Cidades

'Negacionismo só prejudica a imunização'

Médico infectologista destaca que vacinação em massa é a única arma para conter a pandemia do novo coronavírus

Por Ana Paula Omena com Tribuna Independente 17/06/2021 07h50
'Negacionismo só prejudica a imunização'
Reprodução - Foto: Assessoria
Depois da chegada da vacina contra o coronavírus, grupos negacionistas que já deturpavam as notícias verdadeiras sobre a eficácia das vacinas durante anos, agora voltaram a atacar com força total. Na pandemia, as teorias conspiratórias de movimento antivacina, que nunca confiaram em comprovação científica, estão em alta. Mas, afinal, o que leva tantas pessoas a duvidarem da ciência? A última pesquisa do Datafolha realizada em dezembro do ano passado mostrou que mais de 20% dos entrevistados disseram que não tomariam a vacina de combate a Covid-19, e a maioria descartaria o imunizante da China. De acordo com o infectologista Fernando Maia, movimentos como estes prejudicam e muito a imunização contra a Covid-19 no estado e no país. “A única arma eficiente para conter a epidemia é a vacinação em massa. E as pessoas já tomam vacinas produzidas na China há muito tempo, então não há justificativa plausível para escolher a vacina”, destaca o médico. Gustavo Pagotto, doutor em Química pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), salienta que, para evitar a perda de mais vidas, a comunidade científica do mundo trabalhou incansavelmente nos últimos meses e desenvolveu, em tempo recorde, vacinas que já começaram a ser aplicadas em diversos países. “Anualmente, estima-se que cerca de três milhões de pessoas são salvas graças à imunização, ou seja, cinco pessoas a cada minuto. No entanto, com a pandemia, as teorias conspiratórias de grupos negacionistas antivacinas – que, nos quase dois séculos desde que a primeira vacina moderna foi aplicada, nunca confiaram em nenhuma comprovação científica – voltaram a atacar com força”, destaca. REDES SOCIAIS Para Pagotto, com as redes sociais como fortes aceleradoras na disseminação de desinformação, esses grupos prejudicam as já frágeis políticas públicas de combate à pandemia seguindo sua agenda para descredibilizar avanços científicos. Para o químico, se há bem pouco tempo o negacionismo científico motivava boas risadas na mesa do bar, especialmente quando representado pelos terraplanistas, desde a chegada da Covid-19, este movimento se tornou alarmante, pois agora vidas estão em jogo e pelas mãos de um agente ainda mais poderoso. Nas redes sociais não é difícil encontrar opiniões contra a vacina. Carlos Alberto, por exemplo, publicou no Instagram que não se trata de negacionismo por parte de quem não queira tomar o fármaco. “A vacina não é obrigatória, toma quem quer e isso se chama livre arbítrio”, avalia. Negação compromete medidas contra a pandemia   “O processo de institucionalização do negacionismo na figura de líderes políticos vem comprometendo a eficácia das medidas de combate à pandemia. Este fenômeno pode ser explicado através da agnotologia, que é o estudo da propagação intencional da desinformação para fins políticos e comerciais para dar legitimidade a uma determinada agenda de poder ou tirar o foco de algo. Ou seja, quando o líder de um país faz declarações sem embasamento científico a respeito da pandemia e da vacinação e seus efeitos, sua estratégia política fica evidente e, naturalmente, parte da população se sente confusa e não sabe como agir”, apontou Gustavo Pagotto. [caption id="attachment_455962" align="aligncenter" width="640"] Atualmente, há no estado 14.706 casos em investigação laboratorial (Foto: Ascom/Sesau)[/caption] Um estudo da União Pró-Vacina (UPVacina) apontou que falsos casos de mortes e teorias sem evidência científica protagonizam uma elevação de 131,5% no volume de desinformação publicada no Facebook por grupos antivacina no início da imunização contra a Covid-19 no Brasil. 257 POSTS FALSOS Para se ter uma ideia da dimensão do assunto, somente em janeiro deste ano, dois grupos disseminaram no Facebook 257 posts com dados falsos, diante de 111 em dezembro de 2020. Ormides Riba, de 67 anos, teve Covid em fevereiro deste ano e até o momento não pôde se vacinar por conta do exame de DDimero ainda não ter voltado ao normal. “Tomei durante todo o tratamento seis injeções anticoagulantes (aplicação perto do umbigo) a partir do 13° dia após minha ida ao hospital”, contou. Ela disse que já fez o exame três vezes e que está confiante para a sua vez de tomar a dose do imunizante. “Vai chegar na hora certa, eu tenho interesse em tomar a da CoronaVac, porque dá menos efeitos colaterais, uma irmã minha foi parar no hospital e meu marido ficou ruim por uma semana com a dose da AstraZeneca”, revela. Psicologia: profissionais desmistificam boatos   A psicóloga Niely Barros explicou que o papel do profissional terapêutico é importante no sentido de desmistificar boatos. Ela explicou que os profissionais da Psicologia atuam com os procedimentos de psicoeducação, desmistificando os boatos e explicando a eficácia da ciência com as pesquisas onde ocorreram vários testes. “Exatamente há um ano que a sociedade em geral sofre com o impacto da invasão do novo coronavírus (Covid 19). E a cada dia aceleram os números de pessoas infectadas e falecidos. Por ser algo novo, as pessoas desenvolveram doenças psicológicas, como a mais comum que é a depressão, que se desencadearam pelo distanciamento social, pelas orientações sanitárias e o medo”, menciona a psicóloga. A ansiedade também foi outro fator experimentado por várias idades, onde surgiu o forte desejo de uma vacina imunizante. No entanto por ainda ser algo novo, as opiniões se dividem relacionadas à eficácia das vacinas. “É preciso motivar para um novo recomeço, transmitindo segurança, e que é necessário acreditar que tudo vai passar, e que cada pessoa é responsável pelo seu próprio bem-estar e dos seus próximos”, salienta. Para a psicóloga, outro ponto a ser observado é no sentido de se fazer retrospectiva dos vírus de épocas passadas, que hoje se convive de forma tranquila devido à colaboração das vacinas.