temos em algumas épocas do ano marés mudando de direção com alguns tipos de ventos, principalmente no verão, inverno e primavera como vai vir, nós temos maior problemas com erosão, mas tudo em parte é culpa do homem”, detalhou o pesquisador. Ele lembrou algumas regiões do litoral norte de Alagoas, principalmente próximo a Maceió e Ipioca, o mar avançou dentro de cinco anos cerca de 10 metros em direção ao continente e isso decorre do desmatamento, especulação imobiliária e aquecimento global. ABIH A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Alagoas (ABIH-AL) vê com preocupação a questão do avanço do mar na orla da capital. “Embora não haja perspectiva de atingir os hotéis localizados em frente à praia, o problema existe e há pontos realmente críticos que merecem a atenção do trade turístico e do poder público, principalmente no trecho entre Jatiúca e Ponta Verde e na Praia do Sobral”, salientou. A entidade colocou que o tema, que afeta diretamente o turismo da capital, tem sido pauta de reuniões entre a entidade, a Prefeitura de Maceió e especialistas da área, desde a gestão passada. Para realizar a contenção necessária, de acordo com a ABIH/AL, será fundamental o envolvimento conjunto dos governos municipal e estadual, além dos representantes federais de Alagoas, para a obtenção de recursos direcionados à resolução do problema. CONFIRA ESTA REPORTAGEM ESPECIAL COMPLETA NA EDIÇÃO DESTE FINAL DE SEMANA DO JORNAL TRIBUNA INDEPENDENTE