Cidades

Sem gás, famílias cozinham em fogão à lenha

Em Maceió, o botijão pode chegar a custar até R$ 100 a depender do local; na periferia prioridade é comida e remédios

Por Texto: Ana Paula Omena com Tribuna Independente 10/07/2021 10h19
Sem gás, famílias cozinham em fogão à lenha
Reprodução - Foto: Assessoria
Muitas famílias brasileiras, principalmente aquelas que residem nas periferias das cidades, tiveram que recorrer ao fogão à lenha para cozinhar por conta da alta dos preços do gás de cozinha. Em Maceió, o botijão pode chegar a custar até R$ 100 a depender do local. Sem condições de pagar um valor tão alto pelo gás, famílias dizem que preferem priorizar a compra de remédios e alimentos, é o caso da maioria dos moradores da Grota da Alegria, no Benedito Bentes 2, as mulheres encostaram o fogão e têm improvisado no fundo do quintal a lenha para cozinhar os alimentos essenciais à sobrevivência da família. Dona Maria José Mota, é uma delas, que há muito tempo intercala entre o gás de cozinha e a lenha para alimentar a si e sua família. Aposentada, ela conta que não tem condições de arcar com toda a despesa da casa em que mora com o filho e uma neta. [caption id="attachment_461568" align="aligncenter" width="640"] Com a lenha ainda consigo passar três meses com um botijão, por isso cozinho o mais pesado no fogo, feijão, arroz, carne. Faço o fogo com pedaços de pau que encontro na rua”, diz Maria José Mota Aposentada (Foto: Edilson Omena)[/caption] “Com a lenha ainda consigo passar três meses com um botijão, por isso cozinho o mais pesado no fogo, feijão, arroz, carne. Faço o fogo com pedaços de pau e madeira que encontro na rua. Sou hipertensa e preciso tomar vários remédios, além de ter os empréstimos que fiz, então com o que recebo é pouco para comer e pagar o restante das contas”, explicou. Edson Barros, que vive com a esposa, e ambos estão desempregados, não aguentava mais pagar valores altíssimos do gás de cozinha e como medida para conter os gastos decidiu cozinhar, assim como Maria Mota, no fogão feito a base de lenha. Pesado “Os alimentos mais pesados que demoram bastante para cozinhar faço no fogão com gás, mas o restante é tudo no fogo a lenha, porque aqui em casa o gás não chega a um mês, recebo muita visita de irmãos e filhos, então fica pesado para mim que vivo de bico, vendendo galinha, uma coisa e outra. Comprei o gás em maio já a R$ 85, imagine agora quanto não vai ser...”, explicou Edson. DESEMPREGO Renilson Correia, líder comunitário do bairro, enfatizou que a maioria dos moradores são feirantes e ambulantes, que estão desempregados e recebendo apenas o auxílio emergencial, então sem ter dinheiro para comprar um botijão, a alternativa da maioria foi optar por cozinhar a base de lenha. “Tem pessoas que têm filhos pequenos, então compram fraldas, leite e comida. Muita gente depende do programa Bolsa Escola para sobreviver também”, frisou. Para Renilson, reduzir o preço do gás e a vacinação para todos seriam o mais importante neste momento, tendo em vista que as pessoas iriam poder trabalhar como antes, o que há mais de 1 ano estão impossibilitadas por conta da doença. Os feirantes e ambulantes estão parados e não conseguem trabalhar como trabalhavam. Todo dia os preços dos alimentos sobem e o dinheiro do auxílio emergencial não dá para nada. Então, deveria vacinar todo mundo no lugar dos 150 reais, para que assim as pessoas mais carentes pudessem voltar a trabalhar”, mencionou. Tendência é que população empobreça muito mais Para o sociólogo, Carlos Martins, a tendência é de que a população empobreça muito mais, inclusive a classe média em decorrência do desemprego que assola o cotidiano dos brasileiros. “As classes mais vulneráveis sentirão ainda mais os impactos das decisões ou a ausência delas do atual governo Bolsonaro que tem produzido o empobrecimento”. “Quem dá o norte do governo Bolsonaro é o ministro da Economia, Paulo Guedes, formado pela Escola de Chicago, extremamente neoliberal, portanto a linha de raciocínio deste governo é de que o Estado deva intervir o menos possível no mercado”, destacou. Carlos mencionou que este governo está privatizando setores importantes como água, energia, transporte com as ferrovias e rodovias, sistema aéreo, setores estes, estratégicos para garantir a soberania de uma nação. “E enquanto as privatizações acontecem, este mesmo governo, cria pautas bombas, com distrações para fazer com que a opinião pública corra atrás dessas distrações e esqueça essas questões que são importantes”, observou. De acordo com o economista, Lucas Barros, essa economia do gás usando fogo à lenha pela população mais pobre é similar à proposta do ministro Paulo Guedes, de que a classe menos favorecida deverá comer as sobras da classe média. “Um absurdo em termos de nação, pois somos um dos países mais ricos do mundo (12º maior PIB) e em contrapartida um dos países mais desiguais, um ministro da economia que se preze estaria preocupado em acabar com essas desigualdades de desenvolver sua nação, e não oferecer lenha para cozinhar e resto de comida aos trabalhadores pobres, é um retrocesso imenso na história do nosso país”, criticou Lucas Barros. Para ele não se trata de economia, mas sim necessidade. “Quantas casas tem fogão à lenda? Cozinham no improviso, pois não tem o dinheiro para o gás, somos produtores de gás encanado, se pergunte por que não tem gás natural, que pode ser encanado, nas residências”, questionou. “Para as famílias com baixo poder aquisitivo compensa tirar esse genocida do poder, que junto com o ministro da economia, tem matado o povo a conta gotas. Já temos os maiores índices de desemprego dos últimos 20 anos, cortaram o auxílio emergencial e fazem essa política de aumento de preços monitorados pela União”, finalizou.